Tristeza deveria ser uma coisa boa, destas que guardam e aguardam a felicidade que a sucederá, mas a danada é causa perdida. Fica ali, feito uma seiva presa ao tronco da árvore. Faz parte da árvore, mas está externada, faz parte do exterior, mas está incrustrada. Tristeza deveria ser uma coisa diferente, sei lá o que.
Dicionários praticamente copiam e colam a mesma definição - tristeza faz parte das seis emoções básicas que todos os seres humanos têm, sendo as outras: medo, felicidade, repulsa (nojo), surpresa e raiva. Estar triste é caracterizado por ter baixa autoestima, sentimentos de solidão, culpa, cansaço, angústia ou dor.
Como uma coisa destas pode ser caracterizada por ter baixa autoestima? A autoestima é uma avaliação subjetiva, e refere-se à qualidade de quem se valoriza, se contenta com seu modo de ser e demonstra, consequentemente, confiança em seus atos e julgamentos. Como se perde a autoestima estando triste, se uma é subjetiva e a outra é tangível? Eu posso ter auto estima e estar triste por uma ação externa - e na maioria das vezes a ação é externa, e desta forma não deixo de ser eu para estar triste. Se for assim, não é de tristeza que estamos falando.
Quanto aos sentimentos de solidão, engraçado isto, como sentir solidão fosse algo capaz de atrair a tristeza. Existem pessoas que são solitárias e felizes e outras sociais e infelizes. Mas Infelicidade não é Tristeza, infelicidade é uma merdinha de ato presente, não está no passado nem no futuro, está no agora. Estar infeliz é estar triste? Diria que são amigas, mas destas que se relacionam bem, mas não necessariamente juntas.
É isto aí!
Abaixo, Carta da grande e ímpar Fernanda Young, que guardei num canto da memória e lembrei enquanto escrevia sobre este tema
De Fernanda Young (1970/2019)
Para a Tristeza
Companheira, sei que você vai chorar quando ler esta carta. Vai ser difícil para mim, pois me acostumei à sua presença, porém não vejo mais motivos para continuarmos juntas.
Perdi anos de minha vida ao seu lado, tristeza, acreditando que o amor não existe e o mundo não tem jeito. Você é péssima conselheira.
Chegou a hora de dar chance à alegria, que há muito tem mostrado interesse em passar um tempo comigo.
Desde criança, abro mão de muita coisa por você. Festas a que não fui porque você não me deixou ir, paisagens lindas nas quais não reparei porque você exigiu de mim total atenção.
Quero de volta meus discos de dance music, que você tirou da prateleira. E minhas roupas estampadas, que sumiram do meu armário depois que você se instalou aqui.
Quero ver a vida por outros olhos, que não os seus. Quero beber por outros motivos, que não afogar você dentro de mim.
Como disse Lulu hoje de manhã no carro a caminho do trabalho: Não te quero mal, apenas não te quero mais.
Fernanda Young
Gratidão, Fernanda Young, por me lembrar que "não te quero mal, tristeza, apenas não te quero mais".
Vai passar!
É isto ai!
Fonte da Foto - Pinterest
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Gratidão!