segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Papo de esquina o Caso da Velha do Lado

Lembrei de outra lenda da Pitangueira, inexoravelmente o maior caso de mistério e suspense deste Reino, com provas materiais e testemunhais.

Falando desta maneira, você, só pode estar se referindo ao caso da Velha do Lado.

Exatamente! A Velha do Lado.

Sabia que ela era feiticeira? Dizem até que tinha pacto e relacionamento íntimo com coisas ruins.

Isto não é verdade. Ela era uma mulher muito boa, muito atenciosa, a questão é que as pessoas tendem a julgar os diferentes com certa precipitação.

Diferentes? Como assim?

Eu fui criado na casa ao lado deles, do seu Lado e dela, a Dona Lada. Ela veio refugiada ainda criança, do leste europeu, cresceu num gueto com os parentes, até que o pai morreu e a mãe veio parar aqui, onde poderia cria-la com mais liberdade.

É mesmo, você cresceu no Córrego da Porta, onde ela sempre morou. Tinha esquecido isto. 

Sim, ela sempre foi uma pessoa fantástica, conhecedora profunda de ervas medicinais, fazia fila na porta da casa dela. Minha família sempre levou todos nós para tratar febre, caxumba, sarampo, quebranto, mal olhado, espinhela caída, lumbago e um monte de coisas do mundo espiritual.

Rapaz, sabe que eu nunca soube disto?

Pois é, e ainda era minha madrinha.

Mas e aquele negócio de falar línguas estranhas?

Tem nada disto. Ela era de uma linhagem Romani, e tinha orações que ela fazia na língua ancestral. Segundo ela, desta forma sentia mais poder para que suas palavras chegassem ao céu. 

Tudo bem, não vou discutir este lado da história, mas por outro lado...

Sim, sei, tem o Lado, o senhor Ladislau, que ela não conseguia pronunciar e passou a chama-lo de Lado, assim ficou Lado e Lada. 

Pois é, então me explica isto. O Lado faleceu no ano 1996, e foi enterrado no cemitério administrado por religiosos, apesar dos protestos da Lada, que desejava enterrá-lo no Monte Oreru, que considerava sagrado, no fim da Rua dos Mártires, numa elevação de pouco mais de 200 metros. Quando faleceu em 2005, ao ser levada para a sepultura, descobriram que Lado não estava lá e que estava completamente vazia. Mas mesmo assim a enterraram no mesmo sepulcro. 

Sim, foi isto mesmo. Na época acreditaram que ela retirou o corpo com a ajuda do Tião Coveiro e sepultaram no monte. Vasculharam e escavaram dezenas de buracos e nada de Lado.  

Mas em 2006 o povo fez um alvoroço para retira-la de lá, ou pelo menos seu corpo. Em 2008, depois de muitos abaixo-assinados, passeatas, carreatas e manifestações de lideranças políticas e da sociedade, a justiça autorizou abrir o sepulcro e para surpresa de todos, nada do corpo da Lada, que havia sumido tanto quanto o do Lado. Isto com o sepulcro lacrado e selado como manda a tradição da fé, de maneira que era impossível um ato daquela monta.

E tem mais; Tião Coveiro teve que dar vários depoimentos, perdeu o emprego e a serenidade e como castigo, ao morrer de desgosto, foi enterrado na mesma sepultura, que foi selada e lacrada, e pela primeira vez teve reza, ladainha e discurso. Só que quando Comadre Filó, a viúva de Tião, no ano de 2010 veio a óbito, por desgosto segundo dizem, abriram a sepultura  e para espanto, cadê Tião Coveiro??. 

O reboliço foi tão grande que a justiça mandou  imediatamente lacrar o caixão da Comadre Filó. O prefeito chamou um embalsamador italiano e depois do serviço concluído,  deixaram exposto numa cuba anaeróbica de vidro, dentro da capela blindada, sobre o túmulo. Ou seja, Dona Filó, santa em vida passou a virar centro de romarias e rezas até, dizem, começou a  realizar milagres depois de morta.

Graças a dona Lada.

Pois é... mais uma lenda para o Reino da Pitangueira ...

É isto aí!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!