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Souza era o poeta parnasiano da vila. Suspirava entre vielas e colunas pela amada distante, recitando Olavo Bilac em torrentes de paixão - mal a via e declamava:
"Olha: não posso mais! Ando tão cheio Deste amor, que minh´alma se consome De te exaltar aos olhos do universo..."
Stella era bonita, muito bonita, na realidade era linda. Nasceu e cresceu numa simplicidade espartana, tinha ares de nobreza e olhos de humildade, como dizia o Souza. Passava nas estreitas ruas arrancando sorrisos fáceis de toda a vizinhança - gente, tão linda e tão educada, que coisa, dizia o Souza.
Souza também dizia que o modo de Stella caminhar, ou estar parada em pé, indicava muito sobre a sua educação, além das dicas que fornecia para o
conhecimento da sua personalidade e do seu estado de ânimo. Tinha uma postura natural e sem afetação, traduzindo sempre atenção e consideração às pessoas
com quem interagia socialmente.
Foi Souza que sacou que Stella caminhava com o corpo disposto na sua posição
natural de caminhar, a cabeça levemente inclinada para a frente, com o olhar
posto alguns metros adiante, evitando tropeços e esbarros em pessoas e objetos e oscilava minimamente os
quadris, sem as contorções do rebolado.
Certa vez Souza falou sobre o olhar de Stella. Dizia que ela, ao olhar à sua direita ou à sua esquerda, distribuía o giro
progressivamente valendo-se em primeiro lugar do movimento dos próprios olhos. E ainda segundo Souza, dado o grande poder estético que tinha o modo de olhar de Stella, este movimento não era muito acentuado.
Observe, dizia Souza, observe Stella em pé. Enquanto conversa, não se põe a balançar
o corpo, para frente e para trás, nem apóia o corpo em apenas uma perna e
estende a outra displicentemente para frente com o risco de fazer alguém
tropeçar na ponta do seu pé.
Após minuciosa análise, Souza descobriu como os músculos do rosto de Stella se contraiam suavemente para
sinalizar sentimentos e significados. A sua expressão facial era suave e sempre ornada com
um sorriso sincero.
Stella nunca soube sequer da existência de Souza.
É isto aí!
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