Depois desta rotina, retornava ao edifício onde residia desde a juventude, comprado com certa dificuldade. Ali criou a família, os filhos cresceram e a companheira partiu numa tarde de chuva intensa. Quantos anos foram bons? Quantos anos foram maus? Ria de perguntar a si mesmo, todos os dias o que não sabia como resposta, pois sempre repetia o mantra: depende do ângulo da situação
Como sempre, já praticamente um hábito, ao chegar no hall do edifício, uma senhora muito bonita, com ares esnobes, o aguardava e logo chamava o elevador para subirem em total silêncio. Não que desejasse o silêncio; por muitas vezes tentou puxar assunto, provocar um diálogo e nada ocorria. Ele parava no quinto andar, ela seguia para o sétimo.
Já há dois ou três anos nesse encontro excêntrico, uma vez dentro do elevador, entre o segundo e o terceiro andar, o travou, daí, encorajado pela não resistência, olhou no fundo inebriante dos olhos castanhos da mulher e perguntou-lhe sem hesitação:
- Senhora, eu sei pela portaria que a senhora não dialoga com ninguém deste prédio. Já a vejo por tanto tempo e nunca conversamos, agora eu imploro, responda-me - a quantos anos a senhora morre aqui neste condomínio?
- Só até hoje, gentil cavalheiro, só até hoje .. (com direito a suspiros e sorriso discreto).
Desceram no quinto andar e foram comemorar a vida com vinho e empolgadas incursões nos relevos das suas histórias.
É isto aí!
Fonte da imagem: The Times
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