Procurou pelo celular e não o encontrou, bateu nos bolsos promovendo uma pequena nuvem de partículas que se agarraram à roupa. Sua boca, narina, olhos e ouvidos também estavam repletos daquele estranho pó. Mal sentia a saliva, que expulsava da boca eliminando o gosto de terra.
Que lugar é este? - se perguntava - sem querer saber a resposta. O sol estava ao meio dia, mas sem vida, sem graça, sem calor e sem brilho. Olhou lá longe, num canto de infinitude sem definição do ponto cardeal, um ponto escuro. Fechou os olhos para ampliar a captação de luz, e de fato era um ponto, numa distância que acreditou ser algo em torno de 500 metros.
Caminhou naquela direção, numa jornada que levou horas, apesar de não ter parâmetros, já que o sol deu de desmilinguir mantendo-se a pino. Achou estranho, mas era apenas mais uma coisa estranha. Sentiu sede, cansaço, fome e dores erráticas, porém a esperança de que aquele ponto poderia salvá-lo, era a motivação única.
Com os pés afundando na poeira fofa, via o ponto criar forma. Ficou animado. Não quis precipitar a percepção do que representava, mas à medida que ia andando, as incertezas iam se dissipando. O ponto foi tomando forma e cor. Esboçou um sorriso cada vez mais largo como que via.
Foi chegando cada vez mais feliz, e à medida que andava, queria correr, e então começou a correr. Foi se aproximando, aproximando, abriu os braços e ela, a moça parada sobre um pedestal improvisado, fez sinal de parte com a mão direita.
Olá, falou alto e ela, respondeu numa língua estranha, da qual nunca ouvira antes.
- Fez uma expressão de susto, e perguntou - você fala a minha língua?
- Ela deu um sorriso enigmático seguido de uma piscada sensual.
- O que você faz aqui? perguntou.
- Ela estalou os dedos das duas mãos e imediatamente mudou o ambiente, que voltou a ser iluminado.
Agora ele estava num imenso jardim, enquanto continuava a conversar com a moça.
Bem ao longe uma voz conhecida chamava - Armandinho, Armandinho, volta Armandinho. Antes de olhar para trás, mandou um beijo na moça que por sua vez retribuiu o beijo e abraçou-o.
Armandinho, volta!! Larga esta estátua, Armandinho. Meu deusinho das vergonhas, que mico é este, Armandinho.
Carminha!!! Você veio participar também?
Não, Armandinho, eu vim te livrar do mico de continuar nu alisando esta estátua no jardim da casa. O que você fumou, bebeu ou aspirou, Armandinho?
Só uns negocinhos aí sem poder de viagem, tipo vinho de garrafão, cachaça de rolha e fumo rolão, só coisa natural, Carminha.
Natural, não é Armandinho? Sei, sei muito bem. Vamos embora, Armandinho, por que a vergonha já está além do grau máximo. Primeira visita na casa dos amigos ricos dos nossos amigos e você faz isto comigo. Seu, seu ... seu tarado.
Espera Carminha, espera pelo menos a gente terminar o que começou ... Ai-ai, Carminha, para, isto dói, ai-ai, socorro ... para de me beliscar, ai-ai, Carminha ...
É isto aí!
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