sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O Blend e o vento encanado

- Fulano roubou - ou cunhou? será que roubar e cunhar é igual? - meio bilhão  e rodou o mundo, disse Meirinha, enquanto lia o jornal e balançava-se na cadeira, na varanda, de frente para a roça.

- É a danada da maconha transgênica que faz isto, rebateu Juleidson, cortando a palha no canivete. Este povo fica preparando uns negócios malvados que termina num baseado no qual acham que podem fazer quase tudo.

- E aqui tem aquele outro, Juleidson, o tal galã leblon do botox, que está se esfarelando todo.

- Este aí é maconha estragada, Meirinha. Não vale a corda do cânhamo. Dobrou paciente a palha seca, curtida na sombra até ficar pronta para uso.

- Olha aqui, Juleidson, aqui no jornal tem outro moço branquinho, com cara lavada, daqueles que ganham muito dinheiro para falar bobagem só prá branco - ele falou que a búlgara está rodeando o suíço, o tal de óvisqui, troviskim, enfim, o da batina preta, para rolar um clima de amor carnal.

- Fez ouvido de mercador, deu de ombros e colocou o blend na palha em V, previamente tamisado e homogeneizado, composto de folhas secas de canhamo indiano com fumo legítimo de Ubá, uma pitada de determinada erva que era segredo de família, proibido de ser revelado, um pouco de cacau, essência de tomilho e um elemento etéreo do reino fungi, catalizador de viagens cósmicas.

- Juleidson, o dia está bonito demais hoje, não acha? Por causa de que estes bandidos roubam tanto assim do povo?

- Olhou para o céu alaranjado da tarde, apalpou o preparado dentro da palha de milho, apertando levemente com o indicador pressionando o polegar, deu uma cuspida para o lado e disse - estão todos amaconhados, Meirinha, mas de erva barata, destas de escala comercial produzidas com defensivos agrícolas e financiamento bancário. Se fosse orgânico, nada disto aconteceria.

- É, Juleidson, as notícias chegam numa rapidez, não é mesmo?

- Meirinha, por causa do que você está me rodeando desde cedo e falando destas coisas todas hoje?

- Uai, Juleidson, por nada, ué!

- Por nada? Fica aí lendo notícias, dando volta, tem mais notícia?

- Falando nisto, Juleidson, já que perguntou, a nossa filha, a Emereciana, pegou um vento encanado e deu barriga.

- Foi assim? Vento encanado?

- É, Juleidson, agora que a ciência falou que vento encanado gera energia, e a dona coisa lá, chefa de brasília revelou pro mundo, só pode ser isto.

- Meirinha, vai lá dentro e busca aquele litro de cachaça, por que vou preparar outra palha para você, para modo de nós dois entendermos destas coisas todas, e se achar aqueles dois ácidos que seu irmão perdeu num pote azul pequeno, escrito trigo integral, escondido por detrás da cômoda, traz também.

É isto aí

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