terça-feira, 29 de abril de 2025

O ciclo do amor dorido

o amor 
germinou 
salutar

andou
aqui, ali,
acolá

e acabou 
por falência 
múltipla

morreu
num setembro
chuvoso

sem féretro
nem carpideiras
nem nada.

É isto aí!

sábado, 26 de abril de 2025

Cartas de Amor XCII



Querida, somos argonautas dos nossos quereres,

Calma, meu bem — logo, logo explicarei todas estas viagens desbravadoras e épicas ao interior do seu interior.

Ocorreu um sonho, e nele lancei-me como um argonauta em busca da conquista do Velocino de Ouro que sabia escondido na sua alma. Sem mapas, sem estrelas, movido apenas por uma esperança cega que talvez já fosse desespero. Soube, desde o primeiro instante, que você seria minha busca — e nunca meu destino. E, ainda assim, segui navegando pelas turbulentas águas da saudade.

Cada travessia em sua ausência parecia me afastar mais do que alcançam meus olhos cansados. Seu corpo tornou-se uma ilha distante, inatingível, e eu, perdido nos mares revoltos do meu próprio coração, enfrentei — e confronto ainda hoje — as ondas que se erguem, inclementes. E mesmo sabendo que nada disso é possível, continuo a busca — diuturnamente — a velejar nas inenarráveis intempéries do mar das ilusões. Talvez, no fundo, bem lá no fundo, eu só tema o silêncio do imenso vazio que haverá ao aportar no deserto da sua existência.

É mister da minha jornada navegar pelo impossível, pelos sonhos intangíveis que se estendem além das lendas e das inquietações mitológicas que, sensíveis e alucinantes, me arrastam. Sei que é uma vida dedicada ao impossível, mas, ainda assim, persisto. Não por força, mas por uma fraqueza que me mantém permanentemente ameaçado pela deriva — como se o impossível fosse mais seguro que aceitar que, no fim desta busca, tudo fará sentido e valerá a pena.

Mas quem sou eu para reclamar dessa busca que me consome? Quem sou eu para duvidar do caminho, quando este é a minha sina e a travessia, em sua imensidão, é a minha vida? O amor que busco, ainda que distante, ainda que inalcançável, existe em mim como uma chama — não para ser apagada, mas para ser carregada, dia após dia, noite após noite, como a vela que, embora tremule, nunca se apaga.

A dor que sinto não é derrota, mas parte do vasto ser que sou — sou a busca, sou o eterno movimento, sou a maré que nunca cessa de se levantar. E, assim, mesmo sabendo que a conquista nunca haverá de ser, sei também que parte sua vive em mim, em cada respiração, em cada instante. A beleza do impossível está em ser o próprio estar — sem fim, sem limites — e em sermos um só na imensidão dos desejos.

Um cafuné no cabelo, um afago na face e um beijo apaixonado.

É isto aí!


sexta-feira, 25 de abril de 2025

Carminha e Armandinho - Sinopses II


Quando Armandinho diz:

Minha única maestria incontestável reside no não agir — não como indolência, mas como repouso no Deus de Agostinho, eco daquele "Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti". 

Pois no doce não-fazer transcendental, descubro mais que resistência: um ócio consagrado ao Divino, herdeiro daquele ócio contemplativo que, segundo o Doutor da Graça, precede a verdadeira ação — pois até o Verbo, antes de criar o mundo, repousava no seio do Pai. 

Aqui, na quietude que antecipa o Sétimo Dia eterno, compreendo que o não agir, longe de ser vão, é o gesto primeiro da criatura que, esvaziada de si, torna-se capaz de ser plenificada pela Graça, como a terra inculta que aguarda o cultivo celestial.

Na realidade ele só quer dizer: 

"A única coisa que eu sei fazer bem é não fazer nada."


Quando Carminha diz:

Saiba, querido que às vezes vem à tona do oceano das memórias um episódio que ocorreu quando tinha apenas nove anos e ouvi uma sentença condenatória pela primeira vez. Minha tia ridícula e má puxou-me pelo vestido de festa, um rosa claro que eu amava, e disse cinicamente sorrindo: "Cuidado, princesa, já está ficando ondulado no abdome. Ninguém gosta de boneca com silhueta ondulada". 

Nove Anos, puxa vida, era apenas uma criança feliz com nove anos. Naquele momento aprendi que meu corpo era um problema a ser resolvido. Que ocupar espaço era um pecado. Que eu deveria me encolher para sempre, até caber num mundo sufocante, condenatório e cruel, como uma coisa pequena, disforme e triste.

Sabe o que me assusta? Mesmo depois de tudo, dos livros, das dietas, das lutas pessoais,  ainda tem dias em que olho no espelho e só consigo pensar em qual espaço eu existo. Logo interrompo o pensamento porque, em algum lugar obscuro da minha cabeça, crenças limitantes gritam que não mereço ser amada ou ser feliz. Você me ama?

Na realidade, ela só quer perguntar:

"Amor, estou gorda?"


É isto aí!



sábado, 19 de abril de 2025

Feliz Páscoa (Nevinha Werneck)


Alto lá
Esta prosa não é minha
Confesso que copiei e colei
Autora: Nevinha Werneck

Sobre a autora: Nevinha Werneck é gente e agente das benesses humanas, mineira de Miraí, fotógrafa, poetisa, contista com livros e obras já publicadas, além de participação em eventos culturais da arte da Zona da Mata mineira.


Feliz Páscoa aos que desdobram a subjetividade, rompendo a casca do ego para deixar renascer a mulher ou o homem novo.

Feliz Páscoa aos artífices da paz que, entre conflitos, exalam suavidade, não achibatam com a língua a fama alheia, nem naufragam nas próprias feridas. E aos emotivos que deixam escapar das mãos as rédeas da paciência e nunca abandonam as esporas da ansiedade.

Feliz Páscoa aos que tecem com o olhar o perfil da alma e, no silêncio dos toques, curam a pele de toda aspereza. E aos amantes tragados pelo ritmo incessante de trabalho, carentes de carícias, que postergam para o futuro o presente que nunca se dão e agora se darão ...

Feliz Páscoa aos que ousam ser gentis e doces, sem pudor de abraçar o menino que carregam dentro de si.

Feliz Páscoa a quem abre caminhos com os próprios passos e cultiva em seus jardins a rosa dos ventos. E aos que colhem borboletas ao alvorecer e sabem que a beleza é filha do silêncio.

Feliz Páscoa aos que garimpam utopias nos campos da miséria e trazem seus corações prenhes de indignação, sem jamais olvidar o próximo como seu semelhante.

Feliz Páscoa aos que nunca fecham a janela ao horizonte, regam suas raízes e não temem pisar descalços a terra em que nasceram. E aos que se embriagam de chuvas, ofertam luas à namorada ou namorado e fazem da poesia a sua lógica.

Feliz Páscoa aos colecionadores de araucárias, que enfeitam de sonhos suas florestas e, na primavera, colhem frutos de plenitude. E aos que brincam de amarelinha ao entardecer e desconfiam dos adultos exilados da alegria.

Feliz Páscoa aos que se repartem nas esquinas, distribuem aos passantes moedas de sol e, nada tendo, nada temem.

Feliz Páscoa aos trovadores de esperanças, aos fazendeiros do ar e aos banqueiros da generosidade, que sabem tirar água do próprio poço. E aos que mantêm em cada esquina oficinas de conserto do mundo, mas desconhecem as ferramentas que arrancam as dobradiças do egoísmo.

Feliz Páscoa aos que descobrem Deus escondido numa compota de figos em calda ou no vaga-lume que risca um ponto de luz na noite desestrelada. E aos que aprendem a morrer, todos os dias, para os apegos de desimportância e, livres e leves, alçam vôo rumo ao oceano da transcendência.

domingo, 13 de abril de 2025

Oração do Espírito Santo para rezar todos os dias!

 Oração do Espírito Santo para rezar todos os dias! 🕊️ 

Ó Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, inspirai-me sempre: o que devo pensar, o que devo dizer, o que devo calar, o que devo escrever, como devo agir, aquilo que devo fazer para alcançar a Vossa glória, a salvação das almas e minha própria santificação. Amém! 

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Oração de Santa Gemma Galgani por uma graça especial

Gema Maria Humberta Pia Galgani, também conhecida como Gemma Galgani ou Gemma de Lucca 1878/1903), foi uma mística e religiosa italiana, venerada como santa na Igreja Católica desde 1940. Ela foi chamada de "filha da Paixão" por causa de sua profunda imitação da Paixão de Cristo.

Oração:

 “Eis-me aos Teus pés santíssimos, ó querido Jesus, para manifestar-te a minha gratidão pelas contínuas graças que me concedeste e ainda desejas conceder-me.

Quantas vezes te invoquei, ó Jesus, e Tu me fizeste contente.

Muitas vezes recorri a Ti e sempre me consolaste.

Como devo me expressar a Ti, querido Jesus?

Obrigado!


Ainda mais uma graça eu desejo de Ti, ó meu Deus, se for do teu agrado (mencione aqui seu pedido).

Se tu não fosses onipotente, eu não faria esse pedido.

Ó Jesus, tem piedade de mim. Que tua santíssima vontade seja feita em todas as coisas.”

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Carminha e Armandinho - Sinopses - I


Quando Carminha diz: 

Estou priorizando meu descanso para recarregar as energias e ser mais produtiva quando necessário, porque acredito firmemente que o autocuidado é um direito fundamental de todas as mulheres. Além disto, é essencial que nós, mulheres, reconheçamos a importância de cuidar de nós mesmas enquanto equilibramos nossas múltiplas responsabilidades. Ao fazer isso, não apenas reivindicamos nosso espaço, mas também desafiamos as normas que muitas vezes nos pressionam a colocar as necessidades dos outros à frente das nossas. O autocuidado é uma forma poderosa de empoderamento e resistência!

Ela só quer dizer:  

Eu não sou preguiçosa, só estou em modo econômico de energia.


Quando Armandinho diz: 

Não guardo mágoas. Há fases que enfatizam a minha capacidade humana de transformar desafios em oportunidades e de agir com generosidade. Assim, quando a vida apresenta dificuldades, tenho a habilidade de transformá-las em algo positivo. Essa transformação não é apenas um ato de resiliência, mas também uma manifestação natural do desejo humano de se conectar e se reconhecer no outro. Ao fazer isso, posso surpreender e inspirar aqueles ao meu redor, revelando que, mesmo nas adversidades, a solidariedade e a criatividade humana podem criar um impacto significativo na vida dos outros. Essa perspectiva valoriza a resiliência e a interconexão entre nós, fundamentais no humanismo, e lembra que, na busca por sentido, você será sempre o espelho que reflete minhas lutas e conquistas.

Ele só quer dizer: Se a vida te der limões, faça uma limonada...


É isto aí!

domingo, 30 de março de 2025

Cartas Avulsas XXVII



Reino da Pitangueira,
30 de Março de 2025
89.º dia do ano no calendário gregoriano.
Faltam 276 dias para acabar o ano..
Dia Mundial da Juventude.
Por do Sol às 17h49 min
Lua Crescente às 06h55 min
Estação Outono

Cartas de Outono são as mais tristes de escrever, disse uma das muitas vozes que coabitam em minha consciência etérea, equidistante da consciência telúrica que nestas horas desaparece para não se comprometer com minha realidade paralela, escondida em algum dos meus múltiplos universos alternativos.

Cartas de Outono doem feito um infinitivo flexionado no gerúndio.

Cartas de Outono doem e estimulam este substantivo abstrato que só existe na língua portuguesa, denominado Saudade.

Cartas de Outono, nesta existência em estado humano, transcendem o óbvio singular promovendo desde a perda súbita e transitória da consciência secundária à hipoperfusão cerebral difusa.

Cartas de Outono não deveriam existir. Quando assim o fazem, apresentam reclames que abatem os pensamentos com início súbito, curta duração e recuperação lerda.

Cartas de Outono me lembram que adoro o Outono, apesar desta complexidade existencial. Vou parar por aqui... como sabe, cartas de outono doem em mim.

É isto aí!



quinta-feira, 27 de março de 2025

Bilhetes Avulsos III


Li num carro que passou apressadamente por mim: "Vende-se 2018". Fiquei com aquele negócio na mente... refleti com profunda inconsciência, com a cabeça longe, muito antes de 2018 e conclui que jamais venderia um segundo sequer da minha vida, muito menos um ano...

Nisso vi, pensei, acho que ouvi também dentro de mim, que há dias que a gente permite aos seres extra-sensoriais, piramidais, estrambólicos, angelicais e miasmáticos, dentre tantos outros - já que somos muitos que nos habitam - a modelarem mundos paralelos aos que nos pertencem no que se denomina realidade, a fim de amenizar as saudades, ausências, angústias etc., já que não tem como modificá-las.

Vender um ano ... puxa vida ... trem de doido ...

É isto aí!


terça-feira, 25 de março de 2025

Laços de almas gêmeas

Laços de alma
são estas conexões místicas,
emocionais e profundas
entre duas pessoas

Por analogia,
é um emaranhamento quântico
concedendo que duas almas
estejam fortemente ligadas

Mas tão conectadas
que uma não poderia
ser corretamente descrita
sem a sua contra-parte

Mesmo que o destino
possa tê-las separado
por apenas uma vida
ou por bilhões de anos-luz.


É isto aí!


Fonte da imagem: TV Alagoas / Tecmundo

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Couraça de São Patrício - Oração de São Patrício contra feitiços e malefícios



Fonte: Aleteia do Brasil, publicado em 16/01/17

A Couraça de São Patrício trata-se de uma poderosa oração de proteção contra inimigos dos mundos físico e espiritual

De acordo com a tradição, São Patrício escreveu esta oração por volta do ano 433 para invocar a proteção divina, depois de converter com êxito, do paganismo ao cristianismo, o rei irlandês e seus súditos.

A Couraça de São Patrício

Levanto-me, neste dia que amanhece,
Por uma grande força, 
Pela invocação da Trindade,
Pela fé na Tríade,
Pela afirmação da unidade
Do Criador da Criação.

Levanto-me neste dia que amanhece,
Pela força do nascimento de Cristo em Seu batismo,
Pela força da crucificação e do sepultamento,
Pela força da ressurreição e ascensão,
Pela força da descida para o Julgamento Final.

Levanto-me, neste dia que amanhece,
Pela força do amor dos Querubins,
Em obediência aos Anjos,
A serviço dos Arcanjos,
Pela esperança da ressurreição e da recompensa,

Pelas orações dos Patriarcas,
Pelas previsões dos Profetas,
Pela pregação dos Apóstolos
Pela fé dos Confessores,
Pela inocência das Virgens santas,
Pelos atos dos Bem-aventurados.

Levanto-me neste dia que amanhece,
Pela força do céu:
Luz do sol,
Clarão da lua,
Esplendor do fogo,
Pressa do relâmpago,
Presteza do vento,
Profundeza dos mares,
Firmeza da terra,
Solidez da rocha.

Levanto-me neste dia que amanhece,
Pela força de Deus a me empurrar,
Pela força de Deus a me amparar,
Pela sabedoria de Deus a me guiar,
Pelo olhar de Deus a vigiar meu caminho,
Pelo ouvido de Deus a me escutar,
Pela palavra de Deus em mim falar,
Pela mão de Deus a me guardar,
Pelo caminho de Deus à minha frente,
Pelo escudo de Deus que me protege,
Pela hóstia de Deus que me salva,
Das armadilhas do demônio,
Das tentações do vício,
De todos que me desejam mal,
Longe e perto de mim,
Agindo só ou em grupo.

Conclamo, hoje, tais forças a me protegerem contra o mal,
Contra qualquer força cruel que ameace meu corpo e minha alma,
Contra a encantação de falsos profetas,
Contra as leis negras do paganismo,
Contra as leis falsas dos hereges,
Contra a arte da idolatria,
Contra feitiços de bruxas e magos,
Contra saberes que corrompem o corpo e a alma.

Cristo guarde-me hoje,
Contra veneno, contra fogo,
Contra afogamento, contra ferimento,
Para que eu possa receber e desfrutar a recompensa.

Cristo comigo, 
Cristo à minha frente, 
Cristo atrás de mim,
Cristo em mim, 
Cristo em baixo de mim, 
Cristo acima de mim,
Cristo à minha direita, 
Cristo à minha esquerda,
Cristo ao me deitar,
Cristo ao me sentar,
Cristo ao me levantar,
Cristo no coração de todos os que pensarem em mim,
Cristo na boca de todos que falarem em mim,
Cristo em todos os olhos que me virem,
Cristo em todos os ouvidos que me ouvirem.

Levanto-me, neste dia que amanhece,
Por uma grande força, 
pela invocação da Trindade,
Pela fé na Tríade,
Pela afirmação da Unidade,
Pelo Criador da Criação.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Mulholland Drive



Por que Mulholland Drive de David Lynch é o melhor filme do século XXI

17 de janeiro de 2025
Lucas Buckmaster


Ele intrigou muitos espectadores, mas encantou os críticos. Explicamos por que Mulholland Drive, do falecido e grande David Lynch, liderou a pesquisa da BBC Culture para encontrar os maiores filmes do século XXI.

O cinema nos primeiros anos do século XXI tem passado por uma espécie de crise existencial. Termos como "semelhante à TV" ou "televisionesco" já foram concebidos como insultos; agora, em um período que viu o renascimento e a chamada nova "era de ouro" da televisão, esse não é mais o caso. Então, se a televisão evoluiu a um ponto em que não é mais considerada uma forma de arte inferior, o que isso significa para o cinema?

Alamy A relação mutável entre Betty (Naomi Watts) e Rita (Laura Harring) está no centro de Mulholland Drive (Crédito: Alamy)Alamy
A relação mutável entre Betty (Naomi Watts) e Rita (Laura Harring) está no centro de Mulholland Drive (Crédito: Alamy)

Talvez não seja coincidência que o alucinante drama de mistério Mullholland Drive, do falecido David Lynch, tenha sido nomeado pela pesquisa de críticos da BBC Culture  em 2016 como o melhor filme do século até agora. Suas raízes estão na televisão: o filme começou como um piloto de TV fracassado e foi recuperado em formato de longa-metragem.

Mulholland Drive é um comentário brilhante sobre as maquinações de Hollywood
A própria história problemática de Mulholland Drive, e a política de estúdio e os jogos de poder retratados por Lynch no próprio filme, dificilmente parecem coincidências. Sob seu verniz onírico, Mulholland Drive é um comentário brilhante sobre as maquinações de Hollywood, pelo menos em parte informado por seus próprios infortúnios.

'Dia dos Namorados Dissimulado'
Começando a vida durante o desenvolvimento do seriado cult de Lynch, Twin Peaks, o diretor finalmente lançou uma ideia para Mulholland Drive como uma série em 1998. Ele recebeu sinal verde da rede de TV a cabo americana ABC, que esperava replicar o sucesso da série de mistério de cidade pequena do diretor.

A ABC não ficou impressionada com o primeiro episódio, que eles consideraram lento e prolongado – 37 minutos a mais para caber em um horário de TV convencional. Eles também se opuseram a várias coisas capturadas na filmagem, incluindo um close-up extremo de excremento de cachorro. No início de 2000, Lynch conseguiu resgatar o projeto ao concordar em transformar Mulholland Drive em um longa-metragem, equipado com um orçamento duas vezes maior que o tamanho original.

Alamy David Lynch dá instruções a Laura Harring e Justin Theroux no set de Mulholland Drive (Crédito: United Archives GMbH: Alamy)Alamy

David Lynch dá instruções a Laura Harring e Justin Theroux no set de Mulholland Drive (Crédito: United Archives GMbH: Alamy)

Um dos vários personagens pequenos e obscuros é o misterioso Sr. Roque (Michael J Anderson), que parece controlar Hollywood de uma cadeira de rodas em seu escritório sombrio. Uma das tramas envolve um diretor famoso (Justin Theroux) que é intimidado a escalar uma atriz principal que os poderosos querem para seu novo filme, mas ele não o faz. 

Infundindo Mulholland Drive com comentários pontuais, talvez pessimistas, sobre as forças de mercado em Hollywood, mas também enchendo-o de imagens sedutoras, Lynch criou um pacote muito atraente para os críticos. Eles podiam se perder no ambiente onírico enquanto estavam envolvidos em um exercício intelectual profundamente crítico das realidades comerciais da produção cinematográfica: uma espécie de cartão postal indireto para Tinsel Town.

Interpretação de sonhos

A personagem mais próxima de uma protagonista que Mulholland Drive tem é Betty Elms (Naomi Watts), uma atriz alegre e aspirante que chega à cidade em busca de trabalho. O sorriso despreocupado acabará desaparecendo de seu rosto. Betty conhece a bela Rita (Laura Harring), de cabelos escuros e olhos de corça, que tropeça na Mulholland Drive após sobreviver a um acidente de carro. A experiência a deixou amnésica.

Alamy A personagem amnésica 'Rita' se dá esse nome após notar um pôster do filme Gilda, estrelado por Rita Hayworth (Crédito: Alamy)Alamy

A personagem amnésica 'Rita' se dá esse nome após notar um pôster do filme Gilda, estrelado por Rita Hayworth (Crédito: Alamy)

Rita não sabe seu próprio nome. Na verdade, ela se chama de "Rita" somente após olhar um pôster de um filme antigo de Rita Hayworth, Gilda, de 1946. Sua busca para descobrir informações sobre seu passado, juntamente com a jornada de Betty para conseguir trabalho como atriz, acontece em meio a uma tapeçaria de outras histórias, que se desenrolam como vinhetas, algumas durando apenas uma ou duas cenas.

Em uma discussão sobre o melhor filme recebido pela crítica até agora no novo século, talvez insights possam ser obtidos por comparações com o melhor filme recebido pela crítica do anterior. O título que repetidamente chega ao topo ou perto do topo da lista é Cidadão Kane, a estimada estreia do escritor/diretor Orson Welles em 1941 – a pesquisa de críticos da BBC Culture de 2015 dos 100 maiores filmes americanos colocou Kane em primeiro lugar.

Se Kane pode ser visto como um ensaio sobre os detalhes básicos da produção cinematográfica – uma aula magistral em processos técnicos, da montagem ao foco profundo, dissoluções e manipulação da mise en scène – o apelo de Mulholland Drive é mais temático e conceitual. É menos uma demonstração de como o grande cinema é alcançado do que o que o grande cinema pode alcançar, sua capacidade para ideias aparentemente infinita. 

Não há explicação. Pode nem haver mistério – Roger Ebert
Os temas de Lynch são selvagens e não convencionais: sonhos materializados; bolhas de pensamento malucas trazidas à vida. Enquanto o grande filme de Orson Welles começa com um breve momento de surrealismo – envolvendo um globo de neve e a palavra enigmática "Rosebud" – mas então prossegue de uma maneira mais direta, Lynch mantém a atmosfera surreal por toda parte. Nesse sentido, Mulholland Drive continua de onde Cidadão Kane parou. 

Suas qualidades oníricas dão origem a muitas coisas confusas e inexplicáveis ​​que naturalmente encorajam a interpretação. Mas como o crítico Roger Ebert, um dos maiores campeões do filme, observou : "Não há explicação. Pode nem haver mistério."

Alamy Mulholland Drive apresenta vários interlúdios musicais memoráveis, incluindo interpretações de canções pop dos anos 1960 que, de alguma forma, conseguem ser kitsch e sinistras (Crédito: Alamy)Alamy
Mulholland Drive apresenta vários interlúdios musicais memoráveis, incluindo interpretações de canções pop dos anos 1960 que, de alguma forma, conseguem ser kitsch e sinistras (Crédito: Alamy)
O filme é, sem dúvida, desafiador. Tangentes interessantes da trama são cortadas como membros; personagens aparecem e desaparecem. No final do tempo de execução, após uma cena que parece mostrá-la acordando de um sonho, a protagonista se transforma, inexplicavelmente, da otimista Betty para uma atriz fracassada e de aparência assombrada chamada Diane. 

"Não há banda"
Mas são os pequenos momentos autocontidos que permanecem por mais tempo na memória, e que dão ao filme uma textura de mosaico. O maior deles é a famosa cena do Club Silencio, um trecho de filme verdadeiramente inesquecível. É tanto uma experiência sensorial suntuosa quanto um exercício autorreflexivo, levantando o capô do filme para que possamos inspecionar os pedaços e partes móveis dentro dele. 

Na cena, o MC de uma boate surreal sobe ao palco. " No hay banda! " ele exclama: "Não há banda". Ou seja, todos os sons que o público ouve foram pré-gravados; eles parecem reais, mas são uma ilusão. Os espectadores são, no entanto, arrebatados por uma emocionante versão em espanhol de uma música de Roy Orbison – linda, de partir o coração e hipnotizante – antes que o cantor caia morto de repente e seja arrastado para longe. 

O efeito é completa e requintadamente deslocante. Lynch evoca uma ilusão enquanto reconhece a prestidigitação necessária para nos fazer acreditar nela. A magia dos sonhos, em outras palavras, ao lado da magia dos filmes: uma forma iminentemente mais dissecável do que a outra. 

Incentivar o público a participar dessa análise – dessa dissecação – é um exercício que atrai críticos como mariposas para a luz. Há algo infinitamente fascinante em um filme que prioriza perguntas em vez de respostas, ampliando nossas expectativas sobre o que o cinema pode alcançar enquanto cena por cena também fornece uma experiência ricamente gratificante. Talvez o maior mistério de todos seja como diabos Lynch conseguiu isso. 

Este artigo foi publicado originalmente em 2016.

Dados Wikipédia

" Crying " é uma canção escrita por Roy Orbison e Joe Melson para o terceiro álbum de estúdio de Orbison de mesmo nome (1962). Lançada em 1961, foi um hit número 2 nos EUA para Orbison e foi regravada em 1978 por Don McLean , cuja versão foi para o número 1 no Reino Unido em 1980.

O cineasta David Lynch criou a cena no filme neo-noir Mulholland Drive em que Del Rio canta no Club Silencio depois de ouvi-la cantar " Llorando " em seu estúdio em casa por sugestão do agente musical Brian Loucks. Lynch então a convidou para se apresentar no filme. Lynch chamou isso de "um feliz acidente". A interpretação emocional da música por Del Rio inspirou a criação e o desenvolvimento da cena em si. Em seu livro The Impossible David Lynch , Todd McGowan descreve a performance de Del Rio com a frase "a voz como o objeto impossível". Na cena da boate, Del Rio é apresentada como "La Llorona de Los Ángeles" (Mulher Chorona de Los Angeles), que canta a música em um estupor depressivo, apenas para desmaiar no palco enquanto a música continua tocando. A crítica de cinema Zina Giannopoulou interpreta a interpretação da canção e a morte (simbólica) da cantora como um paralelo à relação entre as duas personagens femininas doppelgänger , Diane/Betty e Rita/Camilla.




sexta-feira, 7 de março de 2025

Cartas de Amor XCI



Reino da Pitangueira,
Planeta Terra&Lua,
3° do Sistema Solar,
Via Láctea, Zona Sul

Querida, nosso amor é um fenômeno farmaco-neurobiológico

Calma meu bem, calma ... isto, muita calma... deu que hoje acordei com este ímpeto farmacêutico e resolvi trazer à tona nossos vínculos quando alinhados com nossas emoções de coexistirmos.

Saiba que você fica linda quando assustada pelas palavras que guardo em sua boca. Inspire, respire, inspire, respire ... assim, bem devagar. Lembra de quando viajamos até o Rio de Janeiro e choveu os três dias? Aquilo foi tramado pela nossa alta expectativa hormonal e tratou-se de uma quebra do dorama psicofarmaceutico que a natureza impôs e não estava de acordo com a nossa conduta potencializada. Na prática, longe de ser um padrão de normalidade, é chamada de inibição por quebra de catecolaminas excitadas.

Quando penso em você e fecho os olhos de saudade, meu o cérebro libera neurotransmissores, tais como a beta-feniletilamina, este potente gatilho químico da paixão, que acelera o fluxo de informação entre neurônios; e então sou inundado pelo seu cheiro de amor.

Logo a seguir o corpo aquece, a adrenalina e a noradrenalina juntamente com a dopamina e a norepinefrina produzem em todo meu ser uma sensação de estar tonto, energizado e eufórico. Nestes dias presencio a diminuição do apetite e aparece a insônia. Daí, as serotoninas  subjacentes à paixão avassaladora liberam a censura associada a pensamentos obsessivos e ao sonhar acordado com você.

Enquanto singra lépida, graciosa, alegre, feliz e risonha pelos meus  delírios farmacocinéticos e neurofarmacológicos após a ânsia dos primeiros pensamentos, sabendo que aí dentro(do seu coração) mora um pedaço de mim, a  oxitocina, um neuropeptídeo produzido no hipotálamo, me faz sentir seu carinho, suas carícias e sua pele conjugando as nossas existências.

Querida, eu não sei não amar você! Um cafuné no cabelo, um afago na face, um beijo apaixonado e um abraço apertado.

É isto aí!

 





sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Cartas Avulsas XXVI

 

Reino da Pitangueira,

28 de Fevereiro de 2025
59.º dia do ano no calendário gregoriano.
Faltam 306 dias para acabar o ano.
Nesta data, em 1953 — James Watson e Francis Crick anunciam a amigos que determinaram a estrutura química do DNA
Por do Sol às 18h17 min
Lua Nova às 06h13
Estação Verão

Querida, temos que falar deste amor e rever nossas emoções!

Saiba que a química do amor é um fenômeno genético, neurobiológico, espiritual, adâmico, neandertal, filológico, egoísta e pan-heterodoxo, mais em função do desvio de padrões ou crenças aceitas ou recusadas, onde cada um fica no seu quadrado até que o amor aconteça. Aí, meu bem, haja o que hajar, como imortalizou-se naquela tatuagem sobressaltada de comandos cifrados e enigmáticos de causas e efeitos neurossensoriais.

A química do amor tem poder e valores fulminantes e viciantes. É plural e não permite a frenagem na aceleração dos sentimentos. Quando o amor acontece, a ladeira fica íngreme e tudo que se pode fazer é procurar manter a direção.

Saiba, meu bem, que a química do amor é uma tempestade de substâncias no cérebro. Por exemplo, a feniletilamina, também conhecida no circuito das paixões como o “gatilho químico” do querer e desejar, acelera o fluxo de informação entre neurônios, mas felizmente dura pouco, mas é tão bom que logo vicia, daí esta aflição permanente de querer a pessoa mais e mais.

Enfim, a paixão é um estado de alteração mental e física, capaz de nos embriagar, entorpecer, delirar, amar, sonhar de forma infinita enquanto dure a ação da Adrenalina, da Dopamina, Norepinefrina, Serotonina, Ocitocina, Vasopressina e tantos outros hormônios que fazem nossa vida valer a pena.


É isto aí!
Até um dia outra vez!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Bilhetes avulsos II



Era você, sempre fora você nesse pretérito mais que perfeito sem presente nem futuro e eu, aqui por todo tempo, mergulhado no imenso vazio deste hiato.

É isto aí!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Bilhetes avulsos


Esta saudade é um dos pilares da tristeza que elucida e descreve o comportamento da minha memória devido à sua ausência em escalas extremamente curtas, perpassando ora onda, ora partícula feito uma mecânica quântica inserida no presente do subjuntivo.

Por causa disto ou não, não sei, sei lá, vai saber, preciso acreditar (sempre) que minha melhor versão está no futuro e que meu melhor roteiro um dia há de ser escrito, já que minha melhor edição ainda será realizada.

Volta, vem viver outra vez ao meu lado ...

Cantor: Hélio Delmiro (RJ)
Youtube: Ed Santana

Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama?

O calor das cobertas
Não me aquece direito...
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado...

(Lupicínio Rodrigues)

 



sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Vera Cruz do Marmelar

 https://www.youtube.com/shorts/KnncB9wuPR0


Vera Cruz (também conhecida por Vera Cruz de Marmelar) é uma povoação portuguesa sede da Freguesia de Vera Cruz do Município de Portel, freguesia com 44,58 km² de área e 378 habitantes (censo de 2021), tendo, por isso, uma densidade populacional de 8,5 hab./km².

Freguesia histórica, muito antiga, que em 1257, quando D. João Peres de Aboim chegou a estas terras, possivelmente já existia o Mosteiro de Vera Cruz, o monumento mais antigo do município, que deve a sua fama à Relíquia do Santo Lenho, trazida por um cavaleiro depois da Sétima Cruzada.










sábado, 25 de janeiro de 2025

Papo de esquina - Casos de família - Janeiro 2025



01 - Tio Juquinha era um homem silente, discreto e recatado. Casado com Tia Iracema, eram o casal perfeito da família. Um dia Tio Juquinha encontrou com Laurinha no mercado municipal. Laurinha era filha da comadre Fabiana, amiga de infância de Tia Iracema. Conversaram, conversaram, conversaram e Tio Juquinha descobriu que Laurinha estava deprimida, triste e abandonada em dívidas e problemas por causa do marido George, um mané do bairro, envolvido com uma turma de atividades ilícitas.

Deu que George, vulgo Gegê do Celta, sofreu um ferimento de projéteis anônimos e já há cerca de 20 meses, três semanas e 4 dias estaca acamado sem os movimentos das pernas e do braço direito. Tio Juquinha assumiu as despesas de Laurinha e passou a frequentar a casa para dar banho e alimentar Gegê. Daí que Tia Iracema falava que era um homem santo, até que um dia ele foi e nunca mais voltou de Laurinha, que nesta época já iam mais de 180 dias de viuvez.


02 - Tio Horácio era um fanfarrão. Adorava festas, adorava abraçar mulheres, adorava a farra, as bebidas e as pescarias. Um dia saiu para comprar pão e tia Geralda achou que ele estava estranho, mas como era já meio estranho, um pouco de estranheza a mais poderia ser considerado normal. Demorou muito para voltar. Tia Geralda ligou para a polícia, as três irmãs, até para Florisvaldo, uma paixão antiga a qual guardava em suspiros dobrados num total segredo.

Deu que naquele dia Tio Horácio pegou o ônibus e seguiu para Teresina no Piauí, onde estava Maristela, uma morena discreta que conhecera na festa de noivado da sua filha. Maristela vinha a ser a prima do noivo. Foi a primeira vez que ouviu-se falar de Teresina naquela casa e depois disto nunca mais soube-se do Tio Horácio também. - Naqueles tempos Piauí era uma terra distante, muito distante e mais nada. - Daí que Florisvado passou a rodear Tia Geralda, que deu nele de cabo de vassoura com voadoras e tapas uma três vezes, então cansou e enfim permitiu-se adsorver o deleite das águas do curso do desejo.


03 - Vovô Tatá era um sujeito esclarecido, de muita leitura. Tinha assunto para tudo. Um dia seu filho Carlinhos chegou com malas e sacolas, de mudança, com Doralina, a esposa além das duas filhas lindas ainda na infância. Vovó Ditinha bateu de frente, mandou voltarem do lugar de onde vieram. Vovô Tatá defendeu a permanência até que as coisas se arrumassem. Deu que com três dias o filho esticou as pernas no mundo, e desapareceu. 

Foi em segredo para a Europa trabalhar com um amigo íntimo, numa viagem jamais combinada com a esposa. Assim que desembarcou em Paris mandou um whatsapp dizendo - "estou bem, vim para Paris trabalhar, desculpe por tudo. Depois explico" -. Seis meses depois mandou por um intermediário um envelope que continha 250 euros e um bilhete lacônico dizendo adeus e pedindo perdão. Então, numa sequencia de episódios,  Vovó Ditinha adoeceu e perdeu o gosto da vida. Daí Doralina despediu-se das filhas em segredo e também sumiu no mundo. 

É isto aí!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Cartas Avulsas XXV

Reino da Pitangueira,
22 de Janeiro de 2025
22.º dia do ano no calendário gregoriano
Faltam 343 dias para acabar o ano.
Dia da  Chegada ao Brasil, em Salvador BA, da família real portuguesa
Por do Sol às 18h35 min
Lua Minguante às 12h40
Estação Verão

Para ser lida em 22 de Janeiro de 2031

Querida, caso esta carta tenha chegado ao seu destino, quero afirmar que sinto-me feliz por você estar bem.

Há aqui neste presente de tormentas e desesperanças vários sinais de que seriam estes os famosos finais dos tempos e que este mundo seria* (lanço mão do futuro do pretérito, visto que ele não é deste mundo material, já que o que se passa - neste caso - é uma coisa atrelada à manipulação das massas) desconspurcado das carradas de loucuras e devaneios dos agentes de extermínio de todas as células vivas capazes de reprodução in vivo* (resgatando a locução que indica o modus operandi da ação adverbial explícita neste planeta.

Como deve saber, acredito que saberia ou deveria saber, creio eu, que estou a recorrer ao futuro do pretérito neste tempo verbal do modo indicativo, no intuito de fazer referências a algo malignamente malévolo que poderia ter acontecido no seu passado, ou seja neste presente ao qual lê essa missiva. Não sei o destino do bilhões de seres vivos da linhagem adâmica que faleceriam mas - Maktub - sei que ao menos os cobradores de impostos e as prostitutas os precederiam no Reino dos Céus.

Assim sendo, ao correr os olhos neste ecrã perceberá que ouso expressar incertezas, surpresas, indignações derivadas de delírios escalafobéticos de uma turba psicótica sideral promotora de ações sequenciais de caráter antibiótico. Só para registro, apesar de acreditar desnecessário, o antibiótico aqui é de cunho literal - do grego αντί - anti+ βιοτικός - biotikos, "contra um ser vivo".

O fato é que de repente, não mais que de repente, centenas de profetas, videntes, celebridades, subcelebridades, pseudo celebridades, tubers, pitonisas, levianos, gostosinhas, astrólogos e filósofos catalães de Ba car di, dentre tantos, passaram desde 1999 até a presente data a apregoar o fim da existência humana e amedrontar a todas as classes sociais, raciais, solidárias, amigas, inimigas, ricas, pobres, nobres e plebeias, considerando aqui toda a gama das classes e subclasses sociais da A à Z, do porteiro ao magistrado, dos políticos das vilas aos iluminados do senado, dos empresários ricos, pobres, médio e acomodados, dos mestres aos antípodas existencialistas, etc etc etc.

Assim o mal penetrou pelos olhos, ouvidos e gargantas profundas da choldra, da ralé, das arraias-miúdas, dos enxurros, das escoalhas, das escórias, dos escorralhos, das escumalhas, dos frasqueiros, das gentalhas, das gentinhas, das maltas, das merdalhas, dos merdinhas, das patuleias, das plebes, dos populachos, do povaréu, da rabacuada, das rafameias, da raleia, das ralés, das sarandalhas, dos sarandalhos, dos vulgachos, dos vulgos, do zé-povinho e da súcia.

Mas se você está lendo esta carta em 22 de Janeiro de 2031, fico feliz em saber que ou foi adiado ou anulado, ou suspenso o fim do mundo, para ser julgado pela segunda turma do Tribunal de Justiça sine die... sine die ...

É isto aí!

domingo, 12 de janeiro de 2025

Onde nós estamos




Em que altura da vida 
acontece a felicidade?
Em que fase da lua
resplandece a sorte?

Em qual esquina muda
encontro seu sorriso?
Onde não estaremos 
quando nos encontrarmos?

Quando e onde perdemos
nossas versões traduzidas
sem a desfaçatez única?

Anverso às faces ruins,   
É lá, no deserto da sensatez
que a guardo, para sempre.

É isto aí!