Marinalva e Mariana eram irmãs inseparáveis, apesar da diferença de cinco anos entre elas. Marinalva, mais nova, casou aos quatorze anos e logo engravidou de uma menina, Virginia, e a tia, Mariana, foi madrinha.
Alguns meses depois, ao leito de morte, a mãe das duas fez Marinalva prometer que entregaria sua filha, Virgínia, à clausura para que Mariana conseguisse um bom casamento.
Três anos depois Mariana fugiu da cidade com o anão do circo mambembe que passara no vilarejo. Neste mesmo ano nascia a segunda filha de Marinalva, Marina. Como havia feito uma promessa à mãe que não se cumprira, procurou o padre da cidade, que imediatamente transferiu as suas filhas - Marina seria enclausurada aos quinze anos para garantir um casamento de excelência à Virginia.
Deu-se que Virginia foi tratada com mimos e graciosidades, enquanto Marina recebeu o tratamento das prendas domésticas, da cozinha ao corte e costura, passando pela lavagem de roupa e limpeza geral. Cresceram como duas princesas bem educadas dentro de um sistema de castas.
Anos depois, deus-se que Orlando Tavarez, um frequentador assíduo do bordel local, cantor e dançarino de tango e bolero, tirado a galã portenho, com seu tipo branquelo longilíneo, de pernas longas e arqueadas, fumante compulsivo, voz grave e rouca, vestindo sempre um terno de linho de risca de giz enamorou-se da prometida ao convento - Virgínia.. Deu-se que num dia de outono cruzou um olhar de desejo com a moça aos seus dóceis quatorze anos, quando ela atravessava a avenida em direção à Igreja.
Seguiu-a, abordou-a no interior do templo e com sua sedução em nível profissional, transbordou o coraçãozinho ingênuo da moça de fé, esperança e amor. Encontraram-se mais de uma dezena de vezes no mesmo local. A mãe passou a desconfiar do inesperado movimento de fé da filha, e foi atrás para descobrir que sua família estava praticamente caindo em desgraça, com a graciosa pérola entregue a um mau caráter desprovido de emoção e principalmente de dinheiro e futuro.
Naquela noite, após explicar ao marido que passaria a noite com uma parturiente do circulo bíblico, partiu para o bordel, onde, exuberante, arrancou o desejo de Orlando Tavarez. Dançaram, roçaram, alisaram, gemeram, e em momento caliente, sussurrou-lhe ao ouvido - Marinalva , o que lhe custa me ter? Afastar-se da minha filha é meu preço, Orlando Tavarez ...
Assim, mais uma vez Marianalva salvou a reputação da família toda, da irmã, das filhas e o pagamento da promessa à mãe que subiu aos céus. Manteve por algum tempo o romance com Orlando. Virgínia casou-se com Epaminondas Marcos Felício, um próspero novo-rico da cidade, Marina mudou-se para São Paulo e a tia Mariana, cansada da vida mambembe, acabou num Convento, depois de provar das experiências de mais um anão de outro circo que a abrigava.
É isto aí!
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