quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
Cartas Avulsas VI
Sonho impossível (Chico Buarque/Joe Darion)
Sonho Impossível (Chico Buarque / Joe Darion)
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei,
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Composição: Chico Buarque / Joe Darion.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
Cartas Avulsas V
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
Cartas avulsas IV
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Cartas avulsas II
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Santo de casa
Zefa!!! Ô Zefa!!
Que foi Zé?
Zefa, faz favô de olhar na folhinha dos sagrado coração de Jesus, de que Santo que é hoje o dia?
Tem isso na folhinha, Zé?
Claro que tem, sô. Olha lá prá nós.
Mas que melda, eu cheia de serviço, você bonitão aí na viola atrapalhando meu dia.
Pode deixar, Zefa.
E pode pelo meno me dizer o causo do porque queria esta informação?
Nada não Zefa, bobagem minha.
Oia aqui, Zé, vai falando que já estou ficando esbaforida. E olha esta vassoura na mão, louquinha para te dar de pau nas costas.
Misericórdia, Zefa, então eu conto, mas você tem que prometer guardar segredo.
E eu lá sou muié de espalhar fofoca, homi?
Jura mesmo que não vai contá prá sua mãe, suas irmãs e sua cumadre?
Nossa, Zé, mas o que é este cerceamento de diálogo? Nem prá mãinha? Nem prá cumadi Zenólia? Misericórdia. Quero saber mais não. Deve ser até - modi dizer - estes pecado que andam por aí.
Eu sabia, Zefa, que ocê já lá ia contá tim tim por tim tim
E daí? Mió contá do que calar das novidades na roça. E não é fofoca, é uma rádio de ondas curtas, que só fica ali entre nós e onde atualizo as coisa.
Zefa, num tem segredo secreto. Sua mãe tem as irmãs dela e as cunhadas, sua irmãs tem amigas, a cumade então é mais conhecida que pé de mamona.
Nossa, Zé, inté parece que estamos falando para o mundo todo...
Ainda não, Zefa, mas vai chegá este tempo ...
É isto aí!
A Bela Adormecida da Pitangueira
Lembro que era um sábado de maio, o casamento seria na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Candeias, às 16 horas. Ocorreu que do entardecer da sexta-feira até a alvorada do sábado, convidados, parentes, amigos e desconhecidos entravam e saiam da casa ininterruptamente, para comer e beber até atingir o limite da gula.
Naquela noite ninguém dormiu. Bandinha no forró sob o céu de maio animava a festa e espalhados em mesas enormes, sob tendas, no quintal, estavam as comidas, pratos e talheres. Uma mesa guardava leitão, carneiro, galinha caipira, carne bovina, linguiça, carne defumada, torresmo, miúdos diversos, molhos, vinagretes e pão. Era a mais requisitada delas , com um ir e vir da cozinha incessante.
Em outra mesa, caldeirão de arroz, caldeirão de feijão, tropeiro, farofas, batata de tudo quanto é jeito - palha, purê, inteira, empanada, em conserva, etc.. Salada fria, salada crua, salada de alface, salada de frutas, salada com pimenta, salada com frango desfiado, etc.. Nas pontas estavam salgadinhos pedindo para serem devorados e pela facilidade de acesso, eram consumidos às dúzias.
Na última mesa havia pudim de caçarola, pudim de paçoquinha, quentão, bolo de milho com cobertura de chocolate, broa de milho, pé de moleque, canjica, canjicão, bolo de laranja, de limão, de cidra, cocada aranha, cocada preta, cocada branca, cocada com leite condensado, balas diversas, bombons e frutas cristalizadas, além do sorveteiro, do pipoqueiro e do algodão doce.
Num balcão da enorme varanda, dando para os fundos do sobrado, estavam as bebidas como chopp, cachaça, vinhos, refrigerantes, água mineral com e sem gás, destilados diversos. De maneira incrivelmente anômala, as pessoas se dirigiam às mesas das comidas, doces e bebidas por múltiplas vezes e depois dançavam, comiam, cantavam, bebiam, conversavam e se divertiam freneticamente.
Sete horas da manhã do sábado chegaram as meninas do salão. Os noivos ainda brindavam o dia tão esperado, já dominados pelo álcool. A bandinha ainda tocava com todo o gás. A noiva foi colocada num quarto do segundo pavimento, as madrinhas e a mãe em outro quarto e ficaram ali sob os cuidados da beleza até as 14 horas aproximadamente.
Quando deu por volta das 15 horas, chegaram os táxis, ubers, etc, numa fila enorme, e começaram a levar os convidados, as testemunhas, as madrinhas, os padrinhos, as crianças, o coral, os arranjos, as cestinhas com pétalas, o noivo, a família do noivo, os convidados idosos, etc., esvaziando a casa, trancada pelo pai da noiva, que acompanharia a filha na limusine do Dr. Zequinha.
16 horas e trinta e seis minutos - toca a marcha nupcial - todos se levantam e olham para a porta que dava para a praça. Alarme falso, era uma convidada atrasada. O zum zum zum do descontentamento começa devagar e vai num crescente. Cadê a noiva? Cadê a noiva? Cadê a noiva? O pai vai ao microfone e pede calma, com certeza aquilo logo seria resolvido. Eu tenho certeza que ela veio, pois estávamos juntos eu e o Dr Zequinha Moreno, que a trouxe no seu automóvel.
17 horas, a igreja vai se esvaziando. Uma a uma, as famílias saem algumas curiosas, outras preocupadas enquanto desaguava a maior chuva já vista na cidade em pleno maio. O noivo teve uma crise de pânico e foi levado ao hospital.
Dr. Zequinha, ao chegar em sua residência sob chuva torrencial, numa cidade a cerca de uma hora da Matriz, resolveu abrir a porta de trás para dar mais uma conferida. Talvez encontrasse alguma pista do desaparecimento, um bilhete, um sinal, qualquer coisa. Mais que isto, deparou-se com a noiva dormindo placidamente sobre os macios tapetes, no piso do carro, escondida entre os bancos, coberta com um paletó, que há muito estava esquecido e dado como perdido, aguardando, quem sabe, a oportunidade de esconder e aquecer a moça.
É isto aí!
terça-feira, 20 de fevereiro de 2024
Faltam palavras
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Cartas avulsas III
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Discutindo relação
terça-feira, 13 de fevereiro de 2024
Cartas avulsas I
Reino da Pitangueira
A absurda felicidade
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
Os amores complicados
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Nunca brigue com seu amor
Estava com raiva dela, bloqueei celular, redes sociais e o escambau - não queria perdoá-la até aquele noite. - Era início da madrugada, noite linda, sem lua e sem nuvens. Tive a vontade de ir ao quintal, nos fundos da casa, observar não sabia ainda bem o que. Céu limpo e clima frio neste alto da serra. Ouvi sua voz melodiosa dizer - olhe para a esquerda. Virei o rosto e vi três objetos não identificados cruzando o céu em alta velocidade, sem barulho, deixando cada um deles, um rastro de cor desconhecida, de tal maneira que não saberia identificá-las.
Fui deitar meio preocupado e não consegui dormir, pelo menos acho que não. Aí ela me chamou pelo nome, abri os olhos e agora a via, era meu amor estava linda. Deu-me a mão e disse: vem. Como é linda o meu amor. Ao tocar na sua mão, ocorreu um flash, um clarão, num movimento de cores fantástico.
Ela me beijou, fechamos os olhos e ao abrirmos, estávamos em York, a principal cidade do Norte da Inglaterra. Estava sob cerrado ataque na manhã do gelado 1° de novembro de 866, seguindo a estratégia padrão dos vikings descendentes do lendário viking Ragnar Lodbrok de invadir, destruir e liquidar as vidas.
Antes de presenciar o inevitável, ela apertou minha mão, levou-me a uma vila medieval no leste europeu. Eu sabia que era no leste europeu atual, mas era numa época que não existia esta definição. A Vila estava sendo atacada e dizimada por Gengis Khan.
Nos abraçamos e quando abri os olhos estávamos na floresta de Ardennes, na Bélgica, próximos da Linha Maginot, exatamente no dia que o alemães invadiram a Bélgica. Olhei para ela em total desespero. Abraçou-me novamente e pediu para fecharmos os olhos. Tivemos uma crise de choro.
Enquanto chorava, senti novamente a sensação de deslocamento temporal tocar-me. Ao abrir os olhos éramos prisioneiros dos xavantes no interior do Mato Grosso, na metade do século XVI, e nesta ocasião, lembro bem, vivenciamos a experiência real e ao vivo das noites tapuias.
Nunca mais brigo com ela. Vou comprar um monte de rosas vermelhas e vamos ver como e' que fica isso.
É isto aí!
Resposta ao Tempo (Aldir Blanc e Cristovão Bastos)
sábado, 10 de fevereiro de 2024
Açodamento da saudade
Quantas coisas
vidas passando;
ora agonizantes,
ora frenéticas.
Será que o fácil
é fácil para todos?
Será que o difícil
é difícil para outros?
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
Cartas de Amor LXXXII
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024
Pelo sim, pelo não
Matutando no mato
Pitando um rolo do bom, de frente para o pomar de pitangas, jabuticabas, manga e graviola, Zé filosofava a carreira de eventos ao longo da vida. São nestes momentos de contemplação do nada é que nada que presta sai, matutava, mas o importante mesmo é aflorar as coisas, daí vai se endireitando ali, desentortando acolá até chegar na linha do pensamento. Assim, chegava às suas conclusões dada à vasta experiência no fumo de cultivo ancestral:
- No fundo, bem lá no fundo, deve haver conserto para tudo, até mesmo para pneu de velocípede.
- Não concordo com ela nem discordo comigo, muito antes pelo contrário sou solidário aos reclames da minha natureza, que contempla a dissonância dela.
- Uma coisa é o que é, exatamente uma coisa. Outra coisa é outra coisa, desde que nãos seja a mesma coisa. Deve ser por isto que está tudo muito coisado neste mundo.
- Quando chegar a hora e bater a preguiça, brada que aquele agora, mais do que nunca, é a hora certa. E se estiver errado, vai dar certo, afinal preguiça é movimento intestinal puro.
- O importante é o que importa, é o que vende, é o que distribui e principalmente o que tira dinheiro do seu bolso sem você querer a compra. Se eu vou na venda, eu compro só o necessário, se eu sou da venda, eu vendo o mais desnecessário, por que é nele onde está o lucro, e vida que segue. Todo dia sai um bobo de casa e encontra um esperto na venda, daí pode sair negócio bom só para uma parte.
- É muito melhor ficar vermelho, virar onça e soltar os cachorros e as raivas logo, sendo sim o sim e não o não, do que viver feito porco, de focinho no chão, cor de rosa, com sorrido amarelo besta na cara.
- Se a Terra fosse plana, seria um dos planetas mais exóticos e desconhecidos do mundo. Imagina só um terreirão circular, com princípio e fim, com sol estagnado e uma gravura de lua besta no parador, sem luar, sem violão, sem estrelas, sem cometas sem nada. Prá quem que os cachorros iam uivar?
- Segundo lei trans-sideral, aprovada pelo diretor da congresso inter-galáctico e promulgada no parlamento da terra plana de Órion, cada um no seu quadrado, por isto - ado ado ado, cada um no seu quadrado por que "tudo junto" é separado e "separado" é tudo junto, donde se conclui que para-raios não param raios.
- Um é pouco, dois é primo e três é ímpar. Desconfie sempre dos primos...
- Há males que simplesmente vêm para o bem dos outros, porque pimenta que arde lá é refresco em pessoas malvadas.
- Briguei comigo mesmo, divorciei de mim, mas deu que lá si onde eu me ia, eu si me encontrava com eu mesmo, com aquele mesmíssimo sorrisinho retardado, com aquela carinha sonsa e olhar lerdo. Dava uma raiva danada d'eu comigo mesmo. Como pode o outro eu ser tão besta assim?
Zéééééé, para de sonhar, homi e vai roçar o terreiro...
Eita mulher ruim, tem raiva d'eu pensar coisas que ela não entende ...
É isto aí!
fonte da imagem: aprovincia.com.br
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