Vinha bem, sorrindo quando necessário, distraindo-se com formigas, baratas e gramíneas ao largo das frestas das calçadas tortas das ruas estreitas. De repente viu-se em fuga desesperada pela angústia que tentava acertá-lo com uma pederneira. Sentiu o primeiro impacto ainda na faixa de pedestres, pensou em gritar, pedir socorro mas saiu o nome dela. Saiu o nome dela ... logo o nome dela ...
O carro buzinou freneticamente, a moça de batom nude o acudiu chamando-o carinhosamente, tentava animá-lo mas ali no chão, trêmulo, preferiu a morte. Mas a merda toda que ela, a morte, nunca vem quando precisa. Levantou-se no reboliço do tráfego, andou trôpego, mal conseguindo mover os membros inferiores. Puxa vida, tinha que falar o nome dela, logo o nome dela ...
Na calçada, mais calmo ou melhor, menos tenso, sentiu o golpe na memória, o adeus, as merdas todas que fez, as merdas todas que vivenciou, experenciou, e aquelas que anexou ao seu linkedin. Tinha que falar o nome dela ... puxa vida, deve haver, há de existir - quem sabe? - uma maneira de nunca mais pensar nela. Endireitou-se, retornou macambuzio {à jornada épica de nunca amais pensar nela.
Chegou em casa. e assim que fechou a porta, chorou. Chorou, chorou, chorou e ao passar a mão no bolso da camisa, sentiu um papel. Pegou, abriu, era um número de celular. Respirou fundo e ligou. Era a moça do batom nude. - Eu sei o que você está passando, disse ela, também sofro do mesmo mal. Então permitiu-se navegar por águas mais profundas e sua vida seguiu, andando a esmo e distraindo-se com formigas, baratas e gramíneas ao largo das frestas das calçadas tortas das ruas estreitas ... pensando nela ...
É isto aí!
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