O relato abaixo supostamente contém a íntegra do noticiário sideral captado pelo jornal AVY, da rede intergaláctica de Ceres. Segundo testemunhas e envolvidos, o caso aconteceu no distante Pragmatistão, um país emergente do leste setentrional do planeta Loft, do sistema binário eclipsante de Delirium de Franjor, na galáxia de Andrômeda.
Numa bela manhã da segunda estação climática, um homem saiu de casa com um sorriso estranho, daqueles enigmáticos. Aquilo não poderia ser normal, pensou o vizinho neo-bourgeois. Um professor, uma merdinha de professor da rede pública de merda do Grande e Meritório Pragmatistão dando um sorriso neste nível, a esta hora da manhã? Aí tem. Deu um zoom com sua lente LP 75-300mm, e replicou a foto das redes sociais: "professor em atitude suspeita".
Madame K, doadora de boatos por natureza e afiadíssima na criação de eventos imaginários, viu na foto a oportunidade perfeita de se vingar do primeiro amor da sua vida. Replicou com a chamada - Alerta - homem suspeito de roubar moças indefesas saiu hoje da Grande Casa da Reeducação Social.
Gaguim Jalét, um nobre senhor do fino clero dos emprestadores de recursos e tomadores de bens, viu ali a oportunidade de cobrar uma dívida vencida e já paga e ainda ganhar alguma coisa em cima da foto. Replicou com a frase - homem pérfido, suspeito de três crimes hediondos é visto na região com seu peculiar sorriso mefistofélico.
O Oral do Trans-Triverno, uma espécie de instituição única que engloba três poderes distintos, viu a postagem, subiu ao parlatório e cobrou do Supremo Líder medidas extraordinárias contra as manifestações demoníacas no sagrado Pragmatistão.
O Grão-Flouberts, um agente da alta hierarquia, nomeado com poder supostamente análogo a um modelo de segurança e segredos de estado, acusou a possibilidade de alienígenas estarem invadindo o mais amado torreão de Loft, para roubar minerais raros e combustíveis fósseis.
Imediatamente o Arqui-Grão-Tribuno ordenou aos seus legados que fizessem busca e apreensão do homem, cujo perfil era o de um ativista belicoso, era também suspeito de liderar cerca de trinta e seis movimentos opositores ao Grande Líder Supremo, além de estar diretamente envolvido nos atentados contra o pudor e os bons costumes da leal e fraterna Pragmatistão, a pátria mais pacífica e amada de Loft.
Naquela mesma manhã da segunda estação climática, aquele homem que saiu de casa com um sorriso estranho, daqueles enigmáticos, já esboçava um ar estarrecido e desolador depois de receber o contracheque do pagamento do mês, a conta da farmácia, do supermercado, da água, da luz, do gás e do ar. Ficou igual a todos, de tal maneira que não foi reconhecido pelo Grande Observador da Paz, um colossal sistema de identificação pessoal online.
E tudo voltou ao normal ao Pragmatistão. - Onde já se viu um ente da rede pública sorrir com ares de felicidade meritória? - indagou a si Fulano Jacu'latório, um emérito alpinista da real sociedade meritória do Grande, Amado, Admirado, Temido e Meritório Pragmatistão.
É isto aí!
Fonte da Imagem: Leonardo Da Vinci - Estudo anatômico da cabeça de um homem
Ao longo de 15 anos (de 1498 a 1513), Leonardo desenhou órgãos e elementos dos sistemas anatomofuncionais do corpo humano em um estudo que começou pela leitura das obras de autores da medicina pré-renascentista, como Galeno de Pérgamo (129-200), Mondino dei Luzzi (1270-1326) e Avicena (980-1037). Ele também participou de dissecações do corpo humano e de diversos animais. Porém, jamais terminou e publicou a obra que, segundo pesquisadores, poderia ter revolucionado a medicina mais de 20 anos antes que o belga Andreas Vesalius, considerado o “Pai da Anatomia”, publicasse seu livro “De Humani Corporis Fabrica”, em 1543, obra que marca a fase inicial dos estudos modernos sobre anatomia.
Para entender as implicações e a importância dos estudos anatômicos realizados durante o Renascimento, basta imaginar que, por quase mil anos, questões religiosas e culturais impediram o homem de explorar o próprio corpo e de entender o funcionamento da máquina humana – as dissecações para a observação direta do corpo humano não eram permitidas nem adotadas pelas escolas de medicina medievais.
Referência Bibliográfica da Imagem (UNICAMP): Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci
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