domingo, 21 de setembro de 2014

Maldito cuco

Na noite da festa

Armandinho, vou na casa da Gildinha.

- Da Gildinha, Carminha? Você sabe muito bem o que acontece quando você vai lá.

Mas meu bem, na semana passada fui convidada para uma reunião com as meninas, para comemorar o aniversário da Zilda.

- E posso saber se é para buscá-la ou se devo mandar o táxi?

Mas que isto, amor. Eu volto meia-noite no máximo, amanhã tem serviço. Mas como forma de tranquilizar você, voltarei de táxi - Prometo!  

- Então está bem! Beijão e juízo, hem! Vê lá o que vai fazer.

A danação é que as horas passaram rapidamente e a conversa regada a destilados estava rolando solta, até que por volta das três da manhã, completamente bêbada, eu fui para casa. Mal  entrei e fechei a porta, o relógio cuco, maldito presente da minha sogra, disparou e cantou três vezes.  Rapidamente, percebendo que meu marido poderia acordar, sentei na cadeira e  fiz "cu-co" de uma forma brilhante, mais nove vezes. Fiquei realmente orgulhosa de mim mesma por ter uma ideia tão brilhante e  rápida, evitando assim um possível conflito conjugal desnecessário.

 Na manhã seguinte:

- Carminha, eu não ouvi você chegando. A que horas você chegou da Gildinha?

Também, com este sono pesadão, nem iria saber mesmo. Cheguei meia-noite em ponto, como prometi. Dei a resposta e chequei sua expressão -  não pareceu nem um pouquinho desconfiado. Ufa! Daquela eu tinha escapado! Mas aí... mas aí, pois é, ele disse:

- Carminha, não sei como dizer isto à mamãe, mas nós precisamos de um novo cuco!

Ficou doido, Armandinho, você sabe que sua mãe é apaixonada com este Cuco, que recebeu de herança do seu avô.Mas posso saber o porquê?

- Bom, de madrugada nosso relógio fez "cu-co" três vezes. Depois, não sei  porque, ainda com a sua tradicional voz de cuco, ele soltou um "caraaaaalhooooo!".

Mas o que é isto, Armandinho, você deve ter sonhado.

- É, eu até tinha pensado isto mesmo, mas aí ele fez "cu-co" mais quatro vezes, já um pouco desafinado e espirrou escandalosamente. Fez mais três vezes, deu uma gargalhada e fez mais duas vezes, seguido de uns soluços. Daí, tropeçou no gato, derrubou a mesinha da sala, peidou alto, vomitou no  tapete todo, até chegar ao lavabo, que entupiu ao jogar a toalha de cambraia no vaso, e quando começou a soar para o quarto de hora, parece que voltou para dentro da casinha, de onde não saiu mais desde então, talvez por que, não imagino como conseguiu, amarrou a casinha por fora com um cinto parecido com um dos seus.

Credo, Armandinho, que menino danado...

É isto aí!






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