Aí a mocinha, coitada, não conseguia passar nos testes para
nenhum emprego. Já havia tentado de tudo, desde babá de Petshop até auxiliar de
caixa de supermercado de bairro.
Desesperada, devendo no salão, na farmácia, na padaria, na
sapataria e na quitanda, resolveu tomar uma atitude extrema, no mundo do crime,
para ganhar dinheiro fácil. Passou vários dias assistindo CSI na televisão,
anotou tudo que viu e achou uma possibilidade: Vou seqüestrar uma criança! -
pensou, pensou, pensou, anotou detalhes, analisou os riscos e foi à luta.
É claro que vou dar carinho para ela, dar banho, dar
papinha, dar roupa nova, fazer ela dormir no meu colo e com o dinheiro do
resgate eu resolvo a minha vida. Foi com muito planejamento que encaminhou-se
para um playground, no bairro de luxo mais bacana da cidade e viu um menino
lindinho, fofinho, muito bem vestido, brincando com seu carrinho. Acenou para
ele com um imenso pirulito colorido na mão, deu um sorriso maternal e chamou-o
para perto de si.
Perguntou seu nome, onde morava, se gostava dela, e o menino
ali, só manjando a moça. Tirou um bloco de anotações de dentro da sua bolsa, uma
caneta, e foi logo escrevendo o bilhete: - Querida mãe do F., isto é um
seqüestro. Estou com seu filho. Não fale disto com ninguém. Favor deixar o
resgate dentro de uma pequena bolsa Luiz Vitão, no valor de R$10.000,00,
amanhã, ao meio-dia, atrás da árvore marcada com um X, do lado do Algodão Doce
do parquinho. Assinado: Telma, uma seqüestradora anônima.
Então pegou calmamente o bilhete, dobrou-o com muito cuidado
para não deixar impressão digital, e colocou no bolso da jaqueta do menino,
dizendo: - Agora seja bonzinho com a tia, vai lá e entrega esse bilhete para a
sua mãe.
No dia seguinte, a meliante foi até o local combinado. Olhou
para um lado, para o outro, viu que estava sozinha e notou a bolsa no chão, no
pé da árvore marcada com um X. Em meio a uma crise de ansiedade e sentimento de
culpa por ter cometido um crime de tamanha gravidade, aproximou-se do objeto,
abriu e encontrou os R$10.000,00 em dinheiro e um bilhete junto, dizendo:
Dona Telma Anônima, conforme a senhora mandou, fiz tudo que
pediu e juro que não falei com ninguém, menos com a Clotilde do Salão, que é um
túmulo. Está aí o resgate que pediu. Só não me conformo como pôde fazer isso
com minha família... quanta violência neste mundo...
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