Último domingo de 2020. Fui visitar o Mago da Pitangueira para saber como será o Ano que se aproxima.
- Saudações, Mestre, vim para apreciar sua sabedoria quanto ao ano novo.
- Veio buscar o que não tenho, não sou mais sábio que esta rocha ao meu lado.
- Como assim, Mestre?
- Ela tem tantos átomos quanto eu, tanta massa quanto meu corpo comporta, mas interage com a luz e as trevas da mesma forma, incólume, e está aí com sua sabedoria a milhões de anos em completo silêncio. Graças a isto, a tudo observa e supera todas as intempéries, seguindo seu destino e guardando sua dignidade.
-Mestre, guardadas as devidas proporções entre seu ser e estar e o desta rocha, o que sente quanto ao ano que vem?
- Neste sentido digo que não será um ano monolítico, monotemático e tenso como este que se encerra. Em 2020 tudo girou - supostamente - em torno de um único processo., que se arrastará com consequências múltiplas nas áreas sociais, espirituais, econômicas, sanitárias, etc. e tal, sempre sob a astúcia de atos humanos que somente serão percebidos quando expostos, apesar de estarem guardados há alguns anos, esperando a oportunidade de atuarem.
- Mestre, o que podemos fazer para impedir estas catástrofes?
- Ouça, meu bom homem, 2021 será inevitavelmente repleto de esperanças, afinal é um Ano Novo. Será assim como quando recebemos na porta um parente distante que está de passagem num dia de grandes tormentas, com o qual não temos afeto, nem diálogo, mas acumulamos desgastantes e complicadas experiências negativas. Querendo ou não, ele vai entrar, trazendo consigo a bagagem da dor, molhando o piso e espalhando lama no tapete da sala, antes mesmo que falemos qualquer coisa.
- Mestre, teremos um bode na sala?
- Antes fosse um bode, afinal, a parábola do Bode na Sala serve para vermos o que não víamos, e 2021 já começará num grande desafio mundial, quer no campo político, quer no campo da saúde pública. O Ano Novo não fará isto de permitir que vejamos o que não pode ser visto. Não permitirá que abramos espaço para novas perspectivas. Para adoçar e iludir, terá bebidas e pratos distintos para todos os apetites, quer sejam do bem, quer sejam do mal, dependendo de quem aprecia.
- Então foi por isto que o senhor iniciou sobre a parábola da rocha?
- Exatamente, sejamos sábios. Um espada pode bater inúmeras vezes numa rocha para que ela decline, e aquela rocha, no seu silêncio sempre será mais forte que a espada, com as cicatrizes que a vida coloca na sua superfície , tal qual as que carregamos na alma pelas espadas que nos atingem. O tempo fará a sua parte. Vivemos tempos onde o silêncio é o recurso da sabedoria. Não existirão heróis em 2021.
É isto aí!
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