sexta-feira, 19 de abril de 2024

O solteirão, a supermãe e a nora escolhida


Segunda-feira, 14março, 10 horas

Alô? É da casa da Nanda?

Não, você ligou errado.

Desculpe, eu devo ter me confundido.

Tudo bem, não se preocupe, isto acontece.


Segunda-feira, 14março, 13 horas

Alô, por favor, a Nanda...

Olha só, não é daqui, você tem certeza que ela se chama Nanda? Desculpe eu te perguntar, mas você já ligou umas dez vezes neste número.

Sim, claro que tenho. Espere, puxa vida, eu não sei o que está acontecendo, pois  já liguei neste número e sempre falei com a Nanda. Olha, desculpa mesmo. Não sei o que ocorreu.

Tudo bem, estas coisas acontecem. Pode ser que exista uma conexão. Como é esta Nanda?

Bem, ela é bonita, morena, 1,60 de altura, pesa uns 60 Kg, tem por volta de 37 anos, é advogada, divorciada, tem uma filhinha de três anos, mas, desculpe mais uma vez, eu não deveria estar falando estas coisas todas. Não entendo como liguei várias vezes para este número para falar com a Nanda. Eu peço mil desculpas pelo incômodo.

Vocês se conhecem a muito tempo?

Nos conhecemos num aplicativo de solteiros carentes, mas tudo bem. Vou checar o número, apesar de me parecer familiar. Grato, até logo.


Segunda-feira, 14março, 14 horas

Alô? É da casa da Nanda?

Flávio Renato, você é um idiota!

Espera aí, como sabe meu nome? 

Deve ser por que sou a sua mãe, em triste memória de gestação perdida para gerar um filho tão imbecil. 

Mamãe?!?! Puxa vida... mamãe, desculpa, eu não sabia, eu não deveria, eu não sei explicar esta confusão.

Não sabe uma merda. Esta Nanda deve ser mais uma destas rameiras que você paga para fingir que é homem. Em vez de casar com a Adalgiza, de quem sempre fiz gosto, vai procurar uma prostitutazinha da ralé, com filha sem pai, e ainda liga para mim achando que eu sou ela. Você é um imbecil, Flávio Renato, um idiota, um retardado, um banana, um débil mental, um fracassado...

Desculpa, mamãe, mas vou desligar, por que preciso urgentemente ligar para o meu analista.


Quarta-feira, 16 de março, 16 horas

Alô, eu queria falar com a Nanda...

Flavinho, que surpresa agradável! Sumiu, hem!! Estou sendo abandonada?

Flavinho? Ninguém me chama de Flavinho. Quem é você?

Sou eu, a Adalgiza, bem que a sua mãe falou que você queria conversar comigo, e que iria brincar de me chamar de Nanda. Alô, alô? Flavinho? Alô...


Sexta-feira, 18 de março, 11 horas

Alô, quem está falando?

É a Nanda, amor.

Você está na casa da minha mãe?

Não, amor. De onde você tirou esta ideia? Sequer conheço sua mãe. 

Meu santinhodasvertigens, está tudo rodando. Olha vou desligar, refazer minha homeostase e retorno assim que conseguir respirar novamente.


Sexta-feira, 18 de março, 12 horas

Alô! Eu quero falar com a Nanda.

É ela, amor, euzinha plena.

Olha, eu preciso fazer uma pergunta, mas seja sincera, ok?

Sim, amor, sempre sincera com você.

Por acaso minha mãe te contratou para que você me desse um telefone onde ela também atende, e que era também  o seu, para que ela me deixasse constrangido e humilhado, além de armar com uma suposta Adalgiza para falar comigo?

Eu, amor? Mas de onde você tira estas coisas?

É por que isto mexeu comigo, olha só, Adalgiza, precisamos conversar.

Amor eu sou Nanda, entendeu? A sua Nanda. 

Puxa vida, está tudo confuso. Eu posso explicar

Não precisa, amor, já entendi, esta Adalgiza é a sua via preferencial. Tudo bem, eu já desconfiava que tinha outra, e não estou com raiva. Até um dia, amor! Valeu pelas rosas!


Enquanto isto, numa rede paralela:

Alô! Adalgiza?

Nanda!? Tudo bom, amiga?

Tudo bom, querida. Deu tudo certo, pode bater que a bola está na marca do penalty, vai que é seu.

Obrigada, amiga; minha sogra vai passar aí para acertar as despesas.

Valeu, querida, foi um prazer fazer negócio com vocês.

É isto aí!

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