Dias depois, um senhor na minha frente, na fila do supermercado, virou-se para mim, mediu meus cabelos brancos e meu olhar míope e desabafou - sabe, perdi a libido nestes últimos doze meses, não consigo fazer mais nada, nem com estímulo destes medicamentos milagrosos. Olhei para aquele homem se lamentando e me recordei das muitas vezes que o vi com muitas mulheres, que não a do lar. Apenas acenei com a cabeça, numa negativa de concordância, com aquele olhar de solidariedade antagônica.
No dia seguinte, na padaria, cumprimentei educadamente a senhora de vestido azul, surrado, que estava ao meu lado escolhendo os pães. Deu dois suspiros em falsete, olhou para mim e desabafou - queria tanto que tudo isto acabasse para ver meus filhos e netos de volta à minha casa. Estive para falar que conheço os filhos, moram na cidade vizinha e jamais vieram visitá-la em quaisquer datas importantes, incluindo as festivas. Quantas vezes fui em solidariedade assoprar as velas junto com ela nos seus aniversários solitários?!?! Preferi deixar que a ilusão a faça esperançosa.
Tempos de reflexão são sempre difíceis, porque olhar para dentro de si dói; dói muito!
É isto aí!
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