Viviam aparentemente em harmonia. Ocupavam o apartamento 502 desde a inauguração do condomínio , e nunca dali saiu algum som, alguma bagunça, enfim, totalmente discretos. Nunca souberam o nome dos porteiros, zeladores, síndicos e prestadores de serviços. Raramente chegavam com compras pela garagem.
Nunca foram a reuniões, nem participaram de datas comemorativas, nem de correntes de oração, nem da festa de natal. Eram muito reservados. Nunca recebiam visitas, raramente saiam e mais raro ainda, viajavam. E não recebiam correspondências nenhuma - sequer as contas ordinárias - água, luz, telefone, gás, etc. Nada chegava para eles.
Ela, sempre séria, ainda esboçava um leve sorriso no elevador, e ele, do tipo executivo, nunca sequer olhou para algum dos moradores. Na realidade, ninguém sabia seus nomes, onde trabalhavam, de onde vieram, enfim, eram fechados em seu mundo.
14 de setembro de 2012, três horas da manhã - forte estrondo, seguido de portas batidas, baixelas ao chão, gritos, vidros quebrados, sons graves e agudos estranhíssimos, saíram do 502. Acordou todo o prédio. A sensação era de que tudo estava sendo destruído - a mulher gritava, o homem gritava e o som característico de vidros, panelas e utensílios sendo atirados com forte impacto, provocou a chamada da polícia.
Três horas e trinta e dois minutos - a patrulha sobe ao quinto andar, o sargento bate na porta e imediatamente há um silêncio gélido. Abram a porta, é a polícia. Silêncio. Bate mais forte e... silêncio. Faltando onze minutos para as quatro horas da manhã, o sargento decide ir embora, já que o motivo da sua presença ali cessara, não justificando nenhum ato coercitivo, conforme informou ao síndico que constaria no seu relatório.
27 de dezembro de 2012, nove horas da manhã - o zelador vai ao apartamento do síndico para informar que desde o dia 14 de setembro, os dois carros do 502 estão estacionados na garagem da mesma forma. O síndico pediu a análise dos filmes de segurança no quinto andar, elevador e garagem e descobriu já na segunda quinzena de janeiro de 2013, que o casal não saiu do apartamento desde aquela data fatídica. Apesar disto o condomínio e todas as outras taxas continuaram sendo regiamente pagas por débito automático.
Em abril de 2013 o síndico solicita à prefeitura a situação fiscal do imóvel e tem a informação que tudo está em perfeita ordem, inclusive o IPTU e taxa de lixo e esgoto do corrente ano foram pagos à vista na semana anterior, dentro da data limite. Mesma informação obtêm no Detran referente aos carros - tudo correto.
Em maio de 2013 o síndico consegue um mandato para abrir o apartamento. O corredor ficou lotado, tinha gente de todos os andares, além dos curiosos. O chaveiro, suando pela falta de ar e excesso de gente levou quase uma hora para romper a fechadura. Empurra-empurra, corre-corre e ... nada. O apartamento estava completamente vazio.
A polícia técnica fez a perícia, e não encontrou ali nenhuma possibilidade de ter sido habitado desde a fundação do condomínio. Aí o síndico lembrou dos carros, cobertos com lona, como sempre fizeram quando chegavam da rua. Desceram alucinados pela escada e elevadores. Foi um tumulto imenso na garagem. O policial puxou a lona do primeiro veículo, e abaixo dele o vazio, o mesmo ocorrendo com o segundo.
E você? Acha seu vizinho estranho?
É isto aí!
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