segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A semeadura já está dando colheita - Cenas do 21


- Estou na feira, na fila, para pesar e pagar. Na minha frente uma senhora, com aparentemente 35 anos, bonita, de camiseta e bermuda curta, mas nada fora dos padrões. A mulher do caixa pergunta como ela está. A senhora bonita põe as sacolas no balcão, a mão na testa e fala que agora sim está começando a sentir o gosto da vingança. 

A mulher do caixa se interessa pela narrativa, fecha e chaveia o caixa e indaga com os olhos. A senhora bonita disse que destruiu a poupança do ordinário, para que ele não fique com nada a não ser com as dívidas do financiamento do carro - ele que se vire com aquele vadia. Vagabundo. Fui no banco e transferi tudo, era conta conjunta. Gastei todo o dinheiro com a cozinha, comprei uma copa nova, comprei aparelho de jantar completo, baixela, faqueiro daqueles bonitos, esteira de exercícios, roupa de cama, roupa para mim e celular bacana para mim e para as crianças...ah, e duas televisões imensas, uma para meu quarto, lógico (sic). 

A mulher do caixa ficou com aquele olhar de divagação, sem saber o que dizer, uma vez que a senhora bonita estava espumando ódio, muito ódio. Eu odeio ele, eu odeio aquela vagabunda. Agora quero que se vire para pagar as prestações do carrinho onde leva aquela puta, por que o apartamento aqui nem pensar, e ainda tem a pensão. Meu advogado falou que vai apertar até a última gota. Assinou a notinha e partiu.

- Estou no supermercado. Na minha frente um deficiente físico num andador e uma idosa ao seu lado. Espero pacientemente para atravessarem o corredor para que eu também possa prosseguir com a compra. Atrás de mim, uma senhora com dois filhos adolescentes, falando alto sobre lerdeza, velhice, etc. E empurrando o carrinho para que eu apressasse o passo.

- Estou parado na faixa de pedestres, numa avenida de pista dupla. Aguardei até que uma boa alma parasse para atravessar em segurança. Quando o carro da direita deu sinal de que eu poderia atravessar, atrás dele um senhor de idade aparentemente igual à minha, fez uma manobra rápida para a esquerda, passou xingando o motorista com vitupérios e insultos os mais diversos e acelerou na minha direção, com gestos nervosos na mão que segurava o celular.

Esta nação está colhendo tudo que plantou - já profetizava Pero Vaz de Caminha.

É isto aí!

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