segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

GPS celestial com software bugado.


Olhei por uma janela espiritual que criei na UTI, e conclui que devia ser umas 17 horas, eu acho, por que o sol ainda se equilibrava no horizonte e o céu alaranjava meio neon. Vi dois anjos se aproximando. Nunca vi anjos, mas intuí que estavam vindo na minha direção. Então é verdade mesmo, os anjos vêm buscar a gente, pensei. Sim e não, ecoou a resposta numa fusão tridimensional dentro da minha mente.

Entraram sorrindo, conversando telepaticamente, digo assim por que não encontrei no momento outra palavra para expressar aquilo, pois enquanto meditava sobre esta habilidade de adquirir informação acerca dos pensamentos, sentimentos ou atividades de outro ser consciente sem o uso de ferramentas da linguagem verbal ou corporal, de sinais ou a escrita, eles continuavam aproximando cada vez mais. Eram enormes, uns três metros mais ou menos.

- Venha Juquinha, saia deste corpo para se apresentar diante do Criador e peregrinar na eternidade.

- As palavras tridimensionais ganharam eco inenarrável. Custei para concatenar o nome à pessoa. Olha, acho que temos um problema - não sou o Juquinha.

- Como assim não é o Juquinha? Você não é filho do Zezé Trigo com a Magdala Cajá, nascido em Tronqueiras do Anta, em 29 fevereiro de 1956? Nosso sistema de rastreamento tem ISO INRI 33, não erra jamais.

- Podem conferir ali, na minha prancheta. Este cara não sou eu.

- Caramba. Erramos. O Chefe vai ficar furioso. Da última vez disse que se errássemos novamente, iríamos trabalhar fora dos portões da montanha sagrada, no Ante-Purgatório.

- Olha, eu posso ajudar vocês, mas sejam sinceros.

- Pode perguntar o que quiser.

- Tem jeito de ir direto, sem passar pelo purgatório, esquecendo meus ahnn, pequenos delitos capitais?

- E foi aí que deu-se um trovão assustador e uma luz projetada do infinito iluminou outra cama, ao meu lado direito. Olharam para um velhinho com certo esboço de sorriso, escondendo-se sob o lençol, Assim rapidamente o abraçaram e desapareceram na infinitude.

- Tive alta e só então descobri que o Juquinha era outro paciente, deitado ao meu lado esquerdo. GPS celestial ficou bugado, eu acho. Foi aí que tive a ideia de tatuar minha carteira de identidade no braço. E agora fico sabendo que só valerá a digital. Melhor mudar de vida ...


É isto aí!






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