domingo, 26 de agosto de 2012

O Banzo Banto

O Congo não conhece o significado da palavra Paz desde que os brancos do norte aportaram em solo americano, lá no final do século XV.
O atual conflito na República Democrática do Congo (RDC, chamada de Zaire entre 1971 e 1997) tem raízes em choques étnicos e em interesses comerciais e políticos que já levaram a ex-colônia belga a ser palco do que foi chamado de Primeira Guerra Mundial Africana, entre 1998 e 2003.

É uma guerra com características medievais, na luta pelas ricas minas de cobre, zinco e principalmente ouro e diamantes. A cada hora estima-se que 48 mulheres são estupradas por milícias drogadas, mantidas por mercadores de interesses vilipendiosos, que servem ao mercado internacional, com forte suspeita de que a maioria é financiada por orientais.

No total, 22% dos homens e 30% das mulheres do Congo já foram vítimas de violência sexual em ataques relacionados ao conflito, segundo números de 2010. Tais estatísticas levaram a enviada da ONU ao país, Margot Wallström, a classificar o país como a "capital mundial do estupro" em um apelo para que o Conselho de Segurança tomasse uma atitude para interromper a barbárie.

Recordando a nossa história, com o aumento da plantação de cana e exploração das riquezas minerais no século XVII, os navios negreiros começaram a ser escolhidos com mais especificidade, indo de naus com apenas uma cobertura (os escravos eram transportados sem distinção nos porões) a naus com três coberturas (separando-se homens, mulheres, crianças e mulheres grávidas). Àquela época, esses navios eram apelidados de “tumbeiros”, pois devido às condições precárias muitos escravos morriam. Os negros que não sobreviviam à viagem tinham seus corpos jogados ao mar.

Estes negros que aqui chegavam pertenciam, grosso modo, a dois grupos étnicos: os bantos, vindos do Congo, da Angola e de Moçambique (distribuídos em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro) e os sudaneses, da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim (cuja mão-de-obra era utilizada no Nordeste, principalmente na Bahia).

A saudade da terra natal (banzo) e o descontentamento com as condições de vidas impostas eram a principal razão das fugas, revoltas e até mesmo dos suicídio dos escravos. A “rebeldia” era punida pelos feitores com torturas que variavam entre chicotadas, privação de alimento e bebida e o “tronco”. Durante essas punições, os negros tinham seus ferimentos salgados para provocar mais dor.
Deixo aqui o belíssimo Banzo, de Menotti Del Picchia:

BANZO

E por que deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do conga nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo.
É isto aí!

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