O quarto não era grande, mas confortável. Tinha um corredor de 25 centímetros que era o batente que dava para a área dia. Chamava área vip de noite; área vip elegante neon nas raves. Cada cômodo tinha uma lâmpada, só podia ser uma. Todo o palácio tinha três tomadas e a chave sempre caia.
A área dava para a saída e tinha anexos peculiares, a saber: banheiro conjugado lilás; cozinha de boneca claustrofóbica minimalista e lavanderia histérica sem varal, sem janela, sem passagem para Nárnia. Havia na parede uma elegante mesa basculante, de plástico, manca.
O vizinho mal humorado da frente fez uma puxadinha para o corredor até o limite da escada. A vizinha gostosinha, do lado esquerdo, fez um anexo nos degraus da escada e alugava por um aplicativo o espaço privilegiado, com vista para a praça, banheiro privativo e área de fumante.
Um dia, digo, numa noite calma e estrelada, a vizinha gostosinha bateu na minha porta, abri e entrou chorando. Fiquei com dó, fiquei com pena, achava ela gostosinha e levou dois anos para conversarmos sobre esta situação. Ela chorou e ficou mais um tempo, e depois chorou e ficou mais outro tempo.
Mês passado ela foi embora. Chorei prá caramba. Amanhã vou mudar daqui. De madrugada ela bateu na porta, eu abro, está assustada, machucada e chorando, me abraça, diz que me ama e pronto, saí antes de amanhecer o dia para levantar recursos para a nova vida. . Não sou sentimentalista, mas ela tinha mexido comigo. Voltei de noite, ela abriu a porta, estava linda. Pedi em casamento, disse não, não, não, fez sua mala e sumiu. Nunca mais vi.
É isto aí!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gratidão!