quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A bunda, que engraçada


Autor - Carlos Drummond de Andrade 


Poema - A bunda, que engraçada







A bunda, que engraçada.


Está sempre sorrindo, nunca é trágica.





Não lhe importa o que vai


pela frente do corpo. A bunda basta-se.


Existe algo mais? Talvez os seios.


Ora – murmura a bunda – esses garotos


ainda lhes falta muito que estudar.





A bunda são duas luas gêmeas


em rotundo meneio. Anda por si


na cadência mimosa, no milagre


de ser duas em uma, plenamente.





A bunda se diverte


por conta própria. E ama.


Na cama agita-se. Montanhas


avolumam-se, descem. Ondas batendo


numa praia infinita.





Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz


na carícia de ser e balançar.


Esferas harmoniosas sobre o caos.





A bunda é a bunda,


rebunda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!