Seis pessoas circulavam o féretro do Doutor Juquinha, proeminente advogado da pequena e pacata Cachoeira da Curva, um distinta vila nos confins do paraíso do Reino da Pitangueira. Foi juiz de paz, escrivão juramentado, delegado, prefeito, vereador, professor, coroinha, diácono, empresário do setor de secos&molhados, conselheiro matrimonial, jornalista e procurador municipal.
Casado, pai de seis filhos, avô de treze netos e duas bisnetas, nunca foi homem de dar carinho aos seus, os filhos homens eram os meninos, as filhas - as meninas, e os netos eram netos e netas. Não sabia nomes, datas de aniversário, batizados, festas familiares, etc. Enfim, era um estranho no lar.
Quase não saia de casa, tinha poucos amigos, não emprestava dinheiro, não fazia favores, não levava recado, não participava de reuniões além da Conferência Vicentina, da qual foi presidente por 45 anos. Detestava cachorros, gatos, crianças brincando, barulho de festas e aglomerações.
Enquanto as pessoas circulavam no salão, aguardando ansiosamente o coveiro avisar que o túmulo estava pronto, discretamente permanecia sentada num banco da praça, em frente ao portão do cemitério, Verinha Couto, uma viúva prá lá de voluptuosa, de grandes virtudes e caridades na sociedade local, respeitada pela história da família e pela sua própria de ter mantido intacta toda a fortuna herdada do pai, sem permitir que o falecido marido a destruísse com mulheres, bebida e jogo.
O que jamais souberam e nunca terão o privilégio de saber é que Verinha e Juquinha foram amantes desde a mocidade dela, aos 18 anos, naquela época já trinta anos mais nova do que ele, e foi seu amante que a instruiu passo a passo como ocultar e manter a herança paterna, para desgosto e ódio do marido, que quando a par da situação, sofreu um estranho acidente em trágico passeio nunca investigado nem reclamado pelas partes.
Verinha, naquela tarde nebulosa e fria, era a única com lágrimas, discretas mas sinceras, na despedida do Doutor Juquinha.
É isto aí!
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