sábado, 24 de maio de 2014

Carminha e a terapia do amor total

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Naquela manhã de sexta-feira acordei completamente suado. O sonho foi intenso, confuso, daqueles com a sensação de realidade. Abri os olhos com dificuldade, o cabelo estava molhado, o travesseiro, o lençol, o pijama. Precisava de um banho. Ao tentar levantar, Carol, lindíssima, segurou-me pelo braço, com carinho e súplica. Foram mais trinta minutos de intensa paixão e juras eternas de amor.

Ao sair para o escritório, liguei o rádio do carro e para minha surpresa tocava a música que amanheci cantarolando. Trânsito livre e tráfego reduzido propiciaram uma rápida chegada ao trabalho. Nove horas, lendo o relatório da Controladoria, entrou a Soraya, uma morena escultural do Contas a Pagar, por quem sempre nutri desejos bizarros. Avancei sobre seu corpo aos beijos e abraços. Combinamos e cumprimos almoçar juntos no Hotel Bangalô, de onde retornamos às quinze horas, em carros separados.

Voltei para casa não sem antes dar uma rápida passagem no Pub Beertija,  que serve as melhores cervejas vermelhas do mundo, importadas da Croácia, e principalmente servidas por Magdalena, uma estonteante e autêntica zagrebina. Trocamos olhares, carícias, beijos, telefones e promessas.

Ao entrar no carro, senti uma coisa estranha, pesada; as pernas não obedeceram, então veio um suor frio e dor intensa no peito. O braço esquerdo estava dormente, faltava o ar. Estou tendo um infarto, pensei - estou morrendo. Quero mexer, quero chamar alguém até que ouvi um som gutural muito esquisito. Morri? Será este o som do espaço sideral?

Voltei à realidade e acordei lentamente. Parecia um local familiar. Havia uma mulher fofa e nua sobre meu corpo. Pensei estar vivendo um episódio de algum sonho estranho, e tentei empurrá-la com o braço direito que estava solto. Ela demorou um pouco a responder ao estímulo. Saiu de cima de mim, não sem antes me apertar e me dar um beijo estalado e molhado na orelha. Rodou para o lado, e olhou-me com uma expressão entre raiva e indecisão..

- Onde estou? Perguntei. Estou morto? Você é minha anja da guarda?

- Armandinho, para com isto, larga a mão de ser bobo. Vou te dar uns tabefes mas antes saiba que você está bebendo demais. E quanto a morrer, não - você não está morto, mas eu ainda penso se vale a pena te matar.

- Você me conhece?

- Claro, sou eu, Carminha, sua esposa. Ontem fomos à festa da laje da Flotinha, lembra?

- Sinceramente ... não.

- Pois é, seu esponja, fomos lá e você deu o maior vexame. Depois de beber todas, saiu cambaleante dizendo que ia embora e pegou a sogra do Luizinho pela cintura, apalpou-a toda, sumiu com ela e te encontrei beijando a velha atrás da caixa d'água. Foi um trabalhão convence-la de que você era casado e estava bêbado.

- Eu?? A sogra do Luizinho??

- É, seu imbecil, a sogra do Luizinho, e depois disto tudo, ela ficou muito doida e foi nua para a sala, meu Deus, Armandinho, e você, tarado de tudo, partiu para cima dela daquele jeito inexplicável. Foi a maior cena de de horror que já vi na minha vida. Ficamos todos ali vendo aquele fato se suceder em cima da mesa.

- Carminha, nossa!!! É você mesma!! Agora lembro vagamente de tudo. Caramba, que dor de cabeça.

- Você tem algo a dizer em sua defesa, Armandinho?

- Sim, Carminha. Acordei com o braço todo dormente. Como você está gorda...

Aí não vi mais nada e vim parar neste hospital...  e daqui da cama, preso a fios e talas, vejo sobre a mesinha um cassetete sob um cartão onde se lê - Terapia do Amor Total!

É isto aí!

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