Lembro que era um sábado de maio, o casamento seria na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Candeias, às 16 horas. Ocorreu que do entardecer da sexta-feira até a alvorada do sábado, convidados, parentes, amigos e desconhecidos entravam e saiam da casa ininterruptamente, para comer e beber até atingir o limite da gula.
Naquela noite ninguém dormiu. Bandinha no forró sob o céu de maio animava a festa e espalhados em mesas enormes, sob tendas, no quintal, estavam as comidas, pratos e talheres. Uma mesa guardava leitão, carneiro, galinha caipira, carne bovina, linguiça, carne defumada, torresmo, miúdos diversos, molhos, vinagretes e pão. Era a mais requisitada delas , com um ir e vir da cozinha incessante.
Em outra mesa, caldeirão de arroz, caldeirão de feijão, tropeiro, farofas, batata de tudo quanto é jeito - palha, purê, inteira, empanada, em conserva, etc.. Salada fria, salada crua, salada de alface, salada de frutas, salada com pimenta, salada com frango desfiado, etc.. Nas pontas estavam salgadinhos pedindo para serem devorados e pela facilidade de acesso, eram consumidos às dúzias.
Na última mesa havia pudim de caçarola, pudim de paçoquinha, quentão, bolo de milho com cobertura de chocolate, broa de milho, pé de moleque, canjica, canjicão, bolo de laranja, de limão, de cidra, cocada aranha, cocada preta, cocada branca, cocada com leite condensado, balas diversas, bombons e frutas cristalizadas, além do sorveteiro, do pipoqueiro e do algodão doce.
Num balcão da enorme varanda, dando para os fundos do sobrado, estavam as bebidas como chopp, cachaça, vinhos, refrigerantes, água mineral com e sem gás, destilados diversos. De maneira incrivelmente anômala, as pessoas se dirigiam às mesas das comidas, doces e bebidas por múltiplas vezes e depois dançavam, comiam, cantavam, bebiam, conversavam e se divertiam freneticamente.
Sete horas da manhã do sábado chegaram as meninas do salão. Os noivos ainda brindavam o dia tão esperado, já dominados pelo álcool. A bandinha ainda tocava com todo o gás. A noiva foi colocada num quarto do segundo pavimento, as madrinhas e a mãe em outro quarto e ficaram ali sob os cuidados da beleza até as 14 horas aproximadamente.
Quando deu por volta das 15 horas, chegaram os táxis, ubers, etc, numa fila enorme, e começaram a levar os convidados, as testemunhas, as madrinhas, os padrinhos, as crianças, o coral, os arranjos, as cestinhas com pétalas, o noivo, a família do noivo, os convidados idosos, etc., esvaziando a casa, trancada pelo pai da noiva, que acompanharia a filha na limusine do Dr. Zequinha.
16 horas e trinta e seis minutos - toca a marcha nupcial - todos se levantam e olham para a porta que dava para a praça. Alarme falso, era uma convidada atrasada. O zum zum zum do descontentamento começa devagar e vai num crescente. Cadê a noiva? Cadê a noiva? Cadê a noiva? O pai vai ao microfone e pede calma, com certeza aquilo logo seria resolvido. Eu tenho certeza que ela veio, pois estávamos juntos eu e o Dr Zequinha Moreno, que a trouxe no seu automóvel.
17 horas, a igreja vai se esvaziando. Uma a uma, as famílias saem algumas curiosas, outras preocupadas enquanto desaguava a maior chuva já vista na cidade em pleno maio. O noivo teve uma crise de pânico e foi levado ao hospital.
Dr. Zequinha, ao chegar em sua residência sob chuva torrencial, numa cidade a cerca de uma hora da Matriz, resolveu abrir a porta de trás para dar mais uma conferida. Talvez encontrasse alguma pista do desaparecimento, um bilhete, um sinal, qualquer coisa. Mais que isto, deparou-se com a noiva dormindo placidamente sobre os macios tapetes, no piso do carro, escondida entre os bancos, coberta com um paletó, que há muito estava esquecido e dado como perdido, aguardando, quem sabe, a oportunidade de esconder e aquecer a moça.
É isto aí!
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