Lembrou do dia que deu a ela uma maçã grande, saborosa e vermelha. Ela olhou para a maçã com os olhos de Eva e mordeu os lábios. Sem saber o que falar diante de uma situação inesperada onde a outra parte fez o que desejava, mas não acreditava que fosse possível, olhou-a no fundo os olhos e lascou a pergunta mais idiota que poderia sair de uma mente débil:
- Você sabia que a maçã é um pseudofruto e por isto seu desenvolvimento dá-se num tecido vegetal adjacente à flor que sustenta o fruto, de forma que este se assemelhe em cor e consistência a um fruto verdadeiro que, por definição, é proveniente do desenvolvimento do ovário?
A moça, tomada pela fúria da sororidade ovariana, em completa desolação, fulminou-o com os olhos envenenados pela maçã, deu meia volta e a levou. Nunca soube se ela ao menos dera uma mordida. E ele ficou lá, como um descendente adâmico, a culpá-la por tudo que se deu depois que sumiu no caminho inseguro do destino.
Checou no relógio da torre da igreja e viu que o tempo transgredira a lei da obviedade. Passaram trinta anos e ainda aguardava a volta da moça com a maçã na mão. Colocou as mãos no bolso da blusa, encolheu os ombros e partiu na esperança de encontrar outro amanhã.
É isto aí!
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