O texto abaixo não é meu, é de Ferreira Fernandes.
Copiei e colei de Diário de Notícias - Portugal
No filme Há Festa na Aldeia (1949), Jacques Tati servia de
carteiro, ainda não tinha aperfeiçoado o personagem Monsieur Hulot, o desadaptado
ao mundo moderno com que nos maravilhou durante vinte anos. Mas aquele carteiro
de aldeia já tinha a marca de água que nos permitiu crismar de "Tati"
ou de "Monsieur Hulot" os que sem palavras mostram não pertencer ao
mundo que atravessam. Esta semana, um Sr. Hulot atravessou de bicicleta a Praça
de São Pedro.
Os jornalistas (há cinco mil em Roma, a cobrir a espera do novo
Papa) caçavam solidéus e capas escarlates, símbolos dos cardeais que não há
meio de anunciarem o início do conclave. Mas que mais pode chamar a atenção do
que um cardeal - o de Lyon, Philippe Barbarin, francês como Jacques Tati -,
todo de cinzento (o que é exclusivo entre as coloridas vestes cardinalícias) e
de bicicleta como um carteiro, pasta à bandoleira e boné?
O cardeal Barbarin se
não fez de propósito é um gênio nato para sublinhar o papel exclusivo da
simplicidade. Na Sala do Sínodo, onde se reúnem desde segunda-feira as
Congregações Gerais, tem-se passado o que é inevitável numa instituição tão
forte e momentaneamente sem líder: luta pelo poder. O "partido
italiano" contra os americanos, os que já estão (cardeais Bertone e
Sodano) contra os que talvez venham (brasileiros?), os blocos institucionais
contra as surpresas... E, no meio da Praça de São Pedro, o milagre de um
cardeal de bicicleta.
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