sábado, 20 de junho de 2015

Pode não ser tão simples assim

Fredo, vem aqui fora só um pouquinho... Fredo!!! - gritou Dorinha sentada na cadeira de balanço, na varanda do sobrado azul, que dava para a rua.

- O que foi, Dorinha? - berrou Godofredo Martins do banheiro enquanto ainda lia a página de esportes do jornal.

Vem cá, Fredo, é que pensei um negócio aqui.
- Pronto Dorinha, ainda enxugando as mãos numa toalha de banho verde estampada de motivos florais em laranja e vermelho.

Estava aqui meditando uma coisa sobre os tupynambás da pátria amada, vizinha aqui da Pitangueira...

- Dorinha... para com isto. Você sabe que até a televisão agora é reveladora de pensamentos para a matriz da matrix.

Ah! Fredo, só estas modernosas é que gravam a conversa dos ricos e riquinhos, e depois mandam para um lugar aí que não se sabe onde. A nossa ainda é das caixonas, Fredo, aí não tem perigo não.

- Ah, bom... Achei que você ia falar das coisas estranhas que andam acontecendo na vizinha pátria amada, disse sussurrando.

Sim e não, Fredo. Tem alguma coisa acontecendo lá que estão muito esquisitas - muito ódio, muita raiva, muita injustiça, muitas prisões estranhas e ameaças dali e daqui. Mas daquilo que a gente não vê, pode imaginar, não é mesmo?

- É verdade, daquilo que  não se vê, pode-se imaginar. Então, Dorinha, o que você está pensando? 

Ontem eu liguei para a minha prima Odete, lá de Brasília...ah! Fredo - ela falou que o que se vê é a noite e o que está acontecendo é o dia. Se você vê a dona coisa coisando com aquele gordo pode não ser exatamente o que se vê, mas pode ser o contrário do avesso.

- Nossa, Dorinha, esta sua prima Odete manja do negócio mesmo, viu?

Olha, Fredo, a prima Odete dá só um prazinho, que assim que os interesses baterem tudo volta ao que será.

- Profundo, Dorinha... muito profundo.

É isto aí!

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