quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O sagrado das vidas (Paulo Abreu)

 


Quadro da (grande) artista plástica (brasileira) Tarsila do Amaral, em 1933 - Operários


o céu entardece esmaecido
as noites adormecem tristes 
as pessoas fingem com medo
e toda a natureza lacrimeja em vão

enquanto aranhas tecem
formigas marimbondos abelhas padecem
e o fogo funerário alcança a onça
a sabiá e o mico leão 

chamas cretinas e assassinas
deslustram o sagrado das vidas 
padecem centenas de milhares de risos,
dos cantos, dos ritos, dos desiguais

das sépalas, folhas e flores 
verdes, vermelhas, brancas
azuis, amarelas, pardas
negras, multicores gerais

Em breve, muito em breve
saberemos onde vai dar este rio
que nos leva correnteza abaixo
cada um com sua cara máscara 

cada qual com suas  faces divididas
em dívidas financeiras ou morais,
agarrados às suas tábuas tortas
esperando uma salvação

mas aí não restarão mais margens 
não teremos mais rios
nem peixes, nem desertos
nem flores, nem nada, babacas.

É isto aí!

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