“O ciúme é gerado entre aqueles que se amam, do ar que passa, do sol que toca e até mesmo da terra em que se pisa.” Miguel de Cervantes
É difícil pensar em algum ser humano que não tenha sentido ciúme alguma vez na vida. É quase impossível passar pela vida sem ter experimentado a picada da inveja ou a tempestade das suspeitas amorosas. Às vezes de forma muito intensa e outras vezes nem tanto. É um sentimento que significa o medo de perder o ser amado ou o medo de sofrer uma ferida narcisista.
A origem da palavra ciúme em português, derivada do grego "zelus", transformada em "zelumen" no latim, faz pensar, como disse Santo Agostinho, no século XIV, "Qui non zelat non amat" (Quem não sente ciúme não ama).
A palavra alemã para ciúme é Eifersucht e significa, literalmente, vício (ou doença) que arde. E parece ser assim que este sentimento se manifesta: uma dor que aperta o coração e causa tanto dissabor em uma relação afetiva.
A ameaça a si mesmo, verdadeira ou não, gera a resposta fisiológica habitual às situações de agressão comuns no estado de estresse. O curioso no sentimento de ciúme é que se trata de um conflito absolutamente intrapsíquico, cuja característica fundamental é a disfuncionalidade do sentimento, pois, por definição, baseia-se exclusivamente na fantasia do ciumento, derivada de alterações competitivas em seu "mundo interno".
Sob a visão psicanalítica, é o "Complexo de Édipo" e o "Complexo de castração", fase que não está associada necessariamente, como pensava Freud (1984), a questões sexuais, e pode significar a angustiante sensação de exclusão e solidão existencial.
Pensando mais no conceito freudiano de "fixação", podemos considerar que a pessoa que não conseguiu ultrapassar estas fases de desenvolvimento a contento ficará como que aprisionada em suas experiências primordiais e, portanto, facilmente vítima de regressões transferenciais em situações de ameaças reais ou imaginárias.
Assim, estas pessoas, quando adultas, ao estabelecerem uma relação afetiva, tenderão a propor inconscientemente uma relação de simbiose, de dependência com o outro, na qual a simples ideia de separação ou de intromissão de uma terceira pessoa é extremamente ameaçadora, gerando a angústia básica que caracteriza o ciúme.
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