- Foi assim, Cacá, eu posso explicar: A campainha tocou insistentemente ao mesmo tempo que o celular disparou a chamar. Estava no banho e naquele momento ambas as situações exigiam uma ação. Abri a porta do banheiro e gritei:
- Pode entrar, a porta está aberta, e aproveita e atende o celular para mim - estou no banho. Sabe, eu achei que era você. Depois que consegui equacionar a crise do som irritante, sorri daquilo, mas só aí refleti em como mandei entrar uma pessoa que desconhecia, afinal poderia não ser você, Cacá. Aí voltei para o banho para retirar o sabão quando a porta do banheiro abriu e fechou, com o som de alguém entrando no ambiente. Dentro do box, envolvido no denso vapor, sem saber bem o que fazer, disse - olá! Não conseguiu esperar? É urgente?
- De certa forma sim, mas estou bem em esperar aqui - falou uma estranha e sedutora voz feminina, que logo colocou a mão esquerda no vidro para que pudesse visualizar sua presença.
- Atendeu o celular? Quem era?
- Boa pergunta. Era a vaca da Cacá Lima, mas já liquidei a fatura.
- Cacá?? Você fez o que?
- Fiz o que você sempre quis fazer e nunca teve coragem. Agora está feito. E a propósito, vai acabar este banho ou vou ter que entrar no box?
- Quem é você? Não estou entendendo nada.
- A porta do box foi puxada, ela entrou no apertado espaço. Era uma mulher linda, logo me abraçou e foi beijando, então se afastou lentamente e perguntou - lembrou agora?
- Olha, tudo aqui está muito gostoso, mas não lembrei.
- Veja meus cabelos, são naturais, não tem tintura ou mechas importadas, olha minhas coxas, não são lindas? Olha meus seios, sem silicone, tudo natural. Olha minha boca, meus lábios sem preenchimento não são deliciosos? E foi acariciando e me agarrando de novo. Não se lembra de nada? Fui só um joguinho de faz de conta? Você ficou anos chamando por mim, me desejando, me querendo, contando minhas aventuras e peripécias diante da sua performance, e era tudo mentira?
- Meu deusinhodapandemia, você é a mulher dos meus sonhos, claro, é você. Eu sonhei com você muitas vezes. Era tão real ... agora você está aqui... mas como? Você existe? Aí, ficamos ali naquele cubículo por um tempo que não recordo, e agora estou aqui, conversando com você. Mas como você entrou aqui?
- Eu vim por que uma piranha atendeu o telefone e disse que você estava ocupado tomando banho com ela. Cheguei, toquei a campainha, resolvi verificar se a porta estava aberta, por que eu queria bater nos dois, mas aí encontrei você dormindo sozinho no box, com cara de retardado e sorriso ridículo, abraçado à toalha.
- Cacá, não tem nada disto, espera, Cacá, espera, eu posso explicar.
- Então explica. Explica agora de uma forma que seja convincente. Quem é esta vadia?
- Eu não sei quem é ela, quer dizer, eu sei, mas não sei explicar além da explicação que já forneci.
- Adeus seu cachorro, safado, que ódio, vontade de dar na sua cara. Nunca mais quero ver você.
- Cacá, espera, Cacá ... Sentou no sofá, ligou a TV, foi bebendo um vinho e adormeceu, e logo viu a musa onírica o chamando por um caminho paradisíaco.
Três dias se passaram e a polícia arrombou a porta do apartamento, acompanhados de Cacá e o pessoal do escritório. Nunca mais foi visto, seu corpo nunca foi encontrado, não levou documentos, não saiu de carro, as câmeras de segurança não detectaram sua saída do prédio ou da garagem, não pulou da janela, não chamou táxi ou uber, não sacou dinheiro, nem usou cartão nem ligou para esta ou aquela pessoa. Todos os documentos estavam intactos na carteira.
Enquanto isto, num mundo paralelo, estava a viver o amor da sua vida.
É isto aí!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gratidão!