segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sem Tempo no Espaço


Numa tarde de outono, enquanto caminhava pela praia, senti um imenso desconforto no peito e recostei à sombra de uma velha castanheira. Olhei para o céu e parti. Então é isto? Morrer é isto? - pensava e navegava livre no espaço - naquele tempo não acreditava em nada além da existência tangível.

Meu éter subia lentamente e lá embaixo ficava imóvel o corpo sobre a areia. Não percebi minha existência física, mas senti-me totalmente integrado a uma nova realidade, sem tempo, sem espaço, só luz e paz. Enquanto subia, pude ver o planeta cada vez mais redondo, mais azul e mais longínquo. Muitas estrelas, o sol ao longe e subindo, num espaço sem fim.

Cheguei num imenso campo aberto, de cores surreais, indescritíveis. Árvores lindas de diversas espécies e o imenso vazio campal, florido e gramado. Vejo surgir no chão um caminho de terra batida, que vai oferecendo uma direção para minha jornada. Intuiu-me segui-lo, por que senti uma enorme segurança andando nele. O vazio aos poucos foi sendo preenchido por pessoas ora em grupos, ora duas ou três, sentadas, em pé ou ajoelhadas pelos campos afora. Elas não se importavam muito com minha presença. 

Meu olhos, de uma forma singular, estavam fixos num grupo em especial, lá longe, cujas faces não distinguia, mas sentia serem parte de mim. À medida que caminhava, foram se aproximando de mim seres angelicais, cuja fisionomia não terei parâmetros para explicar. Um deles tocou meu ombro e naquele instante estava numa espécie de sala de silêncio absoluto. Nada ouvi e ninguém apareceu.

Olhando para um ponto de luz, comecei a ver imagens que entendi serem minhas. Vi o momento do meu nascimento, minha infância, adolescência, juventude, vida adulta, com todos os detalhes, todas as coisas ali mostrando quem eu verdadeiramente sou, sem máscara, sem ocultação. Senti que não era um julgamento, e sim um ponto de reconsideração e ressignificação das dores.

Vi erros graves, ações que causaram mal a outras pessoas, situações de risco desnecessário, e em cada uma delas experimentava um profundo arrependimento, mergulhando cada vez mais numa misericórdia divina cujo amor eu desconhecia naquela proporção. Chorei profundamente, ajoelhei-me e prostrei diante daquela Luz. 

Alguém que não vi, portador de um amor infinito, toucou minha cabeça e abruptamente voltei ao meu corpo, acordei assustado, tateando meu tórax, minha face, olhando meus pés, minhas mãos, abracei a árvore, sei lá por que fiz aquilo. Sonhei? Foi real? Todos aqueles momentos ficaram até hoje colados na minha memória. Repasso cada instante, passo a passo, vejo a Terra azul, vejo o campo, e cada vez mais sinto que alguma coisa aconteceu ali naquela dia e naquela hora.  

É isto aí!

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