sábado, 30 de novembro de 2019

Coluna Social da Marquesa - A Festa da Ilha Azul



Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 23 março

Foi um estrondoso sucesso do Clube Real Sociedade a Festa da Ilha Azul "Fashion & light", promovida pela locomotiva Naná Vintém, crème de la crème da sociedade que interessa de fato para nós outros e talvez (o que não nos diz respeito)  para os proletários da decadente e operária civilização pitangui, quando ficam sem assunto em noites de tempestades e apagões.

Em tempo: como educada que sou, ofereço a tradução para a choldra apedeuta da palavra "Pitangui", que em tupi-guarani significa literalmente: "o rio das pitangas", e a Ilha Azul, lógico - é uma ilha - fica no rio Pitangueira, que cruza o portentoso reino governado, com magistral sabedoria, pelo nosso soberano e real monocrata  imperial, que permite civilizadamente nossa existência por estas terras.

Aqui para nós, tudo bem, tudo certo, mas chega, não é? Naná Vintém já deu tudo que tinha que dar para tudo e para todos e além disto estava vestida com uma cortina enrolada no tronco. E pelo calendário romano é da época de Locomotiva a vapor, faz muita fumaça, ocupa muito espaço, é lenta, pesada e tem pouca bagagem neste mundo high-tech, além de uns tempos para cá ter como foguistas, sempre que aparece, uns rapazinhos elegantemente vestidos na Scia do Terno.


Nota de esclarecimento - DC 24 de Março

Prezado Sr. Diretor do Diário da Cidade.
Nós, da diretoria Clube Real Sociedade, que promovemos um grande evento junto à grande mulher da sociedade regional, Dra Naná Vintém, vimos por meio desta repudiar a nota da infame coluna da Sra. Maquete, que contém inverdades, além de agredir gratuitamente a classe operária proba e honesta da nossa cidade.


Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho
Reino da Pitangueira 25 março

Gentem!! Nada como um dia após o outro. Ontem os velhinhos e velhacos do decadente Clube Real Sociedade deram de fieis depositários da moral e da ordem pública, saindo em estranha defesa prévia da cafetina mais antiga da área, que em alguns casos conheceu até a terceira geração dos rábulas ofendidinhos. Morri de medinho, ai, que dó! ai, que dó! Reparem, leitores e leitoras amigas, não omiti fatos, apenas descrevi o ambiente.

Nota de esclarecimento - DC 26 de Março

Eu estou repassando estas graves acusações levianas da Madama Maquete para que meus advogados tomem as devidas previdências.

Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho
Reino da Pitangueira 27 março

Gentem!!! Cansei destes ex-ricos. Aff.
Hoje vou falar do jantar servido na imponente mansão dos Jacatés. Mercedinha Jacaté abafou com seu vestido branco esvoaçante, com manchas exóticas e herdado da sua tia avó, Apolínia Jacaté, que usou quando era moda em 1955, desenhado na época pela estilista Vivi de Trivela, avó de Carminha Trocoly, que para a surpresa geral, arrasou de mulher para mulher com Marisa, se é que me entende.

Na mesa dos empoderados homens de negócios estava o superfantásticomáximo Jean Tyllofola, o alfa-power responsável pela serena sensação de segurança armada no ambiente, acolhendo carinhosamente ao seu lado a ninfeta supersugarbaby Pérola Plaarsten, filha do magnata do recursos maviosos, Kaká Plaarsten (maviosos - eu escrevi maviosos), um agropromoter de fogos e artifícios neurosensoriais de grande envergadura internacional. Adoro estes empresários destemidos.

Visitei o banheiro feminino da mansão Jacaté. Jacáteve muita coisa ... pelas deusas do Olimpo, aquilo era o paraíso de reabastecimento e massagem no ego e em todos os poros passíveis de acesso. Tinha de tudo, desde mocinhas e rapazinhos, até filmes da ordem das coisas inimagináveis e hoje em franca decadência com papel higiênico barato e sabonete requissona nas pias.

Num canto da sala de estar estava Madame Temalia (sem acento, corretor, não é Temália). Nossa, tenho que contar, o ambiente estava todo em neon azul, com malabaristas subindo e descendo por tecidos finos - uau. Madame Temalia, ex-tudo hoje vive de ler a mão, Tarot, íris, e em casos muito específicos lê pensamentos e prevê coisas. Temida pelos invejosos e amada pelos poderosos, não erra uma das suas maravilhosas previsões. Tudo que acontece na alta nata passa, literalmente, pelas suas mãos. Uau ... Madame Temalia canaliza Ishtar, humm, esta tenho que contar para o deleite e a delícia de ser o que é quem é da nata da sociedade.

Madame Temalia reúne o crème de la crème da alta sociedade num paiol escondido e promove o culto aos deuses com rituais Psi-Gamma. Quando canaliza Ishtar, o ritual é de caráter íntimo, digamos assim, uma vez que é a deusa da sexualidade e da fertilidade, e Ishtar faz em corpos olímpicos a libação do vinho e do mel para que os presentes possam sorver o alimento de que precisam. Assim fica garantida a libido de perpetuação do poder.

Em sociedade tudo é brilho!
Por hoje só amanhã!

É isto aí!







sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Paciência, Angústia e Tristeza




Tenho feito estudo em várias fontes para trazer à Pitangueira uma visão mais abrangente sobre a Angústia, mas não tenho  encontrado nada que seja surpreendentemente novo.

O que temos para hoje:

A Angústia é uma resposta às ações externas, principalmente a Tristeza. Sim, sei que você aprendeu o contrário, mas você nunca fica triste, a Tristeza é uma emoção que vem do exterior para dentro de você. Ela não é um sentimento.

Quando você se depara com esta energia negativa, seu corpo sofre uma alteração no seu estado físico que provoca, entre tantas outras coisas, a libertação de um hormônio: a Norepinefrina, que tem a capacidade de vasoconstrição, ou seja, reduz o fluxo sanguíneo nos órgãos vitais, diminuindo a abertura dos vasos sanguíneos. 

A Norepinefrina, é uma das monoaminas, também conhecidas como catecolaminas, que mais influencia o humor, ansiedade, sono e alimentação junto com a Serotonina, a Dopamina e a Epinefrina.

Quando este fenômeno físico acontece, há menos circulação sanguínea e mais pressão, os pulmões recebem menos sangue e diminuem o ritmo respiratório, o cérebro recebe menos oxigênio e diminui as suas funções. São estes efeitos físicos que produzem a sensação de Angústia.

Assim, sempre que o mundo exterior nos oferece uma emoção que chamamos de Tristeza, nós sentimos, percebemos, imaginamos ou vivemos uma experiência onde nosso cérebro cria um estado introspetivo para nos resguardar, que chamamos de Angústia.

É isto aí!



quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Evidências (Faz 30 anos em 2019) José Augusto e Moska ( Paulo Sergio Valle / Jose Augusto )



Compositores: Paulo Sergio Valle / Jose Augusto *

Quando eu digo que deixei de te amar
É porque eu te amo
Quando eu digo que não quero mais você
É porque eu te quero

Eu tenho medo de te dar meu coração
E confessar que eu estou em tuas mãos
Mas não posso imaginar o que vai ser de mim
Se eu te perder um dia

Eu me afasto e me defendo de você
Mas depois me entrego
Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego

Mas a verdade é que eu sou louco por você
E tenho medo de pensar em te perder
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas

E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração

Eu sei que te amo

Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo
Eu preciso do seu beijo
Eu entrego a minha vida
Pra você fazer o que quiser de mim

Só quero ouvir você dizer que sim

Diz que é verdade, que tem saudade
Que ainda você pensa muito em mim
Diz que é verdade, que tem saudade
Que ainda você quer viver pra mim

Eu me afasto e me defendo de você
Mas depois me entrego
Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego

Mas a verdade é que eu sou louco por você
E tenho medo de pensar em te perder
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas

E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração

Eu sei que te amo

Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo
Eu preciso do seu beijo
Eu entrego a minha vida
Pra você fazer o que quiser de mim

Só quero ouvir você dizer que sim

Diz que é verdade, que tem saudade
Que ainda você quer viver pra mim

Diz que é verdade, que tem saudade
Que um dia você vai viver pra mim

Diz que é verdade, que tem saudade
Que um dia você vai voltar pra mim

Leonardo Sullivan, foi o primeiro a gravar a canção antes de todo mundo. A composição, no entanto, foi descartada pela gravadora quando apresentada. A justificativa era a que a letra era “complicada” e que, por isso, jamais faria sucesso. Xororó escutou um áudio de José Augusto, em 1990, no caminho de Campinas para São Paulo - apaixonou pela música e o sucesso logo a abraçou.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

ANAVITÓRIA - Singular (acústico)


ANAVITÓRIA aka As Meninas do Tocantins

SINGULAR
(Música e letra de Ana Clara Caetano)

É tão singular
O jeito que me observa acordar
E meu cabelo não parece te assustar
Você, incrivelmente, não se importa
Se eu te chutar a noite inteira

É singular
Sua vergonha e sua forma de pensar
O teu abraço que me enlaça devagar
E enfeita todos os meus dias e horas

É tão particular o meu encontro quando é com você
O meu sorriso quando tem o teu pra acompanhar
As minhas histórias quando você para pra escutar
A minha vida quando tenho alguém pra chamar
De vida

É tão singular
A habilidade que eu tenho em montar
Um arsenal de clichês pra te cantar
Na intenção de te fazer não esquecer
Que eu nunca vou parar de te chutar a noite inteira
Mesmo se você brigar
Eu te enlaço
E não me permito soltar
Pro nosso nós não deixar de ser assim: tão singular

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Já é ano passado e eu ainda não te beijei de verdade (Paulo Abreu)

Imagem relacionada
E eu era tão absurdamente feliz 
porque tinha saudades... 
E te olhava assim 
esparramada nas minhas memórias, 
com o cabelo liso penteado
e o sorriso desarmado. 


e eu era tão absurdamente feliz 
porque eu tinha certezas
do jeito dengosamente terno 
que você me olhava
e a sua respiração calma 
e quentinha no meu abraço... 


e eu era tão desesperadamente feliz 
porque tinha boas lembranças
Dava pra passar um ano de memórias
enumerando cada coisa 
que eu gosto em você. 
Você é metade da minha história!

É isto aí!

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O homem da memória desprogramada

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Deixou a família na praia e viajou mais 300 Km até chegar sozinho na nova cidade onde iriam morar. Chegou à rua A, 56, que constava no contrato de locação, e desde já encantou-se com a casa. - Puxa, as crianças vão amar! Na manhã seguinte apresentaria na empresa e no final de semana buscaria a família para o novo lar.

Acordou cedo, viu que dava tempo, deu uma olhada melhor na casa, tudo novo e cheiroso, e a casa mobiliada, achou aquilo interessante. Tudo certo, já na porta da garagem, mas deixa eu conferir novamente. Humm, carteira, documento de identidade, cartões com data de validade em dia, cartão do convênio médico, cartão de visitas. Isto, está tudo aqui. 

Mas falta algo. O que que falta agora? Chegou à porta do carro, bateu a mão nos bolsos, ah! a chave do carro. Voltou e pegou o molho de chaves. Chegou no carro, e pensou - o que falta agora? O que falta? Falta alguma coisa. Já sei - o documento do carro.

Voltou na casa, abriu a porta, subiu as escadas e pegou o documento no criado mudo, junto com a ... carteira. Puxa vida, quase saio sem a carteira, e ei - que cartões são estes dentro da carteira? Ah! São os válidos, então os que estão no bolso são vencidos. Na dúvida levarei todos.

Saiu da casa, entrou no carro, bateu a chave - estou esquecendo alguma coisa. Mas o que? O que? Fechar a casa. Isto, esqueci de fechar a porta. Voltou à casa, a porta aberta e viu que as janelas estavam abertas. Foi até o fundo da casa e percebeu que a porta dos fundos também estava aberta. 

Fechou a porta da cozinha, colocou uma cadeira inclinada e uma cunha segurando a porta, em seguida fechou as janelas de baixo, subiu, todas as janelas estavam abertas, fechou uma a uma. Aproveitou que sentiu uma necessidade, foi ao banheiro, e depois do serviço completo tomou uma ducha rápida,  desceu as escadas, abriu a porta, certificou-se de que a trancou e ao entrar no carro, aquela sensação - o que estou esquecendo? Ah! Esqueci a torneira da pia do banheiro aberta. 

Voltou, abriu a porta, subiu a escada, fechou a torneira da pia, quando deu conta de que o ar condicionado estava ligado. Ao desligar o ar, lembrou que ligou por que estava muito quente e como ligou o ferro de passar roupa, o ar resfriou, ah! esqueceu de desligar o ferro. Desceu as escadas, foi à cozinha e fechou a torneira.

Ao sair, certificou-se três vezes de que trancou a porta da casa e o portão da garagem. Espera, pensou, já sei - foi no Padrão de luz e desarmou a chave - ufa! Foi no Hidrômetro e fechou a água da rua. Entrou no carro, bateu a chave e ao olhar para os pedais, viu suas pernas nuas, e foi descobrindo que estava nu ... tentou abrir o portão da garagem, mas estava sem energia. Desceu, a porta do carro bateu, as chaves dentro, a casa trancada. 

Correu para a casa do novo vizinho, e a vizinha o recebeu aos berros, aos gritos e à pauladas, acudida por transeuntes que o imobilizaram até a chegada da polícia e foi assim, ao chegar na delegacia, envolto num lençol surrado é que soube que aquela não era a cidade para a qual tinha mudado.

É isto aí!

domingo, 24 de novembro de 2019

Eu declaro que amo você.

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Eu, monocraticamente auto-declarado e auto-proclamado Rei deste vasto Reino da Pitangueira, que se estende até onde o pensamento alcança,  usando da atribuição que a mim confiro por todos os artigos já postados neste Reino, e

Considerando que a evolução aos tempos de paz é um imperativo da consciência universal;

Considerando que a conduta cabal de todos os povos do mundo contém preceitos tendentes a esse fim;

Considerando que a tradição moral, cívica e cultural é contrária à prática e à exploração de coisas que limitam a paz e coíbem o amor;

Considerando que, das exceções abertas à lei geral, é recorrente esta paixão assustadoramente deliciosa e enriquecedora de felicidade, da alegria, do gozo e dos bons costumes;

Considerando que a saudade é uma das legítimas concessões para a prática e permissão de poder dizer que você é meu amor, em todas as instâncias de recursos;

Considerando que o sentimento sincero permite a insistência, veemência, persistência, empenho, perseverança, determinação, firmeza, obstinação, teimosia, teima, pertinácia, contumácia e ânimo;

DECRETO:

Aos meus 86 bilhões de neurônios, declaro e determino que todos são, a partir da data desta publicação, compulsoriamente capazes de mantê-la em mim pela vida toda daqui até a eternidade, de todas as formas e maneiras possíveis, no interior do meu interior, para todo o sempre, custe o que custar.

Por ser verdade, dato e poetiso as Treze linhas para viver (ao seu lado), escritas e eternizadas por Gabriel García Márquez:

Treze Linhas Para Viver (ao seu lado)


1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo.
2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.
3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.
4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração.
5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo.
6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiveres triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo.
8. Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo.
9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheças esta pessoa saibas estar agradecido.
10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.
11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes.
12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é.
13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.


Publica-se, Registra-se e Cumpra-se

É isto aí!





Anúncio nos classificados (Clarice Lispector)



Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. 

Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. 

Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. 

Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. 

P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

** Clarice Lispector: 
Reconhecida pela crítica literária brasileira e estrangeira como uma das maiores escritoras do século XX, mudou os rumos da narrativa moderna com uma escrita singular, passando por diversos gêneros, do conto ao romance, da crônica à dramaturgia, da entrevista à correspondência e, também, pelas páginas femininas. 

Nasceu em 1920, na Ucrânia. De família judia, chegou ao Brasil com os pais e mais duas irmãs em 1922 com apenas dois anos e foi naturalizada brasileira. Formou-se em Direito, trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária com o romance Perto do coração selvagem.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Cem mil acessos



Hoje estou aqui para agradecer os cem mil acessos oficialmente registrados que acontecem nesta data. Um blog simples, só com publicações próprias e republicações, sem apelações, sem polemizar as instituições, tendo cem mil acessos.

Muito grato a você que está aqui eventualmente, você que veio sem querer, você que veio por curiosidade, você de frequência bissexta,  a você que aparece com mais frequência. Todos construíram este momento.

Continuemos para a marcha dos 200 mil acessos. 

E para aquelas pessoas que são um amor de pessoas, este blog é de vocês.

Um abraço 

Paulo Abreu

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Agenor e os escambaites da noite.

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Acordou assustado com a movimentação no estreito corredor do avião. Gritos, desespero, desordem e pavor ferviam no pânico do potente Douglas DC8, uma glória imortal dos anos 50 e 60 do século XX. Abriu a maleta, tirou um pincel atômico, desenhou uma porta na parede interna, completou com a maçaneta, abriu e pulou no imenso vazio até atingir o chão do quarto de um hotel.

Levantou assustado, olhou para a cama e duas mulheres exuberantemente lindas riam às gargalhadas e o convidavam para deitar. Nada daquilo fazia sentido. Andou assustado até a porta do banheiro, entrou com dores em todo o corpo, escorregou no piso molhado e num salto onde só via seus pés, estava num emaranhado de corredores coloridos que cortam a parte central de Delhi, na Índia, chamada de “Old Delhi”, um dos mercados mais diferentes e impressionantes do mundo, o Kinari Bazar.

Quatro homens o cercaram com imensos e coloridos lençóis enquanto um desconhecido vestia-o com um tradicional sari masculino de cerimônia religiosa de casamento. Foram entoando um mantra e girando em sua volta, sendo levado ao templo onde a noiva o aguardava ansiosamente. Ameaçado por seguranças nada amistosos, na única oportunidade de fuga que teve, a experimentou numa corrida com obstáculos, na qual tropeçou no primeiro banco, e no voo da queda, retornou ao avião.

Olhou para os lados, tudo calmo, dormiu e acordou aos berros de um monte de gente em cima dele, recebendo soco no peito, choque, e de repente viu seu corpo sendo abandonado, sofrendo todas as investidas para ressuscitar. Quando deu-se conta de que era um feixe de luz, mergulhou no espaço e bateu com a cabeça na cabeceira da cama. Acordou, esperou o mundo parar de girar, olhou as horas, levantou-se e partiu para a aventura de mais um dia no mundo, pois a da noite foi fantástica.

Na cozinha, a esposa o olhava esquisita, cara de raiva, mordendo o lábio inferior. Olhou para ela, baixou a cabeça, e quando ia pedir desculpas, ela bradou:

- Agenor, é a última vez que falo - para de tomar troca-cola de noite. Para com este negócio de refrigerante diet, light, serenight, escambaite, etcteraite. Você me deu trabalho a noite toda. Parece criança. E não tem desculpa que dá barato, por que dá é trabalho, muito trabalho.

É isto aí!

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Histórias para aquecer o coração - Você é um amor de pessoa



Reencontraram-se depois de anos. Na despedida, na falta do que dizer, para não dizer o óbvio, disse que ela era um amor de pessoa. Cerrou os lábios, olhou para o chão, cruzou a perna esquerda sobre a direita, coçou o tornozelo, procurou a saída lateral e saiu dali com o coração em desalinho.

Na saída, porta estreita em mão dupla, foi barrado pela entrada de um bando de mulheres falantes, conversando entre si e pelo celular, tudo junto e misturado, olhou para trás, os olhos deram-se as mãos, e denunciaram o amor impedido pelas circunstâncias. Ah! Meu olhos sempre foram fieis, pensou, mas desta vez descuidaram pelo capricho do destino.

Voltou, não que quisesse, mas suas pernas se moveram como se uma força de atração às colocassem em marcha. Primeiro a frase, depois o coração em desalinho, depois o olhar e agora os membros inferiores. Estava novamente no ponto de origem. Ela sorria com os olhos brilhando em festa e ele não sentia mais o corpo e nem ouvia a todos os sons do ambiente.

Eu sou realmente um amor de pessoa? - perguntou. Sim, respondeu sem conseguir esconder a emoção. Ela sorria tão lindamente, seus olhos amendoados e outrora tristes, seus cabelos lisos, sedosos, seu corpo, sua boca, tudo nela tão lindamente sensual, mantinham a magia do encantamento através dos olhares atrelados, indissolúveis. 

Levou a mão direita ao encontro da sua face - outra ação involuntária. Ela inclinou a cabeça ao afago. Rodou o polegar, estava em êxtase - e quase sussurrando permitiu que as palavras proibidas saíssem - você é o amor em pessoa, o meu amor, a única mulher que eu amo desde sempre.

Saíram, cada um para seu lado. Na ausência do abandono mútuo, cada qual escreveu um livro diferente do que estava predestinado para os dois, então aquele momento foi o melhor presente que poderiam ganhar em toda a sua vida, desde quando erraram por não se perdoarem. 

Naquele dia fatídico, ela disse - eu te amo, e ele apenas acenou negativamente, de uma forma tão idiota e tão burra que sequer falou que a amava. Nunca mais se perdoou. Se soubessem o quanto aquele dia doeria, se soubessem o quanto um nasceu para ser do outro, se amariam e seriam felizes para sempre.

É isto aí!




quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A histérica não sabe o que é ser mulher (http://luzzianesoprani.com.br)

Pablo Picasso - 1938 Portrait de femme au chapeau

A mulher histérica impacta a primeira vista pelo seu perfil: sedutora, vaidosa, extrovertida, extravagante, excêntrica e incisiva nas suas investidas. Demostrando alegria e êxtase em suas conquistas, para em seguida, machucar o sujeito o qual seduziu. Usa e abusa da sexualidade – é sexy e possessiva por natureza. Dissimula um amor romântico na busca de fama. Necessita de palco para representar a sua teatralidade. Mas, o que ela quer mesmo é fama, ser o centro das atenções, inclusive, quando se sente amargurada diante os eventos da vida.

Tudo que ela toca e faz é com muita sensualidade. Mas todo cuidado é pouco. O seu olhar, assim como a sedução sexual da qual ela se utiliza, são um engodo.  Quando ela mira a sua presa – esta o deixa perdidamente sem direção (exceto a sua própria direção). Usa o seu corpo como sua maior arma de provocação – tudo para deixá-lo envolvido e enrolado.

“A questão, justamente, é saber por que, para que uma histérica mantenha um relacionamento amoroso que a satisfaça, é necessário, primeiramente, que ela deseje outra coisa, e o caviar não tem aqui outro papel senão o de ser outra coisa, e em segundo lugar, que, para que essa outra coisa desempenhe bem a função que tem a missão de desempenhar, ela justamente não lhe seja dada”. (LACAN, 1999, p. 376)

A mulher histérica lança seu olhar fulminante e sedutor, mas, que denota também, uma carência de afeto. E mais que isso: possui em seu olhar penetrante a perdição do encantamento na fantasia dos apaixonamentos  – ela é  que podemos chamar de: “o calcanhar de Aquiles,” para a fragilidade de um homem envaidecido. Consegue deixá-lo sentir-se intensamente amado, desejado, quando na realidade, a histérica só sente amor e desejo por si mesma. A histérica é extravagantemente narcisista. Na estrutura histérica, observa-se alguns adjetivos bem demarcados: sedução, dissimulação, egocentrismo, vaidade, exibicionismo, manipulação, possessividade, dramatização, humor oscilante, precipitação e mitomania.

A histérica, na verdade, expressa o seu lado homem, no entanto, não é homossexual – da forma a qual as mulheres que desejam outras mulheres. A histérica apenas se alimenta de uma identificação imaginária com o homem para encontrar as perguntas e respostas, referente à essência da feminilidade. Assim, o ponto nevrálgico da histérica em relação a sua feminilidade é devido o luto pelo pai que não pôde lhe responder o que é ser uma mulher.

Entende-se que à mulher histérica recria um homem e o eleva a condição amo. O homem nesse caso é o significante amo na histérica, o que nos faz entender que o pai é o primeiro dos amos, sendo o pai o amo na maior hierarquia.

Na falta do homem, a mulher histérica sintomatiza e adoece, pois ela necessita do homem para realizar suas fantasias – mas em contrapartida, na presença do homem – ela se coloca numa posição em que possa manipula-lo, mostrando-lhe como um homem deve ser e agir. Pois, na verdade, é ela quem mantém as rédeas na relação.

Atenção, homem envaidecido: o amor da mulher histérica é intenso e ao mesmo tempo falso, forte e frágil, vasto e superficial – ela é imprevisível. A sua mitomania, que é um ato clássico de mentir e acreditar na própria mentira é incisivo, pois é um traço de sua personalidade muito forte.

Na histeria há uma miscelânea de fantasia e realidade, não sabendo quando uma começa e a outra finaliza. De imaginação fértil e fantasiosa, pode chegar a calúnia para chamar a atenção sobre si mesma, e sentir-se o centro do universo. A histérica costuma afirmar que o homem (vaidoso e sedutor) foi quem a seduziu, inventando histórias onde é vítima da sedução sexual.

Geralmente, diz ser perseguida pelo amigo do namorado, o parente do marido, o colega de trabalho do namorado, o namorado e/ou marido da irmã etc. Assim, engana e se engana para ser valorizada. A necessidade de público que tem o sujeito histérico é para representar, tanto para si quanto para toda a platéia, que a mesma consegue abarcar.

“Freud vai dizer que a histeria está ligada a uma fixação à fase fálica. Nesta fase, ao se deparar com a percepção de que a mãe não tem falo, o mundo da criança passa a ser dividido entre fálicos e castrados, os primeiros considerados seres superiores e os segundos, inferiores. É ao passar pela resolução do complexo edípico que a criança poderá aprender a diferença entre os sexos e dividir as pessoas em homens e mulheres”.

A histérica não sabe o que é ser mulher, mas, faz uma representação do que é ser mulher, por isso, muitas vezes demonstra um ar teatral e exagerado!

“Freud coloca que o excesso de adereços numa mulher seria uma tentativa de compensação pela sua falta de pênis. Há um jogo que se passa na falicidade, em que há uma ilusão de não estar se perdendo nada”.

“Segundo Silvia Fendrik, do ponto de vista estrutural a histeria supera o âmbito do psicopatológico para ser um modo específico de estruturação do desejo relacionado ao Édipo”.

Alguns homens, dizem preferir as mulheres histéricas, pois elas têm suas vantagens…!

Na visão lacaniana, o desejo da histérica é desejo de desejo do Outro. A histérica vive para ser desejada. Ela necessita do homem, e para isso, ela é pertinente na condição de dar-se como objeto, mas, é da natureza da histérica, sustentar o amor para depois destituí-lo e instituir Outro. Por fim, todo jogo da histérica está na sua sexualidade que envolve o Outro – explora aquele que ela dissimula amar e desejar para depois rejeitar.

FONTE:: http://luzzianesoprani.com.br/site/o-jogo-sedutor-da-histerica/

REFERÊNCIAS

O Recalque (1915) In: Escritos sobre a psicologia do inconsciente, v. 1. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

FREUD, S. A interpretação dos sonhos (1900) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de S. Freud, vol. 4. Rio de Janeiro: Imago, 1987.

ROUDINESCO; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Vende-se Tristeza em excelente estado de conservação, único dono.

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Classificados do Diário Virtual Online do Reino da Pitangueira:

- Vende-se Tristeza em excelente estado de conservação, único dono. Preço a combinar.

- Olá, eu li seu anúncio da Tristeza. Ela é proveniente do que, exatamente?

- Desculpe, mas quanto à origem, não posso revelar. É sigilo, sabe?! 

- E ela é negativa?

- Ela é muito negativa.

- E o estado de ânimo? Com está?

- Bastante diminuído, dá até dó. Era tão imponente.

- Entendo. Mas e a atividade cognitiva?

- Olha, é muito difícil até descrever. Experimentou uma redução significativa, tanto quanto a conduta pessoal; é digno de pena.

- E a reputação desta Tristeza perante a sociedade está em alta? 

- Então, apesar da má reputação que geralmente se dá a essa emoção, neste caso específico tem cumprido papéis muito importantes, inclusive mais importantes que o resto das outras emoções periféricas.

- Sério? Esta tristeza então tem um propósito de vida salutar?

- Exatamente. O propósito desta Tristeza é atuar nas situações pelas quais o portador, meu cliente,  se encontra impotente.

- Desculpe, mas pode me responder se ele está capacitado a tomar alguma ação direta?

- Não peça desculpas. Quanto mais souber, menos dúvidas. E quanto à capacidade, a resposta é negativa. Graças a esta tristeza, ele não pode e não consegue tomar nenhuma decisão sequer ou entrar em alguma ação de forma direta.

- Tem apresentado aspectos positivos?

- Olha, é incrível a forma como esta Tristeza reduziu os níveis de atividade física e mental, a fim de evitar esforços desnecessários.

- Hummm, isto em interessa. Mais alguns componentes positivos?

- Então, o que eu vou te falar tem laudo, tem diagnóstico, tem comprovação laboratorial, neurológica e extra-sensorial: Esta Tristeza, puxa vida, acho que você nem vai acreditar, mas eu vou dizer e posso provar isto -  ela tem um papel extraordinário de autoproteção.

- Nossa! Exatamente o que procuro. E qual o mecanismo neuro-fisiológico desta auto-proteção?

- Caramba, você sabe realmente perguntar sobre o produto. Esta Tristeza é a única que já vi que é capaz de gerar um filtro perceptivo que concentra a atenção em um estímulo prejudicial. 

- Só mais uma pergunta. E o mecanismo de preservação da vida?

- Você vai se apaixonar com o que eu direi - por que é o mais importante - ela empurra a pessoa a buscar apoio social, e o ajuda a sair de situações depressivas.

- Eu vou ficar com ela ... é tudo que sonhei para mim... mas, espere, ela é masculina ou feminina?

- Feminina

- Ahnnn, agradeço sua sinceridade, puxa vida, mas não quero mais.

- Mas porquê? Tristeza é tristeza.

- Eu sei, não é preconceito. Entenda, é respeito. O caso é que nossa sociedade acha que a tristeza feminina é encantadora de se olhar de longe, mas desprezível para qualquer uma que ousa senti-la. 

- Mas você será portador de uma grande Tristeza e não uma vítima ou mártir da própria miséria. Alguns ainda acreditam inclusive que as mulheres precisam ser tão fortes quanto os homens.

- Eu entendo, mas homem não chora como uma mulher. 

- Ora, ora, ora! O que esse argumento desconsidera é que o problema não está no choro, mas na representação da dor e da tristeza como fraquezas.

- Concordo com tudo que você disse, mas a minha masculinidade foi forjada num princípio de brutalidade. Não saberei comportar e suportar a dor da alma de uma mulher.

É isto aí!

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Histórias para aquecer o coração - Um amor celestial

Chegou ao Templo no início da tarde. Um calor extraordinário. Talvez em função disto a igreja estava deserta. Sentou na última fila, do lado esquerdo, contra o sol e escondido por uma imensa coluna. Numa placa na coluna consta que a igreja foi iniciada em 1789 e a obra foi concluída em 1864, restaurada em 1923, 1945 e 1970. Nas laterais, sob o piso, dezenas de sepulturas dos homens que comandaram o lugar, entre párocos, bispos e pessoas da mais alta relevância local.

Ajoelhou-se e transcendeu por um caminho nem estreito nem largo, entre dezenas de pessoas, todas reluzentes e não conseguiu, a princípio, entender a situação, mas diante do todo, deduziu que estava morto e não seria a única exceção da fila. Anjos esculturais em forma de moças, com imensas asas e uma túnica branca justa no corpo, iam orientando o bando de luz para uma gigante porta dourada no fim do caminho.

Percebeu que seus pés estavam descalços, depois sentiu que estava sem roupa sob a túnica e ao olhar para si, viu que era uma túnica verde-água larga e confortável que cobria seu corpo estranhamente mais jovem. estranhamento perdeu a noção de tempo e espaço. Ao seu lado uma moça linda e assustada olhou nos seus olhos a gritar e chorar, apontando o indicador direito para ele e cobrindo a boca com a mão esquerda. Imediatamente um rufar de asas desceu ou apareceu, e quatro pessoas aladas a levaram para algum lugar.

A imagem da moça linda ficou colada na memória. Achou engraçado. E ali não havia tumulto, nem conversas, nem nada. Todos chegavam calmamente em dezenas de guichets nas laterais do caminho, antecedendo ao grande portão. Chegou a sua vez. A atendente era uma senhora bem idosa, com cabelo azul e asas douradas. Olhou-o por cima do pincenê preto com lentes rosas, sem haste, e preso ao seu fino e delicado nariz por uma mola azul-turquesa e indagou:

- Seu nome, por favor?

- Olha, senhora, deve haver um engano, eu estava na igre...

- pluft-flash - a mulher desapareceu e imediatamente voltou ao final da fila.

Ao seu lado, novamente, aquela moça linda e assustada que começou a chorar anteriormente. Parecia calma, olhou para ele, deram um leve sorriso entre-lábios e seguiram em silêncio, não sem trocarem olhares de interesse.

Chegou novamente a sua vez. A atendente era uma mocinha bem jovem, com cabelo amarelo e asas prateadas. Olhou-o delicadamente e indagou com uma voz melodiosa:

- Seu nome, por favor?

- Olha, moça, eu não estou entendendo ... deve haver um engano, eu ...

- pluft-flash, a moça desapareceu e novamente retornou ao final da fila.

Ao seu lado, de novo aquela moça linda e assustada que começou a chorar anteriormente e  na segunda vez esforçou um sorriso. Estava calma, entreolharam-se, deram um sorriso largo um ao outro, foram se aproximando e se abraçaram demoradamente. Teve uma sensação de paz inexplicável.

Chegou novamente a sua vez. A atendente era uma mulher madura, muito linda, pele negra brilhante, com cabelo ruivo encaracolado e asas em tom pastel. Olhou-o delicadamente, sorriu, e indagou:

- Seu nome, por favor?

- Olha, dona angélica, meu nome é ... olha, antes pode me dizer o que está ...

- pluft-flash, mais uma vez a mulher desapareceu e mais uma vez retornou ao final da fila.

Ao seu lado, de novo aquela moça linda e assustada que começou a chorar anteriormente,  na segunda vez esforçou um sorriso e na última se abraçaram. Ficou muito feliz ao revê-la, aquiesceram a aproximação pelo olhar, e deram-se a uma expressão de amor universal. Abraçaram-se e beijaram tão humanamente possível com divinamente permitido. Não havia tempo nem espaço, só os dois e seus corações excitados.

Ao esgotarem a delícia do beijo, viram que estavam sós. Caminharam até um portão discreto, guardado por dois anjos gigantes, com espadas enormes. Cada um abriu uma metade e os convidaram a passar. Assim que passaram, passou um filme na memória de cada um, um zunido ensurdecedor e mais uma vez aquele pluft-flash, o clarão inexplicável, o portão fechou-se imediatamente e voltaram cada um ao seu mundo. Ele voltou à igreja e ela em coma num leito de hospital a mais de mil quilômetros dali.

46 anos se passaram. A vida cumpriu sua missão. Combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé com a qual venceu as batalhas, e  finalmente transcendeu pelo antigo caminho nem estreito nem largo, surgindo entre dezenas de pessoas, todas reluzentes. Deparou com as mesmas duas esculturais moças com imensas asas e uma túnica branca justa no corpo que iam tocando o bando de luz para uma gigante porta dourada.

Lembrou-se da moça. Procurou em volta, ela não estava. Chegou a sua vez. A atendente era a mesma senhora bem idosa, com cabelo azul e asas douradas. Olhou-o por cima do pincenê preto com lentes rosas, sem haste, e preso ao seu fino e delicado nariz por uma mola azul-turquesa e indagou:

- Seu nome, por favor?

- Fulano Tal de Tal 

- Engraçado, já era para o senhor ter entrado há 46 anos. Mas tudo bem, é raro, mas acontece. Tome seu crachá e se dirija ao portão dos Anjos.

Os anjos abriram o portão. Ela foi a primeira pessoa que o aguardava do lado de dentro. Deram-se de tal forma um ao outro que suas luzes se fundiram. Te espero aqui todos os dias, ela disse. E amaram-se ali ,de forma luminescente, nos jardins do Senhor!

É isto aí!











quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Quem está pegando a Dona Anuência?

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Do Presidente
Para o Diretor Comercial
Ilmo. Dr. Barbosa,

CONSIDERANDO que eu pessoalmente criei e presido a Comissão Administrativa de Festas e Eventos Sociais para ser o único órgão gestor de fiscalização, disciplina e orientação administrativa, moral, cívica, patriota, cultural e democrática dentro da tradição, da família, da pátria e da liberdade desta empresa;

RESOLVO:
ORIENTAR a todos Gerentes, com a minha benevolente Anuência, que identifiquem e regularizem eventuais e/ou permanentes situações que envolvam desvio da função supracitada, levando ao Expurgo imediato dos envolvidos, tantos os homens do sexo masculino bem como as mulheres do sexo feminino, para que não exerçam mais as atribuições pertinentes ao cargo que ocupam, táoquei?

Do Diretor Comercial
Para o Gerente Comercial
Prezado Sr. Lima Júnior
Prezado Senhor Lima Júnior. Leia o e-mail em anexo. Fique atento a estas festinhas entre os homens e as mulheres desta empresa, mesmo em eventos particulares, sem a benevolente Anuência do Sr. Presidente. Não serão mais permitidas, e todos os casos serão resolvidos com o Expurgo.

Do Gerente Comercial 
Para o Chefe de Divisão
Seu Oswaldo,
Estão suspensos quaisquer encontros entre os funcionários do sexo masculino e as funcionárias do sexo feminino em eventos sociais privados ou públicos sem convidar a tal da Anuência da administração. Leia o e-mail em anexo. Senão vão te mandar o tal do Expurgo (Não sei quem é.)

Do Chefe de Divisão
Para os Chefe de Seção
Carioca
Vê aí o que está rolando nas rodinhas para verificar se estão planejando festinhas sem convidar a Dona Anuência (deve ser aquela gostosona) e o Seu Expurgo (quem é esta coisinha?) da diretoria. Segue o anexo, tá ok? 

Do Chefe de Seção
Para Almoxarifado e Expedição
Olha a merda aí em anexo. Eu já avisei, eu já cansei de falar. Alguém pegou a Dona Anuência? Se pegou e levou na maciota, saiba que era cacho do Tal de Dr. Expurgo, que deve ser um daqueles aspones engomadinhos dos homens lá de cima. Para de dar festas com estas meninas da diretoria, eu falei eu ia dar merda. E sábado tem pagode na lagoa com as meninas da recepção, tudo lindinha - maravilha!!!!

É isto aí!




Alguém, ninguém e a memória do futuro

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Chegou à janela do tempo e viu o mundo diferente. Olhou para dentro, não da casa, mas para dentro de si e se percebeu perdido, triste, desolado e com medo de escolher entre o amor e a dor; entre a comodidade de um sim e a impotência de um não que nunca deveria ter dito. 

Olhou novamente a paisagem da peregrinação que fez - estava diferente - havia uma percepção nova, uma imagem, uma voz, uma palavra mal dita que ficara maldita por que o bendito não fez a leitura do futuro, fora-se. Passou anos evitando este momento, e este momento que nunca saiu da sua memória, evadiu-se levando consigo a sua dor.

O fato é que ninguém entre todos os alguéns jamais ensinara que existe um troço, uma coisa, um evento quântico denominado Memória do Futuro. Nesta coisa chamada Memória do Futuro existe um segredo, e este segredo ensina que o passado não determina o presente e nem o futuro, e apenas pode inspirar avanços ou retrocessos. Além disto, as melhores experiências já ocorridas na sua vida não se sucederam na interdependência com a abundância. 

Mas o futuro é quem detém as melhores e mais abundantes memórias, arquivadas em sonhos. Cada vez que anulamos um destes sonhos, ficamos mais presos ao passado. A dor sobrevive do passado, e o sentido da vida reluz a partir do futuro. Chegou à janela buscando algum lugar no passado e acabou por vê-la no futuro. Quase a tocou com suas mãos - eu te amo, murmurou baixinho. É tudo que sei do futuro - eu te amo! E isto faz minha jornada valer a pena a partir deste átimo.

É isto aí!



terça-feira, 5 de novembro de 2019

A idade de ser feliz (Mário Quintana)

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Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada
em que a gente pode criar e recriar a vida
à nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito, nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta
com toda disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo,
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se Presente
e tem a duração do instante que passa ...


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Cartas da Primavera

Deep Dreams (lindyginn) Tags: dreams ipad iart butterfly ethereal surreal softly girl black white bird photo i photographed vintage self portrait ginn
Deep Dreams
Prezada moça que passeia nos meus sonhos

Eu sei quem você é. Dia destes esteve no meu sonho por volta das três horas da manhã. Logo que adentrei no ambiente onírico, percebi sua silhueta e engraçado, você era feia. Sim, isto é estranho demais, sei. Você é linda e no sonho era feia. Feia, estranha, muda e com uma careta de afetação. Eu me aproximei e disse que você tinha uma careta pernóstica.

Riu absurdamente da minha percepção. E neste sorriso, sua boca se transformou numa via de acesso ao seu interior. Fui tragado pela sua inspiração, e lá dentro encontrei a você que amo. Estava linda. Era você, e ali estava etérea - não tinha mãos comuns, nem sequer braços ou pernas ou coxas ou peitos tangíveis. Você estava dentro de mim e ao mesmo tempo coexistia no meu abraço e se percebia em minha pele.

Sai do seu interior abestalhado, com gosto gostoso de ter penetrado no labirinto da sua existência. Lá fora você estava menos feia, humm, digamos que feinha, meio destrambelhada, mas o sorriso, ah! o sorriso, se pudesse descrever, se visse seus olhos como eu os guardei em mim, saberia que naquele instante você sorrindo era deliciosamente gostosa, deliciosamente deliciosa segurando minhas mãos geladas.

Estava com medo, estávamos com medo. Tremia de medo, tremíamos de medo. Decisões custam caro, custam envolver outras decisões, romper contratos ruins, abandonar espaços ruins, prejudicar pessoas boas, pessoas neutras, pessoas impessoais e pessoas descartáveis. Ali, diante do olhar do seu olhar eu tremia de medo de perder sua candura outra vez tão cedo.

Eu sei o seu nome, sei da sua boca, da sua língua, sei da sua voz, da sua alegria, eu amo você todo dia. Todos os dias, daqueles que vieram e daqueles que virão. Proporei a você no próximo sonho selarmos um acordo registrado no cartório celestial de que nunca mais nos separaremos para vivermos felizes para sempre em todo o sempre da eternidade.

É isto aí!



domingo, 3 de novembro de 2019

Discurso de Velório

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Dez horas da manhã quente e abafada do verão mais castigante de todos os tempos. Era velório do Nhô Alois Quatre-Vingts, um coronel de patente comprada, ruim que nem praga no pasto e ao mesmo tempo generoso como poucos, com os desvalidos.

Naquele dia toda a história do vilarejo conhecido como Patrimônio do Alois, perdido no interior do sertão da caatinga, tomou um rumo diferente do seu curso natural.. Começou bem, com as carpideiras se esforçando ao máximo, seguido pelo coral da Sagrada Família entoando de forma lenta e triste " Eis-me aqui Senhor! Pra fazer Tua Vontade pra viver do Teu Amor ...

A Banda Gloriosa da Ordem Terceira de Alois se colocou na estreita rua da capelinha de Nossa Senhora das Dores,onde estava a urna mortuária com o falecido. Tocou o Hino da Cidade, o Hino do Estado, O Hino Nacional, o Hino da Proclamação da República, o Hino da Bandeira e por fim, sob forte comoção, o Hino do grandioso Parreirinhas Futebol Clube, que era presidido pelo coronel, e cuja bandeira cobria o féretro.

O delegado subiu num banco da capela e com um megafone bradou: 

Eis as últimas palavras com o desejo do benemérito coronel:

Senhoras e senhores, amigos, conhecidos e curiosos, gratidão eterna por terem comparecido.

Falar de mim neste momento é enaltecer a obra de cada um dos presentes. É a certeza de que me livrei do mal de muitos e perdi a virtude de poucos.

Peço encarecidamente que só comecem as preces com o Tião Tabaco à minha direita e o Zé Frotinha à esquerda. Assim e só assim poderão dizer que morri como Jesus Cristo, entre dois ladrões. 

Já deixei autorizado para o delegado, o escrivão e o vigário para confirmar documentalmente a  quem de direito a paternidade genética e incluir no meu inventário como únicas herdeiras legítimas do meu patrimônio a Maria Ravena, filha da comadre Penha, da Maria Renata, filha da comadre Rosilda, da Maria Rita, filha da comadre Chica, da Maria Roberta, filha da comadre Cacilda e por fim da Maria Ruanda, fila da comadre Filó. 

Só Nestor Preto, marido de Comadre Rosilda, que teve as muletas roubadas para servir de ferramenta de combate, não se levantou para o alvoroçante espetáculo promovido entre todas as partes, desde a família do morto, até partidários, interessados, inimigos e as meninas privilegiadas, com tapas, empurrões, agarrões, unhadas, socos, ponta-pés, dentadas e safanões, que só cessaram quando deram por falta do corpo, desaparecido no meio da fúria. 

Como o médico estava demorando para chegar, pois morava em outra cidade, ainda não tinham o atestado de óbito, e sem corpo não tem atestado e sem atestado não tem óbito. E daí foi que ninguém quis testemunhar que o coronel estava morto de verdade

As meninas ficaram desassistidas, as comadres faladas, os compadres corneados, a família do morto perdida e para piorar, dalí a três dias, Tião Tabaco e Zé Frotinha ressuscitaram o morto e assumiram todo o patrimônio, segundo procuração que apresentaram, assinada pelo agora foragido, supostamente morando em local incerto e não sabido. 

É isto aí!

sábado, 2 de novembro de 2019

E foram nunca mais felizes outra vez!


Abriu o guarda-roupa e pegou a única roupa com a qual saiu de casa. Calçou o desgastado sapato tipo mocassim marrom sobre as meias vermelhas, a calça brim bege,  o cinto de courvin preto. Vestiu uma camiseta surrada, amarela, de malha, uma camisa verde com listras azuis e por cima um paletó de lã. Levantou-se da cama ainda confuso enquanto no celular, no despertador, escolhido por ela, Vinicius declamava o Soneto de Fidelidade.

Diante do espelho amarelado e sujo, repartiu o cabelo em uma risca e evitou redemoinhos e frizz. Com um pouco de gel nas mãos, moldou com os dedos, puxando o cabelo dividido em direções opostas. Com o pente úmido, passou na direção planejada. Esse visual caia bem em cabelos finos e médios, disfarçando as entradas.

Colocou a cadeira ao lado da porta, subiu nela, encurvou o tronco até atingir o olho mágico. Confirmou o inevitável. Ela estava no corredor aguardando a sua passagem. Sem ruídos foi até a janela e voltou pelo menos umas três vezes, só para ver o que já sabia - os pais dela estavam na rua.

Foi ao banheiro, sentou no vaso umas muitas vezes, levantou, abriu o enxaguante bucal, que estava quase no fim, colocou cerimonialmente num copo de extrato de tomate, completou com dois dedos de água para render, enxaguou a boca vigorosamente, passou o dedo indicador em todos os dentes, e em seguida deixou as lágrimas virem à borda dos olhos. Lavou o rosto, deu um tapa em cada face, falou uma voz de comando, e decidiu o que fazer.

Voltou à porta, respirou fundo, bateu a chave e saiu. Já levantara a mão para explicar a desculpa que poderia corrigir tudo, mas ela não estava mais. Desceu os dois andares, na estreita escada, tenso e amedrontado. Ganhou a rua e ninguém mais o esperava. Fez sinal para o coletivo, desceu no centro, mas aquilo não estava certo.

Voltou ao apartamento, sentou na portaria e ali ficou a esperar que ela regressasse. Foi na casa onde tentaram ser pessoas normais em condições normais, e estava fechada para alugar, perguntou aqui e ali e nada. 

Só então descobriu pela dor da ausência que ela era o seu único grande amor. 

E foram nunca mais felizes outra vez!

É isto aí!