quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Eva, os iconoclastas e os enxames.

Leio blog de feministas, bem como de machistas. Não se pode perder o fio da meada. O que descobri é que feminista é feminista, e machista tem vertentes, sub-classes e divisões inferiores. Esta divisão apresenta diversas matizes, como os iconoclastas (fala sério - quantas vezes você já empregou esta palavra em alguma fala, texto ou pensamento? Eu esperei anos luz para encontrar um jeito de encaixá-la).

Aqui falo da iconoclastia (uau) no que se refere àqueles que vivem apenas para minar a reputação alheia, no caso, das feministas. Eles não tem uma ideologia formada, alicerçada em fundamentos sólidos (não aqueles sólidos residuais da maré baixa, mas os filosóficos). Apenas agridem, chutam, vociferam e isto faz deles apenas soldados desarmados em campo de batalha.

Tem os misóginos, com aversão às mulheres. É interessante notar que estes grupos são compostos por heterossexuais cisgêneros. Hã? Que negócio é este de cisgênero? Então - tem umas palavrinhas que estão entrando no nosso vocabulário tão devagar que a gente estranha pelo contexto, mas não se assusta com a grafia. Do latim, cis significa “do mesmo lado”. Cisgênero é um homem que nasceu com o sexo masculino definido e se expressa socialmente como homem (expressão de gênero), é decodificado socialmente como homem (papel de gênero) por vestir-se/comportar-se/aparentar com aquilo que a sociedade define próprios para um homem, e reconhece-se como homem (identidade de gênero), logo, é um homem (gênero). O mesmo vale para as mulheres.

Tem os fundamentalistas, e aqui a navegação é interessante - estão em todas as vocações religiosas, e neste item o sexo não importa, pois o comportamento é de enxame. Mas com subdivisões interessantes. Há enxames que fazem o enfrentamento com as feministas. Esta subdivisão tem pelo menos dois eixos: um que tem o intuito de dar visibilidade ao caráter fundamentalista de suas ações; e o outro, apregoado por forte esquema de políticas públicas de moral e civismo e pelos meios de comunicação moralistas que trabalham para que essa atividade terrorista/comunista/satânica das desviantes feministas e de todos que as apoiam sejam exterminadas para o bem da humanidade.

A outra subdivisão só tem comportamento de enxame em momentos únicos, por exemplo, quando em grupo, saindo ou entrando num evento da sua fé, e se depara com ações que vão de encontro à sua crença. Nada é fixo, nada supõe sistematização, longevidade, nem o território, pois, onde quer que estejam levam consigo sua marca; e nem mesmo há lideranças presentes.

Num outro enxame, que tomo a liberdade de denominá-lo de Enxame da Miséria Psicológica da Massa, e aqui vou dar uma esbarrada, dentro das minhas limitações psicanalíticas, na tese central de Freud sobre o mal-estar da civilização, onde há uma dimensão de conflito inerente ao sujeito em seu campo social que se presentifica em dois níveis: o da renúncia pulsional, que entendemos ser a troca "de um tanto de felicidade por um tanto de segurança" e o surgimento do que Freud chamou de "miséria psicológica da massa". Quando há uma cristalização nesse estado, "a ligação social se estabelece principalmente pela identificação dos membros entre si", e o sujeito cede a todos os ideais civilizatórios, identificado cegamente a um grupo. No estado de "miséria psicológica da massa" as singularidades são esvaziadas e submetidas a uma unificação do desejo, das escolhas, dos modos de apreender o mundo.

Já que toquei no assunto, bem, afinal o que querem as mulheres? perguntou Freud. Querem ser amadas e desejadas. Mulher gosta de se sentir única, singular, exatamente porque ela não tem uma definição padrão do que é ser mulher, e daí inventa a sua essência, não sob a óptica masculina, mas sob o seu desejo, e só a mulher tem a capacidade de fazer isto. Nós, filhos de Adão, somos retos, padronizados, torcemos pelo mesmo time, usamos a mesma roupa em várias ocasiões, tomamos a mesma marca de bebida, etc. Daí esta bronca toda. Basta elas se reinventarem que a maré sobe, como subiu no Paraíso.

É isto aí!


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