domingo, 31 de maio de 2020

Ao pé da Pitangueira faz 10 anos




Bem, estamos fazendo dez anos, mas registrado aqui neste blog atual só temos as postagens de 2012 para cá. O começo foi com alguns ensaios aqui e ali,  ainda sem um perfil delineado, e está guardado num blog secreto. O Blog começou a ser mais parecido como é hoje apenas em 2014.

Não tenho como prever como serão os próximos dez anos. Tomara que esteja melhor. Pelo menos é meu desejo. O Blog começou num viés muito político, mas foi trilhando por caminhos da nossa luta diária pelas emoções, até mesmo por que sou Coach e a emoções são meus objetos de estudo.

Hoje quero agradecer a você e a todos os leitores que passeiam aqui pelo Reino da Pitangueira. Desde 2018 o número de leitores dobrou, e claro, isto é sinal de que estamos num caminho que está agradando a uma parcela da população.

Para você que vem pelo celular/smartphone, o acesso à margem lateral direita fica comprometida, mas para os que acessam via computador/notebook poderão perceber que comecei a mudar um pouco as informações. Estou colocando a relação de personagens que antes não apareciam. O Reino tem personagens fixos, a saber:

- Odete - A musa da Pitangueira
- O Analista da Pitangueira - um analista de formação psicanalítica no próprio reino.
- O Mago - que é o Sábio da Pitangueira, que detesta aparecer muito.
- Carminha e Armandinho - Um casal neurótico
- Papo de Esquina - Três amigos que discutem temas das mais diversas situações.
- Cartas de Amor - Um personagem anônimo que tem muita dificuldade de falar de amor de uma forma direta.

Estes são os personagens mais famosos, mas aí comecei a receber cobrança de quais textos eu gosto mais. Bom esta informação leva tempo, pois são mais de 2.500 postagens, e estou olhando uma a uma. . Já existe na margem a Coluna "Os melhores contos do Reino". com alguns selecionados. A minha expectativa deve ser que cheguemos a um total 60 textos da minha autoria que foram ou muito acessados ou com os quais tenho um vínculo afetivo. 

Ainda estou selecionando, lá já temos cerca de vinte indicações, os mais antigos, bem lá do começo, retirados entre setecentas postagens.

Também neste 31/maio/2020 encerro a maratona que decidi fazer, de pelo menos uma postagem por dia desde 01/abril/2020. Olha, vou te contar uma coisa - dá muito trabalho. A partir de amanhã, mesmo recompensado pelo aumento significativo de leitores (Gratidão Gratidão Gratidão), ainda assim preciso/devo retornar ao ritmo normal a partir de amanhã.

Tenho também recebido solicitações e sugestões para mudar o layout da página. Neste ponto tenho relutado, gosto dele simples. Vamos ver daqui para frente.

O Google já comunicou que fará modificações de ordem técnica nos próximos dias. Não sei se você sabe, mas Blogger é uma palavra criada pela Pyra Labs, e é um serviço do Google, que oferece ferramentas para edição e gerenciamento gratuito de blogs. Estão sempre atualizando e dando suporte. 

E tem algum texto que gosto mais do que dos outros?

- Boa pergunta, tem, mas não vou contar ainda. Quando terminar a seleção  "Os melhores contos do Reino". vou colocar em votação quais seriam os dez mais dos leitores, dentre os que estou selecionando.e só depois vou falar dos que são meus prediletos.

Era para ser um texto pequeno, mas tinha muita coisa para falar, afinal são dez anos. Um grande abraço!

É isto aí!





sábado, 30 de maio de 2020

Dança ao olhar

Vintage Profile (With images) | Vintage photos, Vintage portraits ...

Dança
com a alma
o olhar
ao meu amor

Acalanta
encanta
e tão suave
se engraça

meu corpo
adsorve
a fluida melodia
e sorri 

Há paixão
amor
e o querer
em mim

 doce e telúrico
feito agave
etéreo e celeste
feito você
É isto aí!










sexta-feira, 29 de maio de 2020

Como explicar Pindorama aos marcianos

Cassiopeia | The Constellation Directory
Senta que lá vem história:

Como explicar Pindorama aos marcianos. Vamos imaginar que tudo isto aqui é uma tragédia grega.

Veja bem, havia uma mulher, Medusa, outrora linda e deslumbrante, desejada por todos os homens da Grécia, invejada portanto pelas mulheres. Contudo, como sacerdotisa da deusa Atena, virgem como todas as servas do templo, estava fora de alcance do desejo masculino.

Poseidon, deus dos mares, enlouquecido pelo desejo, violentou a sacerdotisa dentro do templo de Atena. A inocência de Medusa fora roubada. A profanação do templo despertou a ira de Atena, que do alto da Acrópole ouviu de Poseidon - é só uma gripezinha, dá cloroquina nela. Atena, com inexplicável fúria atacaou  a pobre Medusa; transformou-lhe o cabelo em serpentes, e deixou o seu rosto horrível. A partir de então, olhar para ela seria mortal. Todos que o fizessem se tornariam em estátuas de pedra. Mas e Poseidon nada? Nada nada nadinha ...fez seu fakenews e sumiu na paisagem.

Enquanto isto, quando os gregos ainda usavam saias e corriam descalços filosofando e guerreando entre deuses e ninfas, nasceu uma das mais belas criaturas do mundo, filha do rei da Etiópia, que quando a viu, exclamou - tão linda quanto as ninfas de Pindorama, desta forma só poderá se chamar Andrômeda.

A menina cresceu, ficou linda, bela, sedutora e sexy. Cassiopeia, sua mãe, vaidosa e elegante, que tinha lá seu charme,  elogiava tanto a filha nos saraus e festas da nata mediterrânea oriental, que certa vez diante determinado deusinho aquamarinho, travado em seu tridente babou na moça.  a ponto de não passar desapercebida. Por quem, por quem??? perguntam as aflitas moçoilas da corte planaltino - por Poseidon, meninas, que também era conhecidíssimo nos guetos como um amigo do amigo do amigo, armado de tridente e arpão.  

Segundo Clotilde, uma auxiliar do salão de beleza de Creta, Anfitrite, esposa-mix de Poseidon pediu a cabeça da moça por ciumes ou sabe-se lá mais o que. - Poseidon, com seu arpão encolhido, não teve outra alternativa a não ser condenar Andrômeda a morrer acorrentada num penhasco por uma gorda baleia gigante, de codinome Ceto. (uma baleia imensa e gorda chamada Ceto ... não tem como dar certo)

Na ocasião, o educadinho noivo de Andrômeda, irmão da sua mãe, 45 anos mais velho que a mocinha, não se manifestou. Sorriu para Poseidon e ganhou o seu agrado tridentino. Nua, belíssima, acorrentada nas pedras, eis que o Chapolin Colorado da mitologia, Perseu, surgiu do nada com suas sandálias aladas, presenteadas por Hermes para matar Medusa, aquela mesma que o Poseidon engravidou e a Atena amaldiçoou por ciúmes ou sabe-se lá pelo que mais.

Segundo Neidinha, zeladora das saunas turcas de Creta, Perseu confidenciou-lhe pessoalmente em momentos de íntima relação profissional, que ao passar pela ilha onde estava Andrômeda, linda e nua,  acorrentada no meio do mar, não fossem as lágrimas que vertiam de seu rosto, teria confundido-a com uma estátua, de tão linda que era. 

Sem querer querendo, assim disse o jovem - olha aqui mocinha, se você casar comigo, tiro você destas argolas. Diante de tamanha generosidade, Andrômeda cedeu aos encantos do seu grande amor e foram felizes para sempre. Perseu especializou-se em transformar pessoas em pedras e sua amada foi fiel enquanto pode.

Moral da História - o mundo gira gira gira e quando a choldra olha muito, vira pedra, enquanto isto ... Poseidon vai aqui e ali ...

É isto aí!

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Cartas enófilas ao Futuro

Como prever o futuro no mundo dos negócios? - João Kepler - Medium

Prezado Futuro,

Não sei quando poderá ler esta carta, a gente pouco se conhece, na verdade só o conheço em sonhos e ficções ou projeções de resultados, desejos e quereres. Talvez eu nem esteja mais aqui quando você chegar. Você é aquele parente distante de quem todo mundo fala, mas que nunca vi nem ouvi você dizer algo.

Tenho muitas perguntas, mas quando você responder é  por que não precisarei mais das respostas. É um paradoxo, sei, mas começo a acreditar que você não existe. Ou, espera, vai que exigiste. Você está relacionado com o tempo, mas o tempo está em outras dimensões, aliás, é a quarta dimensão espacial, a saber - altura, largura, profundidade e tempo. 

Mas se olhar a manhã de hoje, estou neste futuro, etão, não passo de um viajante do tempo, estacionado no meu corpo, sendo levado ao futuro que não passa, pois quem está passando sou eu. Então, de certa forma, você já existe, dependendo do observador. Agora fiquei confuso e este vinho ainda não acabou.

Futuro, a questão maior é que tenho muitas perguntas para o caso de você existir, e gostaria das respostas antes de encontra-lo ad eternum, mas vamos trabalhar com a suposição de você seja quem determina o passado, digo, o presente, que é este agora continuum que sobrevivo, então desta forma é provável que possuo todas as respostas agora, que é o passado que você coordena Então você existe e está aqui? É isto?

Só o vinho me faz crer na sua cognoscibilidade, mas ansiedade à parte, medos, stresses e paranoias, tenho que concordar, se assim fosse, não seria futuro, seria um Presente do Pretérito Imperfeito, expressando um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente terminado retornando ao continuum que bebi, digo, falei aí atrás.

Puxa vida, vou pegar outra garrafa. este vinho é bom mesmo!


É isto aí!

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Amor em pedaços de rede social

Lovers. Paris. 1950s. (With images) | Photo, Vintage photography ...

Estava determinado a dizer adeus. Tinha certeza de que aquilo tudo era um grande equívoco, que não valia a pena e todas as outras coisas idiotas que passavam juntas e misturadas na mente. Mandou uma mensagem, coisa bem impessoal, e lá descreveu a cena:

"Não dá mais, grato por tudo, adeus."

Desejou escrever "em caráter irrevogável", mas o bom senso fez-se presente e permitiu que enviasse aquele texto ridículo e bobo à amada. Duas horas depois recebe a resposta:

"Sabe que eu estava pensando exatamente a mesma coisa?" 

Leu, deu um sorriso meio lacrimoso, conteve-se, não respondeu e filosofou - sabia que ela iria responder isto. Mulher mais sem noção, previsível demais. Daí a 15 minutos ela enviou outra.

"Sabe que eu tenho em você, acima de tudo como um grande amigo?"

Leu, respirou e suspirou fundo, leu de novo, deve ser para outra pessoa e a danada enviou enganada. Mas se passaram 10 minutos e ela enviou outra.

"Sinto falta do carinho das suas palavras ..."

Mas que mulher danadinha esta, hem... Ah, mas não vou arredar um milímetro. Adeus é adeus, nem que ... chegou o último e-mail.

"Gosto quando você cuida de mim ..."

Sentindo falta de ar, sem lugar, andou prá lá, prá cá ... puxa vida, tem jeito não, eu amo aquela mulher. E enviou uma mensagem de amor.

É isto aí!



domingo, 24 de maio de 2020

Navegar pelo seu corpo (Paulo Abreu)


Navegar pelo seu corpo, 
feito uma caravela lusitana
a experimentar cada brisa
do seu doce amor.

Tocar relevos ... 
beijar seus olhos ...
sorver sua candura ...
sua boca, sua voz ...

Içar as velas e navegar
pelas correntes que nos unem, 
e as que nos solidarizam na dor
quando rompe do rio, a foz

porque tal como a vida  
deixa marcas em quem ama, 
assim também cicatriza
 tristezas e angústias.

As calamidades e feridas 
nas pele da sua história, 
como relevos memoriais, 
são monolíticas e imortais.

Navegar pelo seu corpo
além da pele prazerosa
atingir o cerne d'Alma
que me faz ser.


É isto aí!


quinta-feira, 21 de maio de 2020

Salus Populi Romani

File: Virgin salus populi romani.jpg

O ícone da Padroeira de Roma, Salus Populi Romani, retrata a Santa Mãe de Deus tendo nos braços o Menino Jesus abençoando.

A solenidade do traslado do Ícone é realizada todos os anos por ocasião do último domingo de janeiro e quer expressar um agradecimento pelos séculos de presença do Ícone na Basílica de Santa Maria, a Maior, e pelas inúmeras bênçãos distribuídas pela Padroeira de Roma.

O ícone mariano de Salus Populi Romani é um dos mais antigos e venerados particularmente pelos romanos, invocando sua proteção em meio às tribulações da vida.

O Papa Francisco é devoto da Salus Populi Romani. Logo após sua eleição como Papa, ele dirigiu-se até a Basílica para venerar o piedoso ícone, e sempre, antes e depois de cada Viagem Apostólica internacional, o ele dirige-se à Basílica para um momento de oração e oferta de flores.

A celebração litúrgica deste domingo, contou com a presença de Francisco, e coincide com a exposição do ícone que acaba de ser restaurado nos "Laboratórios de Restauração dos Museus Vaticano". Com essa restauração foi possível resgatar a beleza original que havia sido ofuscada ao longo dos séculos.

A Festa da Trasladação recorda a cerimônia que em 1613, por desejo de Paulo V, recebeu o ícone na Capela Borghese ou Paulina, da Basílica Santa Maria Maior.

No início, o ícone encontrava-se sobre a porta do Batistério da Basílica, tendo sido levado, posteriormente, para a nave central e, a partir do século XII, depositado e conservado em um tabernáculo de mármore.

Por fim, o venerado ícone foi colocado acima do altar da Capela Paulina, construída e decorada com o intuito de ali ele ser custodiado.

Foi a Mãe do Imperador Constantino, Santa Helena, quem trouxe o ícone para Roma, e a construção da Igreja deve-se ao Papa Libério que mandou construí-la. Foi sobre esta Igreja que, por desejo de Sisto III, foi edificada a atual Basílica de Santa Maria Mayor.

O nome Salus Populi Romani deriva da tradição de levá-la em procissão pelas ruas de Roma para exorcizar perigos e desgraças.

Foi sob o pontificado de Gregório Magno que ocorreu um grande prodígio. No ano de 590, Roma foi atingida por uma peste que lhe dizimava a população e não se tinha como evita-la. Inspirado, o Papa Gregório Magno fez com que o Ícone fosse transportado em oração em uma procissão pelas ruas de Roma e, então, a epidemia da peste cessou.

São Pio V também, no século XVI, fez realizar uma grande procissão com o ícone indo até a Basílica de São Pedro pedindo proteção de Maria para o povo romano.

Outro fato mostra a devoção dos Papas pela Salus Populi Romani: A Virgem foi coroada pelo Pontífice por Clemente III (1.592-1605) que deu início a esta devota tradição. A seguir, o ícone torna-se cada vez mais amado e venerado.

Os primeiros jesuítas missionários partiram levando consigo uma reprodução desta imagem.

Segundo a tradição, a imagem teria sido pintada pelo Evangelista São Lucas. Ele a teria copiado de uma imagem `acheropita´ (ou seja, não pintada por mãos humanas) que estava em Lidda, na Palestina.

Uma tradição histórica conta que após a crucificação, quando Maria se transferiu para a casa de São João, levou consigo seus pertences, entre os quais havia uma mesa feita pelo próprio Jesus na marcenaria de São José. Esta mesa passou pela propriedade de algumas piedosas mulheres de Jerusalém, que convenceram São Lucas de pintar sobre ela uma imagem da Mãe de Deus.

E seria justamente este ícone que ficou em Jerusalém, até a descoberta por Santa Helena, no século IV. O ícone, juntamente com outros objetos sacros, foi levado até Constantinopla, onde Constantino, filho de Helena, ordenou construir uma igreja em sua honra.

Quando em 730 o Imperador Leão Isaurico ordenou a destruição do ícone, o Patriarca São Germano, fervoroso defensor das imagens sagradas, foi destituído de seu cargo e exilado. Antes de embarcar, escreveu uma carta ao Papa Gregório III, a fixou no ícone e lançou-o às ondas do mar. O ícone chegou a Roma em um único dia. O Papa Gregório, advertido em um sonho, o recebeu acompanhado por sacerdotes, às margens do Rio Tibre.

Então, foi levado em procissão até São Pedro e ali exposto para a veneração dos fiéis.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Maurinho e as cobras


Maurinho Tutameia era um sujeito pacato, amado por todos e deu que seu dia, digo, sua noite chegou. Sentiu-se mal na sala, assistindo a qualquer coisa. A esposa levantou-se, cutucou o marido, deu um safanão para ver se reagia, e foi bater na casa do vizinho, Tião Remela.

Tião veio com sua bermuda de brim velha, larga e segura por uma corda, camiseta regata e uma sandália de cada par. Chamou pelo compadre, conferiu se ainda tinha pulso e sugeriu que a mulher chamasse a ambulância.

Trinta minutos depois davam entrada no hospital e ela reclamando que o cabelo estava desarrumado, não havia ainda tomado banho e estava sem a base, os cremes, e em batom conseguiu passar. - Ah! Maurinho, olha o estado com o qual tenho que acompanha-lo ao hospital, disse brava ao marido agonizante.

Naquela noite choveu torrencialmente, com relâmpagos, ventos e tragédias suburbanas. Às três e quinze da manhã recebeu o comunicado que o marido falecera.A primeira coisa que disse foi  .
- Morreu logo de madrugada, puxa vida, e logo com chuva, ele sabe que meu cabelo não combina com chuva..

Deu que ligou para a sua irmã:
- Tinha que ser, não é Lili? Tinha que dar trabalho desta forma, comentou a cunhada, fazendo a gente acordar numa hora destas. Não tem pele e cabelo que dê conta de chuva, vento e madrugada.

Depois ligou para a sua mãe:
- Mas olhe para o lado bom, Lili, ele está morto! Afirmou a sogra.

Só então lembrou da filha:
- Filhinha, estou arrasada, seu pai nos deixou...
- Vocês finalmente separaram?
- Sim, filha.
- Graças a Deus, mamãe, acho que ele demorou demorou demais por que te aguentar, não é???
- Filhinha, seu pai faleceu, está morto. estou no hospital.

Ligou para a sogra:
- Dona Filó, o Maurinho ... o Maurinho ...
- Morreu, não é Lili? Eu já esperava. Não me ouviu, não quis tomar soro antiofídico, agora pelo menos descansou.

É isto aí!

Eis aí, batendo à porta o tempo.


Custou a entender que não havia mais nada a fazer. Lembrou a memória mais antiga que possuía, aos seis anos de idade, depois a paixão pela colega de sala, depois a bicicleta, o primeiro beijo, do dia que riu muito, do dia que chorou de felicidade. Passava uma nuvem gigante de pensamentos ao mesmo tempo e em alta velocidade.

Recusou a abrir os olhos. Era um método que aprendera aos oito anos para não ver os monstros que se abrigavam sob a estreita cama com colchão de palha e travesseiro de paina. Ao manter os olhos fechados e clamar pelo anjo da guarda, que conhecia pelo nome, acontecia um misterioso hiato temporal e ao acordar, passaram horas sem perceber. 

Da mesma forma, teria que abrir os olhos. Assim o fez. Estava diante de uma nova realidade, um mundo novo sem fronteiras, com o céu limpo, e pessoas conversando sobre isto e aquilo. Não reconheceu o lugar, não sabia nada sobre tempo e espaço. Procurou firmar as vistas para encontra-la e nada. Então era verdade, este é o novo céu e esta é a nova terra.

Havia paz e ao mesmo tempo destruição. Não haveria o recomeçar, e sim o começa dali. Pela primeira vez, depois de anos, tornou a sentir esperança, tal qual a que sentia quando seu pai retornava à casa, de noite, depois de um dia de trabalho. O pai sempre volta, disse confortando sua angustia. Tornou a buscar em volta e ela não estava ali. 

É isto aí! 

Amor é fogo que arde sem se ver (Luís Vaz de Camões)


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor




Análise e interpretação
Fonte: Rebeca FuksDoutora em Estudos da Cultura

Estrutura poética

O poema acima de Camões é um soneto italiano.

O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro estrofes: os dois primeiros com quatro versos (quartetos) e os últimos com três versos (tercetos). A estrutura costuma ser a mesma: começa com a apresentação de um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém uma conclusão que esclarece a questão.

A poesia de Camões segue a fórmula do soneto clássico. É decassílabo, o que significa que contém dez sílabas poéticas em cada estrofe. A sílaba poética, ou sílaba métrica, se diferencia da gramatical porque ela é definida pela sonoridade. A contagem das sílabas em uma estrofe termina na última sílaba tônica.

/é/ um/ con/ten/ta/men/to/ des/con/ten/te
1 / 2 / 3 / 4 / 5 / 6 / 7 / 8 / 9 / 10 / x

Nas primeiras onze estrofes podemos observar uma cesura na sexta sílaba poética. A cesura é uma pausa rítmica no meio da estrofe. O poema possui um esquema rímico clássico, formado por ABBA, ABBA, CDC, DCD.

A = er; B= ente; C = ade; D = or.

O conteúdo dos versos

O formato do soneto clássico e a sonoridade estão diretamente relacionados ao conteúdo do poema. Nas onze primeiras estrofes temos o desenvolvimento de um raciocínio, e, nessas estrofes, observamos uma sonoridade próxima por conta das rimas e da pausa na sexta sílaba métrica.

O tema da poesia é desenvolvido por meio do silogismo, que é um sistema de raciocínio desenvolvido por Aristóteles em que afirmações prepositivas levam a uma conclusão lógica. No poema de Camões, as proposições são feitas nos dois quartetos e no primeiro terceto, sendo a última estrofe a conclusão do silogismo.

Camões usa a antítese para desenvolver as suas preposições. Antítese é uma figura de linguagem onde se busca a aproximação de ideias opostas. Deste modo, ele consegue aproximar coisas que parecem distantes para explicar um conceito tão complexo como o amor.

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

No primeiro verso, podemos observar que essas ideias opostas também estão unidas por uma ideia de causalidade: primeiro o fogo, que causa a ferida e que leva à dor. Essa relação ajuda a unir ainda mais a premissa do poema e a entender a imagem que Camões passa do amor.

Por meio da aproximação dos opostos, o poeta nos traz uma série de afirmações sobre o amor que nos parecem contraditórias, mas que são inerentes à própria natureza desse sentimento. Na última estrofe, Camões apresenta a sua conclusão.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor

Camões, mais um poeta a falar sobre o amor:

Camões usa do pensamento lógico para expor um sentimento humano muito profundo e complexo, o amor. O tema do amor é muito caro à poesia, sendo explorado há séculos por diversos escritores.

Um dos pontos mais abordados sobre o amor é em relação a lealdade daquele que ama em relação ao amado. As cantigas medievais versavam constantemente sobre esse sentimento de servidão, e o autor não deixa de colocá-lo no seu poema, usando sempre a antítese para construir seu argumento.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Camões exprime a dualidade desse sentimento de uma forma exemplar. Alcançando o cerne de um dos sentimentos mais complexos que existe; que nos provoca tanto prazer e sofrimento ao mesmo tempo.

Versos atemporais
O poema se torna atemporal na medida em que o tema abordado é universal e as figuras usadas para desenvolvê-lo são complexas e belas. Camões consegue conciliar imagens muito opostas para explicar o que é o amor.

O amor, assim como tudo na vida, é um jogo de dualidades, de ambiguidades, que faz parte do cerne do ser humano. Não existe sentimento humano que possa ser explicado de forma clara e simples. Porém, alguns poetas conseguem exprimir de forma ímpar sentimentos tão complexos como o amor.

Camões é um desses poetas. Seu soneto é um desses exemplos de uso fino da palavra, da criação de figuras e imagens, que nos ajudam a entender um pouco de nós mesmos.


Descubra Camões
Luís Vaz de Camões se tornou um dos maiores poetas da literatura portuguesa.

Nascido em Lisboa em torno de 1524, o rapaz assistiu as conquistas marítimas do grande império português na aquisição de colônias.

O jovem estudou em um convento e mais tarde se tornou professor de história, geografia e literatura. Camões chegou a entrar no curso de Teologia, mas acabou por desistir da empreitada. Por fim ingressou no curso de Filosofia.

Retrato de Luís Vaz de Camões.
Fontes sugerem que Camões era boêmio e teve uma vida agitada, repleta de confusões e casos amorosos. Uma das suas paixões mais ardentes foi com D.Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria (mulher de D.João III).

Num dos duelos que Camões protagonizou, acabou por ser preso e desterrado durante um ano de Lisboa. A fim de fugir das inimizades que havia criado, em 1547 o poeta se voluntariou para serviu como soldado na África. Durante os dois anos de serviço em Ceuta combateu contra os mouros, o que lhe custou a perda do olho direito.

Após a atuação militar, Camões regressou a Lisboa onde voltou a ter a sua vida boêmia e com complicações.

Durante essa nova temporada na capital portuguesa redigiu o clássico poema épico Os Lusíadas. Em paralelo seguiu escrevendo os seus versos, muitos deles dedicados à lírica amorosa.

Camões faleceu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Está esquisito, estranho e confuso


Pensamento do dia: 
Não está fácil para ninguém. O isolamento social compulsório está sendo considerado uma catarse necessária, propiciando um cenário escatológico em função de uma pandemia. 

Pergunta do dia: 
Isto está sendo baseado em que, exatamente?

Catarse:
Palavra grega (katharsis) utilizada tanto na medicina quanto na religião e na filosofia e que significa purificação, libertação ou purgação. Era utilizada no sentido da libertação do corpo ou da alma de algo que lhes era danoso, quer dizer, que os perturbava ou corrompia. 

Escatologia:
Escatologia é uma teoria relativa aos acontecimentos do fim do mundo e da humanidade, ou seja, as últimas coisas que devem acontecer antes e depois da extinção da vida na Terra.

Pandemia:
A pandemia, em uma escala de gravidade, é o pior dos cenários. Ela acontece quando uma epidemia se estende a níveis mundiais, ou seja, se espalha por diversas regiões do planeta.

Isolamento social:
A epidemia que toma conta da emoção do mundo, desumanizando as relações. 

É isto aí!


Moça linda (Paulo Abreu)


Moça linda
baila flutua
deliciosa mente
vaga na rua

A cada instante
desliza na tríade
tempo espaço beleza
ao seu prepor

É tão linda
fração da luz
divina de Deus
em rara leveza

Gosto de sentir
seu perfume etéreo
traduzir em lúmen
sua tez sensual

iluminando o mistério,
as matizes, a saturação
da aquarela pálida
da saudade melíflua

É isto aí!


domingo, 17 de maio de 2020

Ninguém muda alguém!


Sabe qual é o seu problema? Hem, sabe? Você não tem problemas, você é o problema. Pensou em tom firme e ameaçador, mas as palavras não saíram. Apenas a olhou nos olhos e partiu sem um rumo definido. Ela não entenderia nada da teoria do cérebro reptiliano, mas era o que a comandava.

Sob o domínio do cérebro reptiliano (Complexo-R) ela sempre nos endividava e adquiria mais e mais de tudo para preencher um vazio que nunca saciava. Enquanto estiver sob comando deste cérebro não há solução para os problemas. Pode ter tudo que quiser e ainda estará infeliz. No caso dela estava ativado, com total prioridade sobre os outros dois, cérebros, o Emocional e o Racional. 

Tornou-se fria, rígida, territorial e agressiva e por vezes paranoica. Sempre falava com ela que para sermos livres, felizes e escapar desta herança ancestral, só mesmo um ato de conscientização e transmutação, criando e mudando a nossa realidade. Nenhum ato físico seria preciso, eu dizia. Só mudar a visão de mundo. Ouvia mal ou fingia que ouvia.

Sempre quis adquirir mais e mais de tudo, de forma insaciável, nada estava bom. A verdade é que enquanto ela estiver sob comando deste cérebro não há solução para os seus problemas. Pode ter tudo que quiser e ainda estará infeliz. Tem este irritante comportamento automático, previsível, comportamento repetitivo e comportamento imitativo. Possuía apenas duas emoções : agressão e medo, fruto de uma dor que a escravizou e que se acomodou nos espinhos dela.

Por isto não falei nada. Ninguém muda alguém!

Fonte de dados: Complexo R 

É isto aí!

sábado, 16 de maio de 2020

Sem reversos (Paulo Abreu)


estou cansado
de ver as letras
formando palavras
que geram morte

estou cansado
muito cansado
embora calado
sem norte

ainda tem isso
a saudade 
o tempo, você 
a tristeza de ama-la 

tudo enquadrado
em anagramas
curvas e gráficos num
mundo que se cala

É isto aí!



A máscara adaptada


Mandou mensagem para que ela descesse, pois estava difícil arrumar vaga para estacionar. Chuva, frio e todos os carros da cidade estacionados na expiação relativa ao modo particular como se está executando esta luta entre seres unicelulares e seres pluricelulares equipados com polegar opositor e cérebro dotado de emoções, linguagem e percepções sensoriais.

No semáforo, ela respondeu que ele subisse, pois tinha uma surpresa que iria gostar muito. Leu a mensagem e logo excitou sua mente com a única possibilidade com a qual teria completo prazer em ser surpreendido. Achou uma vaga três quarteirões abaixo. Saiu, abriu o guarda-chuva e logo uma viatura travou na sua frente. Foi multado por não portar máscara. Voltou para o carro, refletiu sobre o assunto e resolveu colocar a cueca como máscara. Deu certo. 

Subiu a ladeira molhando toda a roupa, pois na raiva esqueceu o guarda-chuva. Chegou na portaria e o seu João não abriu. Pediu que se identificasse. Falou o nome, o apartamento e a namorada que o aguardava. Seu João disse que estava enganado. Não havia ninguém ali com este nome. Tem, não tem, tem não tem, tirou a cueca da cabeça e só então seu João o reconheceu. 

Abriu a porta e o indicou o elevador, e aproveitou  para explicar como usar os palitos presos no isopor, ao lado da porta e o cuidado com os comandos, pois o elevador está agarrando em alguns andares. Mais calmo, tornou a pensar na surpresa. A porta abriu no andar anterior, a lâmpada do corredor queimada, bateu  acampainha, ela abriu, o apartamento todo escuro  e ali já iniciaram uma epopeia épica. 

Tateou a saída duas horas depois, e ao descer buscou pelo celular, e não encontrando, voltou ao apartamento, com a roupa toda molhada e com a cueca mascarando a face. Desta vez o andar estava com luz e a sala estava iluminada. Ela abriu, fez uma leitura bizarra da situação estranha e chamou os pais dele que estavam ali para o seu aniversário. E foi assim que terminou o relacionamento.

É isto aí!



quinta-feira, 14 de maio de 2020

Dias felizes!!! Sim, eles existem ...


Tem dia que se pode dizer - valeu a pena viver o dia de hoje! No meio do caos, das barbáries, da virulência escatológica de uma humanidade doente, no meio da tristeza dos óbitos, no meio da tristeza construída sob crises histéricas e propositais, no meio do frio deste chuvoso e atípico Maio, há a abertura mística do amor quando percebe-se que valeu a pena viver cada segundo.

Fica tudo tão bonito que é fácil perceber a leveza das cores da sua felicidade, a magia do sorriso, a graça das suas mãos cobrindo o rosto para aguardar as palavras de retorno ao seu carinho, o brilho dos seus olhos, a fragrância da sua leveza espiritual e o aí coração assente à toda à sua beleza com um profundo sentimento de gratidão.

Olhar no fundo dos seus olhos, e falar da alma - você me faz feliz! Ela sorri, sabe que é verdade, que o momento é das graças guardadas para os dois. Hoje, pensou, não preciso dizer que amo você, e você não precisa dizer nada. Vamos nos abraçar até nossos corações baterem no mesmo ritmo, e ficar ali no infinito do átimo de felicidade.

É isto aí!

Saudade (Pablo Neruda)

* Saudade (1899)

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…

Saudade é sentir que existe o que não existe mais…

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


** Quadro "Saudade" de 1899, de José Ferraz de Almeida Júnior

José Ferraz de Almeida Júnior (Itu, 8 de maio de 1850 — Piracicaba, 13 de novembro de 1899), foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela biografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.

Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu apunhalado, vítima de um crime passional. Foi morto pelo primo, marido de Maria Laura do Amaral, com quem o pintor manteve um romance por anos.

O Dia do Artista Plástico brasileiro é comemorado a 8 de maio, data de nascimento do pintor.

O Mago da Pitangueira e o Caos


Eis que subo o Monte da Contemplação, o mais alto ponto geográfico do Reino, para encontrar-me com o Mago da Pitangueira. Geralmente abomina visitas, mas abre exceção desde que eu seja breve e pontual.

- Mestre, como venceremos esta batalha contra o mundo invisível dos microscópicos seres unicelulares?  

- Meu filho, esta batalha está perdida.

- Mas, Mestre, a tecnologia, as vacinas, a ciência?

- Diga-me, filho, quem veio primeiro - o ovo ou a ave?

- Hummm. Diga-me Mestre, e o amanhã? E a vida?

- Meu filho, há vida após a vida, mas não é esta a resposta que deseja. O amanhã como entende, não existe mais.

- Como assim, não existe mais?

- Meu filho, bastou esta pequenina mudança na rotina do mundo, para  trazer conseqüências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro, imprevisíveis e caóticas.

- Caóticas, Mestre? Então é caos?

- Sim, e daqui para frente todas as condições serão possíveis. O quantum energético deste ser microbiológico alterou o padrão comportamental do mundo, assim veremos cataclismos, tragédias, o terror no rosto de alguns e nas mãos de outros.

- Mas deve haver alguma saída, Mestre. E se isto tudo for mentira. E se for uma manobra de engenharia social?

- Meu filho, uma vez dada a largada do caos, independente da origem, é como acender o pavio que leva ao barril de pólvora. Enquanto todo o processo não for atravessado, destruído e reconstruído, não estará acabado. 

- Mas quem faria uma coisa destas, Mestre?

- Meu filho, só mãos humanas são capazes de acender um pavio ... só mãos humanas ...

- Gratidão, Mestre!

- Vá, meu filho, mas prepare-se para a dor que está batendo à porta.

É isto aí!

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Pode-se filosofar, versar e tergiversar (Paulo Abreu)


Diga-me, assim como você acha, 
é possível realmente apaixonar-se 
por uma pessoa sem realmente conhecê-la ... 
quero dizer, sem conhecer seu caráter, hábitos?

- E pelo que você acha que as pessoas amam? ... 
Por medidas em centímetros 
do que foi considerado o corpo perfeito da mulher 
de acordo com especialistas de beleza?
O singular 90-60-90? 

 Não, você não entendeu. 
Não vendo os olhos dessa pessoa, 
claramente sem saber como ela é. 
Sim, sabendo quase nada sobre sua vida pessoal. 
A julgar apenas pelo que mostra ... ou diz. 
Sem conhecer hobbies, vícios e ...

- Mais uma vez o vento levantou 
uma longa poeira do chão 
Mais uma vez roçou o solo... 
murmurou a terra - este é o meu castigo. 
Parece que estou me esvaindo, 
mas você vê, lamentou -
a natureza do ar - está implacável... 
Eu provavelmente me desencontrarei do mundo

Minha amiga, do que você está falando ?
 Eu falei seriamente com você, 
e você está constantemente com suas piadas.
Que piadas existem, eu sei.
Já estou cansado ... e 
ainda tenho as asas para esconder. 

- E também as tem para subir
assim como eu, ou não sabe que as tenho? 
Olha, as pessoas se esquivam dos anjos... 
E você, não se incomode com essas bobagens. 
Claro que é possível amar de qualquer jeito.

Então é possível?
Pode-se sorrir, conversar, falar das coisas?
Pode-se desejar, imaginar e sonhar?
Pode-se filosofar, versar e tergiversar?
Se se pode tudo isto, querida,
Eu me permiti amar.


É isto aí!

Foto - Henri Manuel

A história por detrás da foto do Menino Símbolo do Reino da Pitangueira



Esa foto é de Henri Manuel (1874-1947)


Henri Manuel era um fotógrafo parisiense que serviu como fotógrafo oficial do governo francês de 1914 a 1944. Nasceu em 24 de abril de 1874, em Paris. Em 1900 abriu um estúdio em Paris com seu irmão Gaston, especialista em fotografia de retratos. Rapidamente tornou-se famoso como fotógrafo de pessoas do mundo da política, arte e esportes, além de fotógrafo de arte e arquitetura. Seus retratos foram logo utilizados pelas agências de notícias e, em 1910, o estúdio de Manuel começou a prestar um serviço comercial às agências de notícias com fotografias conhecidas como "Agência de Comunicação Henri Manuel". 

O estúdio se tornou o maior estúdio fotográfico de Paris e um importante centro onde jovens aspirantes a fotógrafos como Thérèse Bonney poderiam trabalhar. Em 1925, os irmãos mudaram seus negócios para a 27 rue du Faubourg, em Montmartre, onde expandiram seus negócios para a fotografia de moda de artistas como Chanel, Patou, Poiret e Lanvin. 

Em 1941, o estúdio havia produzido mais de um milhão de imagens, distribuídas entre fotografias de moda, fotografias de agências de notícias, retratos pessoais e outras imagens. O estúdio foi fechado durante a Segunda Guerra Mundial e a maioria das placas fotográficas foi destruída. Cerca de 500 negativos sobreviveram e foram doados à Biblioteca de Arquitetura e Patrimônio. 

terça-feira, 12 de maio de 2020

Manipulação: os outros e nós (InformaçãoIncorrecta)

Três importantes lições sobre o caso Marielle e a manipulação ...
Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Fonte: InformaçãoIncorrecta
 12 Maio, 2020  

"Não existe a verdade. “Verdade” é o que nós decidimos ser verdade. Somos nós que construimos a verdade. Então o que temos que fazer é só fixar as nossas prioridades e assumir as consequências das nossas escolhas. Temos que decidir quem somos, porque, caso contrário, alguém estará certamente a decidi-lo por nós."

Lembramos: a credibilidade é uma moeda que viaja sobre a emoção, não sobre a racionalidade. Importa? Sim, e muito, porque para entender o que se está a passar nestes meses, e também para tentar mudar o panorama, é necessário entender como funciona a “máquina Homem”. Isso é: nós.

Ponto um: ninguém muda de ideias por razões racionais, nunca, nem mesmo o Leitor ou eu. Estruturamos as razões racionais a posteriori, depois, quando já decidimos mudar de ideias, de modo a não nos sentirmos demasiado parvos. Mas a mudança é algo repentino, não pensado: é uma faisca que a seguir pretendemos fundamentar com a racionalidade. E se não encontrarmos suficiente racionalidade, somos nós próprios que a criamos.

Para começar uma mudança, tudo o que precisamos é um desconforto, algo que podemos chamar de “dor”. Nada de grave: uma dor leve, como uma dor de barriga. As pessoas fazem o resto sozinhas: como sabem muito bem aqueles que trabalham em processos de mudança perceptiva das massas, lutar para fornecer a informação perfeita para um ou outro grupo alvo é inútil. Aqueles que experimentam esta dor passam então à racionalidade e procuram eles próprios a informação que melhor os satisfaz, os dados que proporcionam o apoio adequado para a ideia que querem tornar deles.

É o mecanismo de “criação de motivações racionais”, o mesmo que utilizamos quando por exemplo escolhemos encerrar uma relação com uma pessoa: bastará exagerar qualquer mal-entendido para concluir que “somos demasiado diferentes” ou que “tentámos de todas as maneiras mas…”. Para outros serão necessárias razões mais marcantes ou mais profundas, tais como uma traição mais ou menos real ou problemas complicados e obscuros de compreensão e partilha das prioridades da vida.

Da mesma forma, para mudar de opinião sobre questões políticas, culturais, sociais ou de actualidade, algumas pessoas precisarão apenas de artigos cheios de pontos de exclamação e ícones coloridos. Outros vão precisar da palavra de alguém que amam até sem o conhecerem, mesmo que seja só porque ele chuta uma bola ou cozinha na televisão. Outros ainda terão de ler artigos de diários ou editoriais bem escritos e pensados. E há quem encontre estudos científicos, necessários, elogiados por Organismos Supremos, ou talvez censurados em todos os lados e escondidos pela BigPharma.

É assim que funciona boa parte da informação alternativa e dos media: trata-se duma escolha, passa-se a realidade pela peneira e retira-se apenas aquilo de que mais precisamos. É uma questão de gosto: o processo não muda, é sempre o mesmo. Todos precisamos apenas de justificar aquilo em que precisamos de acreditar, encontrando razões convincentes para acreditar.

Mas se não é fornecendo estudos, receitas, explicações e motivações lógicas que se é levado a acreditar em alguma coisa, então como se faz? Já todos viram como se faz: um Ministro da Saúde vai para a televisão e grita: “Morreram 270 crianças de Covid-19 em Londres no mês passado!”. Isso não é verdade, é uma mentira, mas o que é que isso importa? A mensagem visa estimular o medo atávico da doença, o instinto de proteger a prole, a necessidade de sentir-se seguro, o desejo perene de sentir que as “Grandes Forças” libertam do mal. Intercedem por nós, salvam-nos do apocalipse. Trata-se de uma mensagem absolutamente perfeita para a influência social. Credibilidade? Não é necessária.

Mas não é preciso ser Ministro da Saúde para desencadear o tal desconforto e catalisar uma mudança de perspectiva. Nas redes sociais, qualquer mensagem que se torne viral, por mais “verdadeira” ou “credível” que possa parecer, pode ter o mesmo efeito. Pode explorar os mesmos mecanismos, idênticos, de medo, rejeição, ternura, raiva, curiosidade, etc., para iniciar mudanças perceptivas, reelaborações da realidade e da identidade. Foi por isso que está a ser utilizada a censura: alguém sente que estamos a roubar-lhe o seu terreno de jogo.

Agora, porém, concentrem-se: não estou a falar apenas daquilo em que os outros acreditam, aqueles que lá estão, o público ingénuo, os analfabetos funcionais. Estou a falar de nós, o Leitor e eu, claro. Estou a falar de como é possível sentir-se seguro, fora da multidão porque “compreendemos” e “não nos deixamos influenciar”. Sim: sentimo-nos como superiores, mas com modéstia, reconhecemos que são eles, os que estão lá, que não entendem, não somos nós que somos mais inteligentes.

Sejamos realistas, é assim que funciona para o Leitor e para mim também. Funciona para todos porque somos animais com mecanismos que actuam segundo padrões bem conhecidos. A única verdadeira diferença é entre quem repara nisso e quem não repara. Enquanto não conseguirmos olhar para nós e admitir que somos iguais aos outros, continuaremos simplesmente a obedecer. Repito: obedecer. É este o perigo porque negar que o tal mecanismo actue também sobre nós significa considerar-se “superior” e não manipulável: é exactamente nesta altura que ficamos mais manipuláveis e vítimas do “esquema”.

Então: um banho de humildade? Mais do que isso, a chave é definir a nossa existência, a nossa identidade. Somos o que somos, nem melhores nem piores do que os outros. E, tal como os outros, estamos sempre expostos aos perigos da manipulação, nunca estamos imunes.

Dúvida: mas se todos podemos ser manipulados em qualquer altura, como é possível definir a nossa identidade? Onde fica a verdade não manipulada?

Surpresa: não existe a verdade. “Verdade” é o que nós decidimos ser verdade. Somos nós que construimos a verdade. Então o que temos que fazer é só fixar as nossas prioridades e assumir as consequências das nossas escolhas. Temos que decidir quem somos, porque, caso contrário, alguém estará certamente a decidi-lo por nós.

Ipse dixit.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

domingo, 10 de maio de 2020

Cartas à Mãe - O Augusto, a Descarga e o Inferno de Dante


Querida mãe, feliz seja a senhora todos os dias

Sabe, mãe, dia destes lembrei do conceito de Augusto nas artes cênicas, que em dialeto berlinense da idade média significa uma pessoa que se encontra em situação ridícula. Sim, primeiro vou colocar as peças, depois explico como se encaixam. Por hora vamos nos ater ao Augusto berlinense:

 - Era um personagem do picadeiro dos circos extravagante, absurdo, pícaro, mentiroso, surpreendente, provocador. Representava a anarquia. Era desajeitado e desastrado, tornando sua atuação desajeitada e deselegante. Era também inoportuno em sua tentativa de socializar-se. 

Por outro lado, falando em artes cênicas, logo percebemos que somos expectadores, dentre tantas mazelas, da esfera de Antenora, neste continuum de live infinda produzida pelo que há de mais dantesco em Bananaland, a terra onde jorra leite, mel, propinas e cartões corporativos, mas antes de explicar isto confesso que ainda não coloquei o lixo para a fora, nem enxuguei o banheiro, nem arrumei a cama. Como estou  a confessar meus erros, rogo seu perdão para subir aos céus quando chamado.

Neste momento do espetáculo bizarro, a realidade indica que ainda não acordei de um abissal pesadelo. Lembro de estar na aula de Filosofia onde aprendi que o Aristóteles teve seus momentos proféticos quando afirmou na sua principal obra Ética a Nicômaco  : - "Deve ser observado que há três aspectos das coisas que devem ser evitados nos modos: - A malícia, a incontinência e a bestialidade." 

Daí, mãe, na barca de Aristóteles naveguei em águas da Divina Comédia até o portal do Inferno onde está escrito  "Deixai toda a esperança, vós que entrais!", pois a Justiça do Inferno de Dante bate com estas ideias do Aristóteles - coisa mais doida não há, mas estão fadados a viver um explicitando o outro.
Mas, mãe, quero ir logo ao Nono Círculo do Inferno, mas precisamente à esfera de Antenora, no lago Cocite, onde Dante fala quem são as almas dos pecadores que habitam este inóspito e congelante inferno  para os traidores:

"Ali são punidos os traidores de sua pátria ou partido político. As almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo. O nome foi tirado de Antenor, o príncipe troiano que traiu o seu país ao manter uma correspondência secreta com os gregos. Antenora e Ptolómeia."

Eis aí, mãe, o que ando sonhando. Por enquanto não posso pedir para parar tudo e dar descarga porque o tratamento de esgoto só existe na conta da água, logo esta água servirá para matar a sede de inocentes à jusante. A questão é que à montante merdas e mais merdas continuam a cair.

Sua benção!

É isto aí!


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Corsário (Aldir Blanc / João Bosco)



Música: Corsário
Compositores: Aldir Blanc / João Bosco


Meu coração tropical tá coberto de neve, mas
Ferve em seu cofre gelado, a voz vibra e a mão escreve mar
Bendita lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais

Roseirais, Nova Granada de Espanha
Por você, eu, teu corsário preso, vou partir
A geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar, procurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Como as garrafas de náufragos e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar

Roseirais, Nova Granada de Espanha
Por você, eu, teu corsário preso, vou partir
A geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar, procurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Como as garrafas de náufragos e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá



CORSÁRIO - Uma análise da letra:

Autor da Análise: José Maria Cavalcanti
Fonte da Análise: Blog do Bollog

Meu coração tropical está coberto de neve, mas ferve em seu cofre gelado…

Corsário – todos sabem que os corsários eram piratas, exímios na arte de navegar, que saqueavam navios antes que eles chegassem a seus destinos finais, no intuito de roubar suas mercadorias ou outros objetos de valor: ouro e prata.

O poeta se utiliza de muitas figuras, nos versos poéticos, para viver o drama provocado pelo afastamento que se dá entre ele e sua mulher amada. Estando distante, seu coração tropical, quente, é açoitado por ventos gelados em seu cárcere (prisão), que tentam em vão apagar a chama que arde em seu peito, o qual é comparado a um “cofre gelado”.

E a voz vibra e a mão escreve: Mar

Mesmo sofrendo e passando aperto, ele ainda encontra forças para falar e escrever a palavra mais significativa: MAR – sua vida, que representa sua carência e a imensidão física que o separa do seu amor.

Bendita a lâmina grave Que fere a parede e traz As febres loucas e breves Que mancham o silêncio e o cais

Este vento ruidoso e cortante é como lâmina que fere, provocando sangramento que mancha seu lugar seguro: o cais, onde ele está atado. O corpo, tal qual paredes que envolvem o cofre, tem fragilidades e adoece com febres loucas.

Roseirais! Nova Granada de Espanha! Por você, eu, teu corsário preso

Na América do Sul, a Espanha fincou bandeira e fundou Nova Granada, que tem “Rosales” (roseirais) como um de seus rincões. O local hoje é Bogotá – capital da Colômbia.

No local havia uma antiga prisão da coroa Espanhola, que servia para desterrar e aprisionar perseguidos políticos, mantendo-os longe da Europa.

Assim como Portugal, a Espanha também usava extrair muitas riquezas de suas colônias, assim como aconteceu com o Brasil e outros tantos países, enquanto durou este julgo colonial.

O corsário era um sinônimo de liberdade. O poeta diz que, pela amada, ele é “um corsário preso”, isto é, por ela, ele abriu mão do mar: local do seu viver livre.

Vou partir a geleira azul da solidão E buscar a mão do mar, Me arrastar até o mar, Procurar o mar

A solidão é qual um geleira gigantesca e indestrutível a isolar as pessoas que se amam.

Como um navio quebra gelo rompe as grossas camadas geladas que impedem a aproximação, ele quer “procurar o mar”, “se arrastar até o mar” e “buscar a mão do mar”. Dessa forma, ele estará de novo em contato com seu querido ambiente náutico, único meio de atingir o objetivo de se juntar novamente a seu amor.

Mesmo que eu mande em garrafas Mensagens por todo o mar

São famosas as garrafas lançadas ao mar, quase todas têm o intuito de levar mensagens de amor ou de socorro aos lugares distantes.

Partirá esse gelo e irá Como as garrafas de náufragos e as rosas Partindo o ar

Somente a via marítima possibilitará o “partir o gelo” (solidão) e, como as garrafas de náufragos (correio eletrônico ou outras mídias sociais) no seu flutuar sobre as ondas, ele buscará na imensidão das águas o caminho de volta que o levará a sua rosa, a qual exala fragrância no ar. Estes aromáticos ventos também são a força motriz que move as velas da embarcação (as asas da imaginação).

Nova Granada de Espanha E as rosas partindo o ar!

O cheiro das rosas de Nova Granada é como uma inspiração para fazer o corsário navegar uma vez mais.



Granito (Antônio Cícero/João Bosco)







Escute aqui no Youtube: Granito

Há entre as pedras
e as almas
afinidades
tão raras
como vou dizer?
Elas têm cheiro
de gente
queira ou não queira
se sente:
têm esse poder
Pedra e homem
comovem
sobem e descem
e somem
e ninguém sabe bem
O homem desce do
dos céus
e a pedra nasce
de Deus
que tudo contém
Mas o templo eu faria assim
puro de uma pedra bruta
de uma fruta bem calada
diminuta furta-cor
de granito assim a cintilar
no seu olhar.


Fonte do vídeo no Youtube: Velly Cardoso




quinta-feira, 7 de maio de 2020

Vá à merda tem crase. (Paulo Abreu)

Fotos, imagens, vetores e vídeos isentos de royalties com o tema ...
Vá à merda
tem crase
enfática

Não soa
ridículo
e é prático

Ausente de classe
é o aqui agora
neste momento

Claro e objetivo
possui poderes
impudicamente

Vá à merda
é humanístico
e transcendente

O objeto alvo
carrega na testa
sua significância

Vá à merda
define fases
resolutivas de crises

Vá à merda
porta vacância
para néscios.

Na dúvida
mande à merda
com ou sem nexo.

É isto aí!