quarta-feira, 20 de maio de 2020

Eis aí, batendo à porta o tempo.


Custou a entender que não havia mais nada a fazer. Lembrou a memória mais antiga que possuía, aos seis anos de idade, depois a paixão pela colega de sala, depois a bicicleta, o primeiro beijo, do dia que riu muito, do dia que chorou de felicidade. Passava uma nuvem gigante de pensamentos ao mesmo tempo e em alta velocidade.

Recusou a abrir os olhos. Era um método que aprendera aos oito anos para não ver os monstros que se abrigavam sob a estreita cama com colchão de palha e travesseiro de paina. Ao manter os olhos fechados e clamar pelo anjo da guarda, que conhecia pelo nome, acontecia um misterioso hiato temporal e ao acordar, passaram horas sem perceber. 

Da mesma forma, teria que abrir os olhos. Assim o fez. Estava diante de uma nova realidade, um mundo novo sem fronteiras, com o céu limpo, e pessoas conversando sobre isto e aquilo. Não reconheceu o lugar, não sabia nada sobre tempo e espaço. Procurou firmar as vistas para encontra-la e nada. Então era verdade, este é o novo céu e esta é a nova terra.

Havia paz e ao mesmo tempo destruição. Não haveria o recomeçar, e sim o começa dali. Pela primeira vez, depois de anos, tornou a sentir esperança, tal qual a que sentia quando seu pai retornava à casa, de noite, depois de um dia de trabalho. O pai sempre volta, disse confortando sua angustia. Tornou a buscar em volta e ela não estava ali. 

É isto aí! 

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