sábado, 30 de janeiro de 2021

A mulher desmedida

 

Fonte da imagem: USP

Quando entrou em casa percebera o inusitado fato de que não estava na sua casa. Ficou confuso, desorientado e deu dois passos para trás, abriu a porta, saiu e fechou-a sem bater. Ainda de costas para a rua, foi girando sobre seu próprio eixo comedidamente, em movimentos bem lentos, enquanto petrificado podia verificar que não estava mais na sua rua.

Dirigiu-se ao carro azul, que comprara em 96 parcelas, das quais já pagara seis. Experimentou a chave uma, duas, três e muitas outras vezes, e o carro não abriu. Deu de verificar a placa, era outra placa. Mão no queixo, indicador atravessando a boca, contemplou o impossível diante de si.

Apalpou-se nervosamente para verificar se estava num sonho, talvez num projeto experimental ultrassecreto do poder oculto internacional, de quem ouvira falar. Só então percebeu que estava nu. Olhou-se até os pés, rodou o tronco, curvou a cabeça e verificou in loco que estava sem nada a não ser a si próprio.

Deu-se conta da solidão com ares variando de perdido à confuso. Começou  fazer pequenos exercícios de memória, mas não lembrava mais seu nome. Só o nome de uma mulher linda lhe vinha à mente. Não apenas o nome, mas toda a memória do seu corpo, seus cabelos, sua boca e seu perfume. 

Olhou para o céu, abriu os braços e começou a questionar aos anjos que por ali sobrevoavam, sobre as medidas corporais dela, pois no seu raciocínio lógico, naquele instante, somente estes dados seriam de suma importância para desvendar aquele mistério no qual mergulhara.

Começou a chorar em desconsolo Deitou num canto da cerca viva que separava as casas e dormiu. Acordou num ambiente de luz, sem definição de espaço e tempo. Sentia dores e desconforto. Alguém segurava a sua mão. Era a mulher desmedida. Olhou para ela, sorriu e voltou a dormir. 

Acordou numa casa de barro e forro de palha, simples e espartana. Estava numa cama estreita, colchão de palha e  travesseiro de paina. Sorriu, levantou, tomou um café frio e partiu no mundo buscando perguntas para as respostas que agora, sabiamente, poderia dar.

É isto aí!


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