domingo, 12 de outubro de 2014

Infeliz para sempre










Quando criança, sua espontaneidade e alegria chamavam a atenção de todos do lugar. Era alegre, saltitava, cantava, brincava, tudo incansavelmente. Cresceu lendo todos os livros que pode, na biblioteca do avô e na escola.



Eis que na mocidade os pais apresentaram-lhe um franzino e estranho rapaz, primo de segundo grau, residente num vilarejo próximo. Passaram compulsoriamente das apresentações ao namoro oficial.



Nas semanas seguintes namoraram na sala, diante de vários pares de olhos, discretos ou destemperados. Achou que poderia ser feliz, de alguma forma.



Tinha desejos secretos e pessoais. O maior sonho era viajar com um grande amor, conhecer lugares e pessoas. Queria um companheiro que pudesse tocar sem pudor, morder, beijar, apertar, amassar, arranhar, virar, volver, enfim, sonhava em ser a protagonista de uma história perfeita.



O noivo era, além de tímido, uma pessoa limitada intelectualmente. Lá no fundo do coração, ainda acreditava que poderia ser feliz..





Jurava a si mesma, entre lágrimas, que não casaria com ele, mas a inevitabilidade aliada ao destino forjado, arrumado entre os pais, pessoas da mais alta casta da moral e dos bons costumes, era fatal. Passou a rezar desesperadamente para ser feliz, à sua maneira de entender a felicidade.





O pânico instalou-se sem pedir licença. Faltavam três semanas e tudo que tinha era um noivo medíocre e uma família inflexível. Sem amigas, sem um diálogo confiável com a mãe, sem segurança alguma, a tragédia era cada vez mais presencial. Não queria aquela vida, não gostava daquele lugar, não tinha nenhum sentimento nobre pelo noivo.



Sua mãe, faltando duas semanas, chamou-a para uma conversa, onde através de confissões, delegou à filha a missão de manter a integridade e a educação que recebera. Confessou que nunca beijou seu pai na boca, nunca ficou nua na frente dele, dormia no chão, quando ficava menstruada e só fazia uma única posição no ato sexual, ficando por baixo, onde era proibida de mexer e/ou gemer, e nas poucas vezes que fugiu à esta regra, apanhou do marido e do seu pai, que soube através do genro.



Naquela noite chorou. Pediu a morte, clamou pelo fim e acabou conformando-se com uma centelha de esperança de que sua mãe poderia ser apenas um caso isolado, e a felicidade seria diferente consigo. No momento certo, pensou,  saberia reivindicar seu direito a ser feliz.





Entrou na igreja usando o mesmo vestido da avó materna e foi infeliz para sempre!





É isto aí!


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