Não sei em que momento da história o futuro começou a abusar de recursos assustadores. Talvez tenha sido quando alguém percebeu que, ao prever tragédia, ganhava simpatia, respeito e poder; ou quando descobrimos que a palavra “apocalipse” tem mais charme literário do que “avanço gradual e moderadamente otimista”. Seja como for, hoje o futuro anda por aí como um sicário gótico: dramático, exagerado e com aquela expressão de quem sabe algo terrível que você não sabe.
As profecias seguem essa moda desde a desobediência no Paraíso: quase todas trágicas. Vêm sempre embaladas por uma visão com o mundo celestial — falecidos famosos, anjos da alta hierarquia, santos, santas, deuses e seus assessores. E, convenhamos, existem também profecias otimistas, que costumam soar como quem tenta convencer alguém de que água com gás é o mesmo que champagne francesa original, para comemorar a vida.
No fundo, no fundo, bem lá no fundo do seu coração valente e sofrido, um apocalipse sempre massageia o ego.
É isto aí!
