quinta-feira, 29 de maio de 2014

Conto simples da felicidade intangível


Ouvi um badalar de sinos dobrando ao longe, cada vez mais altos, e à medida que aumentavam, sentia-me estranho. Abri os olhos devagar e os badalos diminuíram, mas a enxaqueca estava instalada. Olhei para os lados, com certo desconforto. Estava deitado em um imenso sofá branco, e ao meu lado, nua, uma das mais lindas mulheres que já vi.

Acordamos juntos. Dei conta da minha nudez ao procurar o celular. Ficamos nos entreolhando por uma eternidade de segundos. Aí então conversamos:

- Olha, eu posso explicar...

Espero que sim.

- É... eu também. Você viu as minhas roupas?

Não. Você vê as minhas?

- Também não. Mas que tal tomarmos um banho e depois resolvermos tudo?

Perfeito. Estou toda suada, cabelo pregando e você cheio de marcas estranhas, parece batom com molho... além de estar bem suado também.

O banho foi épico. Coisa de realização de um desejo de adolescente. No quarto haviam roupas sobre uma cômoda lateral, confortáveis. Ela colocou um vestido branco excitante e para mim calça e camisa de linho branco. Caminhamos para a copa, onde uma mesa de jantar estava servida, fartamente elegante e pomposa.

- Posso saber o seu nome? - perguntei degustando uma lagosta.

Bárbara, e o seu?

- Carlos Lindolfo.

Esta casa é sua?

- Não. Não é não. Achei que fosse sua.

Sabe como veio parar aqui?

- Não lembro. E você?

Não tenho a menor ideia...

- Será que morremos?

Não sei. Nunca vi você, nem lembro de algo... espere...

- Sim?

Entrei em uma loja ontem, eu acho que foi ontem à tarde, e uma pessoa me perguntou o que desejava mais na vida, e respondi que queria ser feliz.

- Meu Deus, aconteceu a mesma coisa comigo. Era uma loja diferente, que nunca havia percebido, na Alameda das Flores. Uma pessoa fez a mesma pergunta e dei a mesma resposta que você. Aí não lembro de mais nada até acordar aqui.

- E o que faremos?

Nada! Vamos aproveitar até ver onde isto vai...

- Gostei disto... nada de complicar.

É isto aí!

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