Segundo teólogos, este desenho refere-se a uma manifestação do que seria uma nova ordem mundial. Ver e conferir:
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Leia a resenha:
Autor: Wilson Ferreira 26/08/2012
Fonte: Revista Forum
Ocultismo e política no fenômeno viral “I, Pet Goat II
Propaganda Iluminati? Denúncia à hipocrisia da política anti-terror dos EUA? Uma metáfora da decadência espiritual do Ocidente? O curta canadense de animação “I, Pet Goat II” virou um fenômeno viral da Internet, produzindo as interpretações mais extremas. Elegante e ao mesmo tempo bizarro, o vídeo mergulha em uma série de simbolismos relacionados com fundamentalismo religioso, […]
Propaganda Iluminati?
Denúncia à hipocrisia da política anti-terror dos EUA? Uma metáfora da decadência espiritual do Ocidente? O curta canadense de animação “I, Pet Goat II” virou um fenômeno viral da Internet, produzindo as interpretações mais extremas. Elegante e ao mesmo tempo bizarro, o vídeo mergulha em uma série de simbolismos relacionados com fundamentalismo religioso, propaganda política e ocultismo. Mas ao mesmo tempo a narrativa contém uma estranha ambiguidade: será que o vídeo não cai na mesma armadilha ideológica de todos os fundamentalismos que procura denunciar – o messianismo?
O curta de animação “I, Pet Goat II” virou um fenômeno viral na Internet. O curta multiplicou-se em uma série de vídeos onde se tenta enumerar e explicar, sequência por sequência, os inúmeros simbolismos presentes na animação do canadense Louis Lefebvre. Simbolismos políticos, místicos, ocultistas e conspiratórios que fazem a delícia tanto dos teóricos de conspirações quanto dos estudiosos em propaganda e política internacional.
O curioso é que as interpretações são ambíguas e extremas: de um lado veem na animação uma denúncia à política anti-terror dos EUA e a utilização da religião como forma de manipulação das mentes conformadas; do outro, interpretam o vídeo como uma propaganda Iluminati e o personagem central da narrativa (Jesus redivivo sob uma roupagem esotérica) como o próprio Anti-Cristo que estaria por trás da construção da chamada “Nova Ordem Mundial” (NWO, em inglês).
O curta de animação é uma produção do estúdio canadense Heliofant (o nome sugere um trocadilho entre o termo “hierofante” – sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios da Grécia e Egito antigo – “Heliópolis” – cidade do antigo Egito cuja divindade máxima era “Rá”) formada por um grupo de artistas nas áreas de dança, música, animação digital e artes visuais. Nas palavras de Louis Lefebvre, a proposta do estúdio é “explorar diversas tradições espirituais e filosóficas em diferentes formas líricas” (veja “Interview with Director of I, Per Goat II Louis Lefebvre”). E a animação “I, Pet Goat II” atinge esse objetivo de forma simultaneamente elegante e bizarra: pelo acúmulo de simbolismos e personagens mitológicos (“O Guardião do Fogo”, “O Feiticeiro”, “A Pietá” etc.) em um estranho universo gelado e sombrio, ficamos nos perguntando o tempo inteiro “o que isso quer dizer?” a cada cena.
A narrativa e o visual lembram muito o estilo de Tim Burton em um mundo surreal habitado por personagens etéreos e mitológicos. Um amálgama de universo alternativo, remix da cultura pop sobre conspirações, simbologia hermética egípcia e alusões a recentes eventos da política anti-terror dos EUA.
O gelado mundo distópico
O vídeo começa com um bode confinado em um caixote apenas com a cabeça para fora. Na sua testa impresso um código de barras (controle das mentes pela NWO?). Depois vemos mãos ensaguentadas manipulando cordéis que acionam um fantoche de George Bush na famosa sala de aula do 9/11/2001 onde, catatônico, recebeu a notícia dos ataques aéreos em Nova York. Ele dança até transformar-se no atual presidente Barack Obama. Vemos que a escola esta encravada em um gelado mundo distópico. Ao fundo, desaba duas imensas torres de gelo, numa alusão ao fatídico 9/11.
Acompanhamos depois o aparecimento de Osama Bin Laden à frente de um exército sobre um iceberg transformado em navio de batalha. Mesquitas de gelo são bombardeadas por aviões stealth. Lefebvre ilustra a dominação ideológica por um menino com a cabeça vazia e quebrada de onde saem tentáculos com monitores de vídeo nas pontas onde um personagem ameaçador com aparência de guru místico vocifera. Uma representação do poder da propaganda e engenharia social: nos olhos do menino vemos as palavras “marketing plunge”.
De repente vemos surgindo em meio a névoas no mar gelado uma barca com uma representação do deus egípcio Rá na proa conduzindo um esotérico Jesus com um coração flamejante e o olho de Osíris desenhado na testa. É uma clara alusão à barca das almas da antiga mitologia egípcia que conduz os mortos para o Tribunal de Osíris. Na verdade, é esse mundo distópico e decadente (o Ocidente?) que caminha para o julgamento final.
A representação de Jesus na animação foge do cânone católico: a inspiração está no hermetismo da sabedoria oculta europeia cujas origens estão em Hermes Trismegisto, deidade sincrética que combinava aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcio Toth – recentes traduções de textos encontrados na biblioteca gnóstica de Nag Hammadi em 1945 no Egito pertencentes à obra creditada a Hermes Trismegisto, “Corpus Hermeticum”, deram ainda mais força ao ocultismo na cultura pop contemporânea.
Religião e terrorismo
Além de todo esse mix de mitologia, simbolismos e fatos históricos, outro elemento chama a atenção: o tema da religião associada à manipulação política e à intolerância e o ódio, motivações histórico-culturais que estariam por trás do conflito Ocidente/Oriente e do terrorismo internacional. Podemos acompanhar na animação além do desmoronamento de mesquitas, a destruição de uma catedral católica e, no final, a queda de pirâmides no horizonte como o simbolismo do fim de um antigo paradigma: as controvérsias religiosas que só teriam provocado discórdias e guerras ao longo da História.
Isso é o que torna a produção do estúdio Heliofant ideologicamente ambígua: paradoxalmente, esse tema subjacente à animação de Lefebvre pertence à agenda ideológica conservadora da política anti-terror que se iniciou no período George Bush. Mais precisamente, uma visão geopolítica inspirada nos conceitos do filósofo teuto-americano Leo Strauss (1899-1973). Autor do livro “Direito Natural e História” é tido por muitos como o pai intelectual de todo o neo-conservadorismo norte-americano e da cúpula de dirigentes do governo Bush e das suas políticas neo-liberais. Sua obra procura combater o relativismo do olhar multiculturalista da antropologia, isto é, através da Razão e do Direito Natural, tenta encontrar um ponto de referência filosófico que permita o estabelecimento de juízos sobre culturas diversas no tempo e no espaço.
O esforço de Strauss em buscar superar o Direito Positivo através do Direito Natural permitiria a qualquer cultura julgar moralmente as ações no interior de outra cultura diversa, justificando a intervenção em países cujas tradições fossem “anti-democráticas” e cujas religiões praticassem o “ódio e intolerância” contra os “direitos naturais humanos”.
O problemático nessa teoria é a acusação de que as diferenças religiosas (e a intolerância e ódio resultantes) seriam a origem de toda a irracionalidade e carnificina histórica. Se tanto Karl Marx com o Materialismo Histórico (o mais importante não é o que homens falam, mas os seus atos) e Freud com a teoria do inconsciente estiverem certos, a religião é um mero pretexto ou racionalização para as ações humanas cujas motivações estão em outra “cena”: na Economia Política. A religião é mais uma vítima da luta por conquistas econômicas e territoriais, explorada como instrumento ideológico para legitimar demandas materiais: por exemplo, o tabu do sexo fundamentado em supostos princípios teológicos como forma de garantir a propriedade dos bens da Igreja Católica ao longo da História.
Portanto, a suposto confronto entre fundamentalismo cristão versus fundamentalismo islâmico é um mero pretexto para justificar o principal fundamentalismo: o econômico.
A animação de Lefebvre até de passagem mostra um poço de petróleo no horizonte gelado e gotas de óleo caindo no mar. Porém, grande parte do vídeo mostra cenas onde se sugere que as religiões são os pilares de um paradigma ideológico que deve ser destruído por um redentor: Jesus com o coração flamejante que derreterá todas as prisões de gelo e unificará a fé.
O perigoso messianismo
“I, Pet Goat II” apresenta uma interessante representação gnóstica de Jesus, porém acentua o aspecto mais perigoso da instrumentalização das religiões pelos poderes: o messianismo. O final arrebatador simbolizando os antigos paradigmas desmoronando e um poderoso Sol no horizonte que derreterá aquele universo gelado diante do olhar de um Jesus flamejante na barca de Rá é perigosamente messiânico. Na essência é o mesmo messianismo das propagandas políticas e religiosas de Bush e Obama criticados no vídeo.
Jesus representado como alguém que unificará a fé e a esperança em torno, talvez, de uma nova religião elaborada a partir de um mix de fragmentos de todas as antigas religiosidades. Uma NWO religiosa?
É precisamente esse o problema de toda forma de messianismo seja político (“o futuro começa hoje” das propagandas políticas), tecnológico (“a estrada para o futuro” de Bill Gates) ou econômico (“o fim da História” do neoliberalismo de Francis Fukuyama): é um princípio transcendentalista que pretende “zerar” a História. Na sua essência a religião não possui esse messianismo contido em todos os fundamentalismos. Essa é a religião transformada em justificativa ou álibi dos fundamentalismos econômicos e políticos.
De qualquer forma, o fenômeno viral em que se transformou esse curta certamente confirma a hipótese a respeito do poder de propagação dos memes: é justamente na ambiguidade interpretativa criada pela profusão de símbolos e alusões na narrativa que reside o poder de propagação viral. E o Marketing está muito interessado em “cases” como esse.
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