domingo, 4 de maio de 2014

No divã da Pitangueira - A vaca!


É tanta coisa, que nem sei mais por onde começar.

- Comece de algum ponto, marcante, determinante, que a trouxe aqui.
Não há um ponto específico. Beto já estava esquisito, estranho, sei lá. Começou a acordar com o despertador à três horas da manhã e me possuía de uma forma mais forte, digamos assim.


- Com violência?
É, um pouco. No princípio eu não gostava muito, mas com o passar do tempo a força foi ganhando elementos potencializadores, estimulantes, plug vibrador rotativo, anéis, e uma série de coisas outras, e uau, ficou indescritível.

- Com a sua permissão?
Sim, sempre, era cada vez mais tenso e ... gostoso ...

- Prossiga
Aí começaram os fetiches. Pediu que eu fantasiasse de palhaça. Vesti a fantasia, e pela primeira vez não fizemos nada. Ficou um tempão parado, olhando para mim, olhos fixos nos detalhes da fantasia, e... chorou.

- Conversaram sobre isto?
Não, achei que poderia ser apenas uma coincidência, e aí continuou pedindo outras fantasias básicas - secretária, ascensorista, bailarina, e eu adorava. Mas um dia pediu para que eu vestisse de costureira, e eu achei aquilo muito estranho.

- Como é isto?
Cabelo preso, sutiã largo, vestido com a cintura bem marcada, e grandes bolsos, fita métrica no pescoço, espuma em pulseira no punho esquerdo, sapato fechado. Mas chorou de novo. Fiquei arrasada. Achei que era comigo.

- E que havia de estranho?
Bem, o pai dele tinha sido palhaço de circo quando solteiro, e conheceu a mãe que era costureira, foi quando abandonou a vida circense e virou balconista de farmácia. Sabe, achei tudo esquisito.

- Humm, interessante. Sei, e aí?
Ficamos uma semana sem nada. Voltamos aos encontros das três horas, sempre com toques e retoques físicos e mecânicos, se me entende. Eram fantásticos, muita energia, muita agitação, tudo era frenético.

- Entendo, pode prosseguir.
Foi aí que um dia chegou em casa puxando uma... uma... meu Deus, nem consigo falar... desculpe, mas o choro é incontrolável...

- (silêncio)
Desculpa, mas não consigo parar de chorar... ele... ele.. trouxe uma... uma... puxa vida... como explicar isto?

- Trouxe exatamente o que para dentro de casa?
Uma vaca (choro). Ele trouxe uma vaca... (choros, gemidos e soluço)

- Uma vaca? Como assim? De plástico, inflável, de papelão, um painel?
Não, uma vaca de verdade, com chifre, sinete, peito farto e gorda, muito gorda.

- Sério?
Por que brincaria com isto? Era uma vaca e sabe o nome daquela vaca? Sabe o nome dela?

- (silêncio)
Catarina, o nome da vaca era Catarina.

- E este nome é importante para vocês? Fale mais sobre isto.
É a mãe dele que chama Catarina, ele chamava a vaca de mãe e queria que ela participasse da nossa rotina das três horas da manhã. Não aceitei nos primeiros dias, mas acabei cedendo, desde que ela ficasse só olhando. Mas a Catarina, digo, a vaca ficava lá me analisando, conferindo meus movimentos, mugindo e reprovando minhas atitudes, até que... até que... oh, meu Deus... por que? por que?... desculpe as lágrimas...

-  (silêncio)
Até que ele começou a insistir comigo de que aquela vaca deveria estar entre nós, na cama...

- E você?
Aí não aguentei, bati o pé, gritei, enlouqueci...

- E ele? falou alguma coisa?
Ficou com a vaca e me expulsou de casa...

É isto aí!  
  

2 comentários:

  1. Estimado Paulo Abreu!

    Vim deixar um abraço carinhoso,não sei porque cheguei aqui borocochô...e estou saindo rindo de orelha a orelha....srrsrrs tu és demaissssssss beijos
    veraportella

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Gratidão!