Em ‘A Outra Tese do Mensalão’, de autoria de Antônio Carlos
Queiroz, Lia Imanishi Rodrigues e Raimundo Rodrigues Pereira, apresenta aos
leitores uma revisão do chamado escândalo do mensalão. Ao longo de suas 159
páginas, divididas em quatro artigos, os autores apontam, com fortes
depoimentos, como o chamado mensalão foi construído pela mídia e está sendo
sacramentado no Supremo Tribunal Federal (STF), no que é chamado de julgamento
de exceção.
Com entrevistas realizadas com os principais personagens do
caso, o livro esmiúça os pormenores da Ação Penal 470 e demonstra com o então
presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson – criador
da marca mensalão – articulou suas duas espetaculares entrevistas, em 2005,
denotaram todo o esquema. O livro também mostra como, inicialmente, Jefferson
tentou incriminar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas subitamente muda
de ideia e transfere toda a sua fúria para José Dirceu.
Em um dos artigos publicados na obra também observamos como
o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos (Carlinhos Cachoeira) – preso,
no início deste ano, durante a Operação Monte Carlo da Polícia Federal – está
ligado ao escândalo seja pela gravação dos vídeos que deram origem às
investigações, seja pelo envolvimento do contraventor no esquema de publicações
que mantinha com o editor da sucursal da revista “Veja” em Brasília.
O ponto-chave do livro é mostrar como a grande mídia
conservadora se impõe no debate e pressiona o Supremo Tribunal Federal a deixar
de lado o que consta nos autos e ir além dos delitos cometidos. Como os autores
bem colocam, “procura-se impor a tese de que foi a compra de votos o que
ocorreu e não o delito de caixa dois, mais do que comprovado e confessado pelos
réus”. Ao longo do texto, fica claro que os personagens que compõe esse enredo
esquecem que “a verdade mora num poço e não é fácil de achá-la”, e neste caso
as verdades são construídas a partir de uma corrente única, com partido,
ideologia e projeto de nação.
Até a última página do livro, os autores expressam que o
sentido do espetáculo, que custou a publicização de 53 sessões do julgamento da
Ação Penal 470, é claramente político. Nesse sentido, mais do que nunca é
preciso garantir os princípios do Estado Democrático de Direito, e fazer valer
um julgamento justo baseado em provas, e não um julgamento de exceção. Por fim,
em tempos de discussão pela reforma política e por transparência, nunca foi tão
atual pensar e lutar por financiamento público de campanha.
*Joanne Mota é jornalista e pós-graduanda em Globalização e
Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).
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