Acordei assustado, não sabia onde estava, quem era e o que fazia ali. Fechei os olhos e voltei a encontrar com ela, o amor da minha vida. Acordei novamente, agitado e suado, o mesmo quarto, o mesmo sentimento, a mesma angústia.
Imediatamente peguei meu bloco de anotações oníricas, aconselhado pelo senhor, doutor e analista da Pitangueira, e anotei o que lembrava com maior destaque:
Ela estava linda, num vestido floral solto. Era tardecer, assim era porque el idioma oficial del sueño era castellano, pero mas lento, sin subtitulos.
La hermosa chica mirándome y sonriéndome, señaló una pizarra, que decía en portugués:
Sonhar é tão fácil
difícil é o acordar
frente à realidade
eu e você seremos
pra sempre assim
Só isto. Nada de despedidas românticas, nada de resistir à saudade, nada de nada, o recado estava dado.
Na semana seguinte, reencontrei com ela, cabrocha da Portela em plena avenida numa manhã de carnaval. Ela falava numa língua estranha, soava ser ariana, mas não ligamos, os corações se entenderam nos gestos e sobretudo no olhar, e se permitiram a entrega total por três dias, enquanto durou o carnaval.
Na manhã da quarta-feira de cinzas, ela apontou para um enorme painel onde estava escrito em português:
Nunca pense que seu amor é impossível,
nunca diga "eu não acredito no amor".
A vida sempre nos surpreende.
O caso, doutor, é que agora fiquei na dúvida de qual delas ela é ela mesma, ou em qual delas estou concatenando a realidade ou serei eu mesmo nos dois sonhos ou outro eu em dupla personalidade atua por mim em vários teatros da vida onírica? Onde estou, doutor?
- Volte semana que vem, deixa passar o carnaval. Não vamos nos precipitar, mas lembre-se que Freud nos diz que o sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente, portanto, anime-se, há várias situações numa estrada.
É isto aí!
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