terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O medo presente e sem futuro


Do dezembro já se foram um terço dos seus dias. O tempo só para quando tropeçamos nele com o lado inflamado de uma unha encravada pelo destino. Fora isso, segue inclemente, sem pedir licença, sem pedir desculpas.

Não sei em que momento da história o futuro começou a abusar de recursos assustadores. Talvez tenha sido quando alguém percebeu que, ao prever tragédia, ganhava simpatia, respeito e poder; ou quando descobrimos que a palavra “apocalipse” tem mais charme literário do que “avanço gradual e moderadamente otimista”. Seja como for, hoje o futuro anda por aí como um sicário gótico: dramático, exagerado e com aquela expressão de quem sabe algo terrível que você não sabe.

As profecias seguem essa moda desde a desobediência no Paraíso: quase todas trágicas. Vêm sempre embaladas por uma visão com o mundo celestial — falecidos famosos, anjos da alta hierarquia, santos, santas, deuses e seus assessores. E, convenhamos, existem também profecias otimistas, que costumam soar como quem tenta convencer alguém de que água com gás é o mesmo que champagne francesa original, para comemorar a vida.

No fundo, no fundo, bem lá no fundo do seu coração valente e sofrido, um apocalipse sempre massageia o ego.

É isto aí!