Odete, a virgem dos lábios de mel de Brasília, ligou às três horas da manhã. Meio que sonolento, meio que assustado, atendi àquela chamada, já pensando em algo pior. Sempre penso em algo pior em telefonemas fora do horário convencional.
Olá querido, desculpe o horário, mas Brasília não dorme, amor. Ainda a pouco conversava, digamos assim, com Renatinho, que escutou da prima Cassandra, que soube disto enquanto recostava em doce deleite aos braços e pernas de determinada autoridade constituída.
- E quem é esta Cassandra, Odete? É fonte confiável?
Mas o que é isto? Cassandra é a própria contra-revolução da castidade. Cassandra é a pureza do planalto, amor. Ela ouviu da sua namorada, que é irmã de Jotatê, casado com Maristela, namorada de Joninhas, que rala e rola com a filha de Onofre, cunhado de Mundico Marinho, cuja amante é amante da esposa de Renatinho. Como pode ver, em sociedade tudo circula, o mundo gira e as notícias voam.
- Sei, entendi, prossiga Odete.
Sabe aquele moço que tudo esconde e tudo faz pelos amigos, que pode muito mas não pode tudo? Então, aquele moço é candidato, mas ainda não se sente seguro quanto a isto, esperava a aclamação do povo, a histeria coletiva, seu nome em todas as manchetes, bandeiras, janelas, adesivos e conversas políticas. Mas isto não veio. O que veio foi uma surda reação de desgosto dos seus adeptos, digamos assim, aqueles que o iniciaram na arte de ser um príncipe de Maquiavel. Resta uma folha balançando em seu favor, mas cá prá nós, esta folha está tão suja que vista assim de longe, não se sabe se é de lama ou de lixo.
- Nossa, Odete, então...
Pode parar, pode parar, não sei de nada... silêncio..., ai Renatinho, aí Renatinho, para, não para, para, não para...tum tum tum tum.. caiu a ligação.
É isto aí!
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