quinta-feira, 21 de março de 2024

Canção de Outono (Fernando Pessoa)

 


Este poema de  Fernando Pessoa  foi publicado em 28 de janeiro de 1922


No entardecer da terra,

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra,

Como um sonho mau num sono,

Na lívida solidão.


Soergue as folhas, e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio.

O vento vago voltou.


Fernando Pessoa

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