quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Interlúdio (Cecília Meireles)



As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


Interlúdio  de Cecília Meireles é, antes de mais nada, um poema que fala de uma entrega de corpo e alma. Nele o eu-lírico sublinha a necessidade de viver e sentir o momento - o aqui e agora -, sem se refugiar no passado ou se perder nas perspectivas de futuro.

O título do poema (Interlúdio) quer dizer literalmente pausa, intervalo. Possivelmente é uma alusão ao gesto do eu-lírico de refletir sobre os afetos e fazer um balanço da sua vida sentimental. A palavra interlúdio também quer dizer um trecho musical que interrompe duas cenas (ou dois atos), em uma peça dramática. Esse significado também não deve ser descartado porque a poética de Cecília está repleta de música.

Repare no poema como o terceiro verso se repete e é o último a concluir a escrita, simbolizando a certeza do eu-lírico. Apesar dos excessos do mundo (as inúmeras palavras e hipóteses, como mencionado), o sujeito poético sublinha aquilo que tem completa segurança: o desejo de estar o lado da pessoa amada.

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