Hannah Arendt (1906-1975) uma das filósofas mais influentes do século XX
Queridíssima! Obrigado por sua carta. Se eu somente pudesse dizer-te como sou feliz contigo, acompanhando-te enquanto tua vida e mundo se abrem de novo. Posso ver como entendeste e como tudo é providencial. Ninguém jamais aprecia a experimentação consigo mesmo. Por essa circunstância, todos os compromissos, técnicas, moralização, fuga e retração podem inibir e distorcer a providência de ser.
Esta distorção gira em torno de como, apesar de todos nossos substitutos para a “fé”, não temos nenhuma fé genuína na existência em si mesma, e não entendemos como sustentar coisa como essa por nós mesmos. Esta fé na providência não perdoa nada, e não é uma fuga que me permitirá terminar comigo de uma maneira fácil.
Somente essa fé — que como fé no outro é amor — pode realmente aceitar o “outro” totalmente. Quanto vi que minha alegria em ti é grande e em crescimento, isso significou que também tenho fé em tudo o que seja tua história. Não estou criando um ideal, menos ainda estaria tentando educar-te, ou qualquer coisa que se assemelhe a isso. Por sorte, a ti, como és e seguirás sendo, com tua história, assim é como te amo.
Somente assim é o amor forte para o futuro, e não só o prazer efêmero de um momento. Somente então é o potencial do “outro” também movido e consolidado pela crise as lutas que sempre se apresentam. Mas tal fé também se encarrega de empregar mal a confiança do “outro” no amor.
O efeito da mulher e seu ser é muito mais próximo das origens para nós homens, menos transparentes. Portanto, é providencial, mas mais fundamental. Temos um efeito somente enquanto somos capazes de dar. Se o “presente” é aceito sempre imediatamente ou em sua totalidade, é uma questão de pouca importância, E nós, quando muito, só temos o direito de existir se somos capazes de nos importarmos.
Nós podemos dar somente o que pedimos de nós mesmos. E é a profundidade com a qual eu mesmo posso buscar meu próprio ser que determina a natureza de meu ser para com os outros. E esse amor é a herança gratificante da existência, que pode ser. E assim é que a nova paz se desprende de seu rosto, o reflexo não de uma felicidade que flutua livremente, mas sim da resolução e a bondade nas quais nas quais tu é inteiramente tu.
Teu Martin.
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