quinta-feira, 30 de julho de 2015

O Corset onírico

Eu não sei o que está acontecendo, estou carente, contente e confusa, disse a mocinha com ar nobre e estampa virginal, enquanto revirava os olhos e se contorcia entre prazeres mundanos e sentimentos celestiais no sacro âmbito de deleite nupcial. Não para, não para... não... ai, que bom... ai... e acordou assustada, suada e envolta num misto de desejo e medo.

Foi para o banho trêmula e envergonhada. Nunca houve em sua vida momento que fizesse par a este sonho. Um homem na sua cama, e sobretudo nu, tocando-a e o pior, gostou daquilo. Saiu de casa direto para o Templo Salvífico, onde participava como operária da fé. Contou em detalhes toda a experiência onírica ao Mentor Espiritual. 

Ao fim da confissão, ele a repreendeu, colocou-a de joelhos diante da Altar Sagrado dos Doze Discípulos e com o Látego do Livramento, deu-lhe seis chibatadas nas costas para que o demônio saísse das suas entranhas. Experimentou dor e um indeterminado prazer com aquela situação, mas para evitar uma nova investida contra o diabo em si, revelou-se curada e livre do mal diante do Templo.

Naquela noite estava vestida de um erótico corset preto em estilo gótico e uma saia justíssima de couro, também preta, em pé sobre um tapete todo branco, bem felpudo, muito alto e macio. Aos seus pés o mesmo desconhecido abraçado às suas pernas, olhando-a com olhar de misericórdia. Vislumbrou com intensidade toda a volúpia desconhecida pela sua castidade.

Acordou toda dolorida, mas feliz. Tomou um banho relaxante, saiu de casa com um sorriso enigmático. Ao chegar no hall do edifício deparou com o novo morador, que estava chegando de mudança. Era um senhor de meia idade, elegante e muito bem vestido. O síndico apresentou-a ao novo vizinho - Chiquinha, quero que conheça o Dr. Marcos e o seu ... marido, o Claudinho. Olhou bem nos olhos do Claudinho, o herói dos seus devaneios eróticos, deu-lhe um tapa estalante - seu... seu... e saiu gritando pela avenida.

Acorda, Chiquinha, acorda... Chiquinha..., acorda...

Aos solavancos foi acordando com a visão turva em sua mãe - acorda Chiquinha... que coisa... para de dormir de barriga cheia, já falei para você. É comer e ter pesadelos. Agora levanta que está atrasada para o serviço, vamos, Chiquinha, levanta...   

Abraçou sua mãe em prantos e em soluços balbuciou... mamãe, será que um dia eu vou encontrar um príncipe encantado de verdade que queira casar comigo ???

É isto aí!

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