Joana I, Rainha de Nápoles |
Quando escuto rebuliços no longínquo reino das fadas pudicas, em Além trás-os-montes, chego a imaginar o murmúrio de moças viçosas, de origem peculiar, laureadas pela pompa de títulos demonstrados por tampinhas brilhantes estampadas no colo farto a deleitar a ternura de um astro estelar convulsionado e resplandecente.
Enquanto navego pela estrela esmaecida, em gozo pleno pelos seios fartos das moças de tampinhas no busto, passa na mente, num átimo, a possibilidade de, em nome da lei, da ética, da moral, dos bons costumes e da família, existirem plêiades de sicários diluídos por entre vales, planícies e grotas do reino das fadas pudicas, utilizando a "sica" para atacar romanos, arianos, godos, visigodos, tupys, tupynambás, bantos, celtas e demais simpatizantes de qualquer causa que não seja a sua.
Num cenário tão promissor como este, num dos meus delírios matinais, chego a contemplar que é até possível e compreensível, baseado num movimento globerg (um neo-movimento do mundo Matrix), que argutos déspotas supostamente esclarecidos, postos onde podem ser depostos, bafejem suas argutas temáticas pro-cinestéticas ou prostáticas, para uma platéia em êxtase pela disfunção ejaculatória do líder.
São nestes momentos de ternura e gratidão que inevitavelmente lembro de Joana I, a Rainha de Nápoles. É ela a causa justa do termo casa-da-mãe-joana.
Casa-da-mãe-Joana
É um lugar em que todo mundo manda e faz o que bem entende.
O rei francês, de 1285 a 1314, Felipe IV, o Belo, resolveu comprar uma briga feia:
Cobrar impostos sobre os bens da Igreja.
A discussão foi tão séria que em 1303 o papa Bonifácio VII excomungou Felipe, que, em represália e por não ser tão belo assim, mandou que um de seus nobres, Guilherme de Nogaret, invadisse a Itália e prendesse o papa.
Uma vez detido, Bonifácio VIII morreu na prisão e foi sucedido pelo Bento IX. Logo, logo, em 1305 assumia um novo papa, Clemente V, que, seguindo um gentil conselho de Felipe, transferiu a sede do papado, de Roma para a cidade provençal de Avignon.
Avignon foi residência de 7 papas, de 1309 a 1378, mas no início não era só dos papas, pertencia a uma napolitana, Joana I, rainha de Nápoles.
Linda e inteligente, Joana era mecenas de poetas e intelectuais. Ela se casou com o primo, Andrew, irmão de Luís I, da Hungria. Andrew foi assassinado numa conspiração que, dizem as más línguas, teve participação da própria esposa.
Furibundo, Luís invadiu Nápoles em 1348, obrigando Joana a se refugiar em Avignon. No mesmo ano, ela vendeu a cidade a Clemente V, com a condição de ser declarada inocente de sua participação na morte do ex-marido. Joana foi assassinada por seu sobrinho e herdeiro, Carlos de Anjou em 1382.
Enquanto ainda mandava e desmandava em Avignon, Joana resolveu regulamentar os bordéis da cidade. Uma de suas medidas foi estabelecer que todo bordel deveria ter uma porta por onde todos entrariam. Assim, cada prostíbulo ficou conhecido como “o paço da mãe” (a dona da cidade) Joana”, com o sentido de uma casa que está aberta a qualquer um.
A expressão viajou até Portugal e veio para o Brasil, onde a palavra paço, de uso pouco popular, foi logo substituída por casa.
Obs.:
As informações históricas sobre Joana e sua história foi extraída no livro “A casa da Mãe Joana – Curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas”. A obra é de Reinaldo Pimenta e foi publicada pela Campus Editora.
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